um músico
está de casaca e sanfona pendurada por ganchos no coração. e quando não tem ninguém para brigar, briga consigo mesmo. sim, tem gente que nasce para abrir a boca e comer pipoca em filmes da Discovery Kids, então...
ele trai a música para desistir de ser perdoado. desembrulha o novelo da algazarra em um piano que é aberto como alguém abrisse a tampa de um túmulo, e há tumulto lá dentro. por isso, às vezes canta com voz de mostro acalentando fogo e espinho. em outras ocasiões o canto é limpo igual um peixe de águas doces. o músico é um bicho com bem mais de sete ouvidos. e talvez haja dias em que carregue a Gertrude Stein dentro deles.
diz-se que suas canções podem trazer argumentos tão inteligentes que você vai pensá-los patéticos, e está explicado o que não pede explicação. também acham que são tristes suas melodias, mesmo as alegres, e se dane o carnaval. na verdade, umas não permitem nem que se dance assim agarradinho com nosso amor, pois começam acontecer umas coceiras esquisitas dentro do sangue. não que não permitam que se mova os quadris, claro que você pode fazer isso, mas e o risco de se dar nós em si mesmo?
vai que vai da galhofa ao batidão. do punk ao business. dos hits ao... ei-lo, carne boa no meio das autoridades industriais. algumas dessas canções falam de biscoitinhos com tarja magnética Américan Express. algumas sobre rush nas férias. mas não se engane, em sua obra, a efemeridade ronda e não aporta. como que numa rasteira, as músicas falam de dólares nas sunguinhas. falam daquelas coisas que são ditas no vestiário feminino. falam do sub-total mais o serviço com dez por cento incluído. falam dos miolos e do monóxido de carbono que mastigamos.
tem canções que funcionam como uma partida de ping-pong. e tem a imperfeição que todos almejam para a maturidade artística. uma mosca que abordasse o seu iPhone não sabe o que está perdendo. nós sabemos.