em ensaio de Marcelo Issamu Deguchi
para divulgação do espetáculo Uyara Torrente em cena, durante o Festival de Curitiba 2009 fotografada por Leca Perrechil Ciliane Vendruscolo, Ana Ferreira e Kelly Eshima
Arte de Renata Skrobot
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A minha peça Na verdade não era, com direção de Nina Rosa Sá, estréia nesse quarta-feira (dia 05), no Teatro José Maria Santos, com o grupo Teatro de Ruído (http://teatroderuido.com.br/). As apresentações ocorrerão durante todo o mês de agosto, de quarta-feira à sábado, sempre às 20 horas, e domingo às 19 horas. O Teatro José Maria Santos fica na Rua 13 de maio, nº 655. O ingresso inteiro custa 10 e a meia 5 reais.
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Eis a ficha técnica:
Texto Luiz Felipe Leprevost
Direção Nina Rosa Sá
Elenco Kelly Eshima, Ana Ferreira
Ciliane Vendruscolo e Uyara Torrente
Figurino Renata Skrobot e Fabianna Pescara
Direção musical Leo Fressato
Assessoria de imprensa Daniel Starck
Arte material de divulgação Renata Skrobot
Produção Teatro de Ruído
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Em março, durante o Festival de Curitiba, o crítico carioca Daniel Schenker Wajnberg, enviado especial do Jornal do Commercio Brasil, em sua resenha de 27/03/2009, entrevistou nosso grupo. Ele colocou o sobrenome Ruski, que a Nina não usa. Claro que isso deve ter deixado os familiares dela felizes, mas onde estiver Nina Ruski, leia-se Nina Rosa Sá, que é como ela vem assinando seus trabalhos. Veja um trecho da matéria do Daniel Schenker:
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A diretora Nina Ruski apostou num contraste entre a feérica sucessão de acontecimentos do texto de Luiz Felipe Leprevost com a economia de movimentos e o direcionamento de olhar bastante preciso no trabalho das atrizes (destaque para Ciliane Vendruscolo).
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“Percebemos que não deveríamos fazer quase nada além de falar o texto porque já é fonte geradora de imagens. Quando mostramos uma parte na Mostra Cenas Breves ainda nos valíamos de muitos gestos. Sentíamos falta de uma orientação mais clara. Até que Leprevost trouxe Celina (Sodré) para dar uma oficina e ela nos falou sobre o encenador polonês Jerzy Grotowski”, conta Ciliane.
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“Ela chamou atenção para os exercícios espirituais de Santo Inácio”, complementa Nina, que, formalmente, investiu numa cena que pode evocar Samuel Beckett. “Mas um Beckett colorido, brasileiro”, opina Leprevost, que investiu numa escrita pessoal, diretamente voltada para as atrizes.
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“Houve preocupação com a construção formal, mas procurei não me esquecer da humanidade latente. Usamos dados pessoais como forma de enfrentar nossos medos. É uma escrita repleta de elementos autobiográficos, mas que vira ficção a partir do momento em que vai para o papel. Procurei me deter em questões, tais como será que vale a pena construir o outro como você gostaria ou mais vale compreendê-lo como realmente é?”, pergunta Leprevost.
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A diretora Nina Ruski apostou num contraste entre a feérica sucessão de acontecimentos do texto de Luiz Felipe Leprevost com a economia de movimentos e o direcionamento de olhar bastante preciso no trabalho das atrizes (destaque para Ciliane Vendruscolo).
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“Percebemos que não deveríamos fazer quase nada além de falar o texto porque já é fonte geradora de imagens. Quando mostramos uma parte na Mostra Cenas Breves ainda nos valíamos de muitos gestos. Sentíamos falta de uma orientação mais clara. Até que Leprevost trouxe Celina (Sodré) para dar uma oficina e ela nos falou sobre o encenador polonês Jerzy Grotowski”, conta Ciliane.
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“Ela chamou atenção para os exercícios espirituais de Santo Inácio”, complementa Nina, que, formalmente, investiu numa cena que pode evocar Samuel Beckett. “Mas um Beckett colorido, brasileiro”, opina Leprevost, que investiu numa escrita pessoal, diretamente voltada para as atrizes.
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“Houve preocupação com a construção formal, mas procurei não me esquecer da humanidade latente. Usamos dados pessoais como forma de enfrentar nossos medos. É uma escrita repleta de elementos autobiográficos, mas que vira ficção a partir do momento em que vai para o papel. Procurei me deter em questões, tais como será que vale a pena construir o outro como você gostaria ou mais vale compreendê-lo como realmente é?”, pergunta Leprevost.
Daniel Schenker Wajnberg
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Durante a Mostra cena breve, de 2008, quando levamos ao palco ainda o embrião do que seria a peça Na verdade não era, o crítico paulista Valmir Santos, no dia 13 de novembro, no blog da mostra, escreveu esse incentivo (copiei de uma resenha maior) que me fez pensar muito sobre o que estávamos e estamos fazendo:
A aposta de Nina Rosa Sá, a diretora, é escoar solto o pingue-pongue dessas mulheres de línguas e pensamentos afiados na dramaturgia de Luiz Felipe Leprevost. O autor roça oposição a Play, de Beckett, e suas três cabeças falantes, céleres e semi-enterradas em urnas. Aqui, a luz escancara; lá, na dramaturgia do irlandês, o breu é guiado por uma luz fulminante.
A aposta de Nina Rosa Sá, a diretora, é escoar solto o pingue-pongue dessas mulheres de línguas e pensamentos afiados na dramaturgia de Luiz Felipe Leprevost. O autor roça oposição a Play, de Beckett, e suas três cabeças falantes, céleres e semi-enterradas em urnas. Aqui, a luz escancara; lá, na dramaturgia do irlandês, o breu é guiado por uma luz fulminante.
