segunda-feira, 10 de agosto de 2009

o pão brutal de ontem

O amor que tu me tinhas
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J,
o amor que você tinha por mim era mesmo isso: um cachorro chupando limão. O amor que você me tinha era vigarista, assassino, alcaguete, bêbado, cocainômano, ladrão, filho da puta, filho da puta e puto. O amor que você tinha por mim era desses em que tipos sérios se tornam patéticos, tipos elegantes se tornam sórdidos. Meninos de família como você se tornam ordinários tarados. E as carícias são o que mais violenta. E a violência ou a pateticidade cômica são as únicas coisas no que se crê. Nesse amor absurdo, o amor que você tinha por mim, tudo o que era importante passa a ter mais importância, por isso se torna, nos tornava, ridículo, ridículos. Nesse tipo de amor, Júnior, bocejos se abrem como cicatrizes. Cochichos são uma espécie de veneno nos tímpanos. Risadas são latidos, uivos, mordidas. Esse amor... Aliás, esse não, aquele, aquele que acabou, que não existe mais. Aquele amor era mesmo um cachorro mastim, um lobisomem, um poema do Aldir Blanc, um conto do Marcelo Mirisola, esses caras que você vive lendo. Aquele amor era indecente, obsceno, zombeteiro, enganador, será que cê consegue entender? O amor que tu me tinhas era um perdigueiro apelativo. Era faca de cirurgião imperito, inconsequente, operando sem anestesia. Era um amor rústico, grosseirão, truculento, filho da puta, filho da puta e puto. E eu sei que é justamente por isso que algumas mulheres se rasgam por ele, pelo amor, por você. Mas eu... a tua guriazinha submissa... não que eu não... Não posso dizer que também não tive culpa nessa, naquela, doente, intragável relação. Só o que eu estou tentando dizer é que... Eu... Eu ainda não posso tirar os curativos dos incontáveis talhos espalhados pelo corpo. Mesmo assim, Ju, nunca mais serei a tua cadelinha. Rita.

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