O pão brutal de ontem
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Uma tarde rachada. Quase a parte escura da cor fantasma, quase o lago fundo das paisagens do vermelho. Brumas afogam o apartamento. Aconteceu assim: Alguém o assassinou. Mas antes o fígado de Ramos filtra os labirintos da asfixia, antes mesmo que alcance as águas de fora do colchão. Ele está nu agora, como ontem igualmente esteve. Um travesseiro debaixo do quadril mantém empinada sua bunda. Os punhos amarrados na cabeceira da cama. E os tornozelos também amarrados. Um paladar outonal, não na língua, em sua pele. Espasmos, ele teve espasmos contínuos, prolongados. Agora o falecimento já não castiga Ramos, apenas o humilha sem que ele se dê conta, curra sem vaselina os olhos de quem o assiste na imobilidade. Formicida e cianureto no corpo, dentro e fora, foi assim que conduziram Ramos até esse estado. No sórdido motel, cacos de água caem do teto. Algumas horas atrás acontecia isso: A flanela aguda da sirene atravessando o blindex coagulado da surdez total de Ramos. E o IML estacionando em seu odor ainda quente unicamente porque o dia está insuportavelmente ensolarado e é verão. A camareira do motel assiste a tudo segurando o pavor entre dentes. Foi ela quem o encontrou aqui nessa situação terrível. Assim: Entrou no trabalho assobiando, bateu o ponto, arrumou a cozinha, a sala de estar, o escritório do chefe, tudo, quando foi trocar os lençóis do quarto 76, era isso. E agora mais isso e aquilo: Dois homens carregando uma bandeja na qual os mortos devem ser servidos, embrulhados por um saco plástico sem música e expressões, tudo tão diferente e disparatado do que foi a vida glamorosa do dono da rede de salões de beleza J. Ramos, que começou do nada e agora era alguém. No lugar das rodas da bandeja-maca há dois olhos pedregosos (serão os seus, leitor diário de páginas necrológicas?). Mas antes da maca, logo na sequência que se iniciou com a camareira em desespero correndo pelo motel em busca de ajuda, assim que descobriu Ramos morto, veio a ajuda dos vizinhos do motel, que atendiam aos gritos de socorro, meu deus do céu. Foi só depois que a Polaroid de um dos antiquados investigadores registrou tudo: o pão brutal de ontem, neblina, punhal nas costas. E outro agente, ainda gostando de comentar: Essas bichas velhas continuam nos dando trabalho.
Uma tarde rachada. Quase a parte escura da cor fantasma, quase o lago fundo das paisagens do vermelho. Brumas afogam o apartamento. Aconteceu assim: Alguém o assassinou. Mas antes o fígado de Ramos filtra os labirintos da asfixia, antes mesmo que alcance as águas de fora do colchão. Ele está nu agora, como ontem igualmente esteve. Um travesseiro debaixo do quadril mantém empinada sua bunda. Os punhos amarrados na cabeceira da cama. E os tornozelos também amarrados. Um paladar outonal, não na língua, em sua pele. Espasmos, ele teve espasmos contínuos, prolongados. Agora o falecimento já não castiga Ramos, apenas o humilha sem que ele se dê conta, curra sem vaselina os olhos de quem o assiste na imobilidade. Formicida e cianureto no corpo, dentro e fora, foi assim que conduziram Ramos até esse estado. No sórdido motel, cacos de água caem do teto. Algumas horas atrás acontecia isso: A flanela aguda da sirene atravessando o blindex coagulado da surdez total de Ramos. E o IML estacionando em seu odor ainda quente unicamente porque o dia está insuportavelmente ensolarado e é verão. A camareira do motel assiste a tudo segurando o pavor entre dentes. Foi ela quem o encontrou aqui nessa situação terrível. Assim: Entrou no trabalho assobiando, bateu o ponto, arrumou a cozinha, a sala de estar, o escritório do chefe, tudo, quando foi trocar os lençóis do quarto 76, era isso. E agora mais isso e aquilo: Dois homens carregando uma bandeja na qual os mortos devem ser servidos, embrulhados por um saco plástico sem música e expressões, tudo tão diferente e disparatado do que foi a vida glamorosa do dono da rede de salões de beleza J. Ramos, que começou do nada e agora era alguém. No lugar das rodas da bandeja-maca há dois olhos pedregosos (serão os seus, leitor diário de páginas necrológicas?). Mas antes da maca, logo na sequência que se iniciou com a camareira em desespero correndo pelo motel em busca de ajuda, assim que descobriu Ramos morto, veio a ajuda dos vizinhos do motel, que atendiam aos gritos de socorro, meu deus do céu. Foi só depois que a Polaroid de um dos antiquados investigadores registrou tudo: o pão brutal de ontem, neblina, punhal nas costas. E outro agente, ainda gostando de comentar: Essas bichas velhas continuam nos dando trabalho.
BuuuuuuenoooOooooOOooo, Lepre!
ResponderExcluirn.
Um pirueta, duas piruetas, BRAVO, BRAVO! ;)
ResponderExcluirn é você nina, nero, nenhum dos dois? obrigado de qualquer modo. bjs.
ResponderExcluircarol, valeu pela visita. e esses chocolates? quando for ao rio quero provar. bj.
lepre.
n de naravios, oras
ResponderExcluirnaravios, oras... agora eu sei. eu te admiro tanto. beijos. lepre.
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