.Valmir Santos
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Confira também fragmentos do texto Na verdade não era. Seguem:
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Fragmento do 1º ato
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Mas engraçado mesmo é esta guriazinha com roupas de boneca, bochechas rosadas com sardas, bracinhos angulosos, correndo atrás de um ônibus até alcançá-lo. U entra num ônibus. Não sem antes machucar os joelhos. U machuca os joelhos. Na calçada, um balde, chamas, fogo dentro do balde. Uma velha pede esmola. Recebe a esmola dos transeuntes. Pega as cédulas de dinheiro e joga dentro do balde. As cédulas viram fumaça. As moedas permanecem intactas. A velha bem que podia dizer A fumaça é minha paga para Deus. Exatamente, a velha diz A fumaça é minha paga para Deus. O fogo é forte e parece sorrir enquanto mastiga o dinheiro. U tropeça no balde. Sim, U tropeça no balde e machuca os joelhos. É. E a velha xinga U. Não. A velha cai na gargalhada. A velha não pára de gargalhar e dizer Viu como o dinheiro não é tão fiel assim à pressa! U sai correndo. Joelhos sangrando. Já sentada no ônibus U olha para a velha na calçada. Vê que a velha arrasta uma cauda de culpa, que mais se assemelha a cauda de um crocodilo. A velha arrasta aquela cauda com ela para onde for. E U vê os pregos de trinta centímetros pregados no rabo da velha. Os pés sujos e descalços da velha. Nenhum sapato? Borracha? Nada. A velha pisa na frigideira do asfalto e não faz nenhuma careta de dor. Se bem que o rosto da velha é todo ele o rosto da dor, isso se a dor tivesse um rosto só. São fiapos de manga aquilo ou é o cabelo da velha? É exatamente essa a indagação que U faz. U sentiu o fedor dessa velha. O fedor está com ela agora ali no ônibus. É um cheiro desses que afugenta ratos. U pensa que a boca da velha é podre que nem a boca de um abutre. Ui. A velha feiticeira. Todos temem a velha. E U, a tonta, tropeçou no balde amaldiçoado da velha. Cagada.
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Fragmento do 2º ato
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Se esses caras estão envolvidos é porque a situação é barra pesada. A situação é barra pesada. O Urso e seus olhos de vidro, dentes de ferro, duas mãos que mais parecem patas de elefantes que de urso. O Urso ergue o Detetive pelo colarinho. E chacoalha. O cérebro do Detetive é uma coalhada com mel. Só que mais amarga do que a da Confeitaria das Famílias. Por algum momento, quem vê a cena de fora pode até confundir o Detetive com algum bunda-mole. Mas quando o sangue entra em contato com outras substâncias... Nesse caso a raiva. O que acontece com quem está por perto, é de dar pena. Nem sequer se faz necessário que o Detetive use seu 38 série limitada. Fica calminha aí, neném. Fica calminha aí, neném, é o que pensa o Detetive enquanto afaga a arma no coldre. Provavelmente alguém está sentindo pena do Urso e do Manolo. Embora o Detetive espere que não, que ninguém esteja sentindo pena desses dois cretinos. Panacas. O quê? Panacas. Panacas o quê, quem?, não estou entendendo. Panacas, o Manolo e o Urso. É, panacas e não cretinos. Entendi, então, reformulando: Embora o Detetive espere que não, que ninguém esteja sentindo pena desses dois panacas. Bem melhor. É verdade, fica bem melhor assim. Então, continuando, depois de preparar a lavagem para porcos com as tripas de Manolo e Urso, o Detetive procura em seus bolsos algo que o leve aonde ele tem que ir. Aonde? Atrás de U.
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Dois fragmentos do 3º ato
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Então eu me perguntava: Por que não o Detetive?, o patético Detetive, por que não ele?, afinal, U, a quantas anda a tua capacidade de sorrir, erguer o ombro naquela tua ação bem costumeira, promover um meneio de cabeça e cativar as pessoas? Você não cativa mais porra nenhuma de ninguém. E é por isso que sei que faço parte desse exército de solitários que vive procurando nos tijolinhos qual dos espetáculos cumprem melhor a função de fazer com que o exército se imagine menos sozinho. A solidão, benzinho, é essa manada que tá aí. E eu faço parte da manada, mas nos intervalos, quando deixo um pouco de fazer parte, nos intervalos eu narro meus contos.
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Eu sou assim, entro solene, até que. Vim pra cá porque eu queria ser cantora. Cantar na noite. Gravar um disco pela Lei de Incentivo à Cultura. Eu venho de um lugar não tão distante. Eu venho de uma daquelas cenas nas quais podem ser apreciados vários tênis pendurados em fios de luz. Não, melhor, eu venho de um lugar que se você vacilar é um lugar mais longe ainda. Isso mesmo, eu venho de um lugar distante, eu venho da platéia. Pretendo avançar na história da humanidade lá aonde é humanamente impossível que alguém humano avance. ´Inda mais alguém como eu, uma guria de saia e chinelos, e já quase é inverno. É que as palmas das mãos suam frias. Eu quase que posso segurar as geadas nas mãos, entende? É como segurar um saco de gelo. As mãos queimam. E tem esse gosto ruim nas papilas gustativas, na língua, na boca, esse gosto de massinha de dentista. E é uma dor de dente do siso que vem querendo arrebentar lá atrás na gengiva. O dente do siso do meu coração de jacu do interior. Eu sou do interior. E pelo interior. E o avesso é revelar o que se quer esquecido.
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