apartamento, na rua o lobisomem late
alarmes disparam, o vento lambe
santinhos de publicidade no asfalto
a madrugada não é nem um pouco
generosa com nosso sono
é preciso dar a ela doses e mais doses de
palavras sujas, parágrafos apunhalados e
romances inteiros desterrados
escritos para derreter nas mãos dos
leitores feito a geada, a geada, a geada é
minha melhor amiga, a neve é que
não me conhece, aqui dentro é lá fora
uma alameda do Pilarzinho
e tudo se resume a isso: eu arrancar
um a um todos os pêlos do ursinho de
pelúcia do bebê da casa, com sua
nudez imaculada embrulhada em lã
lamentando uma Curitiba que nos
serve vivos para banquetes de quero-queros
ou então, a morte a nos rebatizar com gripe e
filas nos postinhos de saúde
para onde me arrasto, engatinho
e a geada conhece meus lábios, conhece o
vapor amargo que de dentro das veias exala
geada, geada, geada, geada, a geada é
minha amiga íntima, a neve é que
não me conhece, o frio, lascivo, não o espero
embora saiba que voltará, o frio, não dependo dele
mas rôo suas unhas, a geada é minha
melhor amiga, só não quero morrer sem
a certeza de que a neve não tem gosto de
algodão doce, por enquanto me embebedo
com doses e mais doses de palavras sujas
pulsando de tantas bocas com hálito de
nicotina, parágrafos apunhalados e
romances inteiros soterrados na neblina
escritos para ofender as mãos dos leitores
.
*espero que seja meu último
poema de inverno esse ano.
maldita gripe.
Logo, logo a primavera chega... e a gente (eu, no caso) começa a ter fé de que tudo fica, pelo menos, mais colorido.
ResponderExcluir(Este poema é lindo. Duro e lindo. Frio, duro e lindo)
Beijos
Fiquei boquiaberta! Que lindo teu poema...
ResponderExcluira primavera, carol... será a melhor primavera da minha vida, só sei isso.
ResponderExcluircarol rodrigues, obrigado... legal que cê veio aqui e curtiu.
bjs. lepre.