Nesse verão a piscina é nossa
Eu só assisti. Não me pronunciei. Fiquei com medo de que me pegassem para Cristo. Além do mais, só a diretoria ou os ilustríssimos conselheiros têm o direito de se pronunciar nessas reuniões. Nem sei se nós sócias, pobres mortais, temos autorização para assistir as argumentações. Que se dane, eu entrei, sentei, fiquei quietinha no meu canto, apesar de que falaram tanta asneira... fiquei revoltada, principalmente com um velhote com bigodes queimados de nicotina. Toda vez que ele pedia a palavra, introduzia sua fala fazendo alguma gracinha idiota. Deve ser o piadista oficial do salão de sinuca ou da cancha de boliche. “Agora me elucidem, caros colegas, é mesmo uma dúvida terrível que trago comigo me martelando a curiosidade: Lésbicas menstruam?, hahahaha.” Piadista escroto de merda. Deve ter trauma de buceta, já imaginou o bigodão dele todo vermelho? Hahaha, agora quem ri, com desdém, sou eu, Sr. Engraçadão! Em meio a tanta baboseira e um ou outro sócio inflamado ao defender os “nossos” direitos, acabou que a maioria votou contra. Foi isso: Casais homossexuais não serão aceitos como sócios de um dos mais tradicionais clubes da cidade, ora, onde já se viu!? “Mas e os casais gays que já são sócios?”, perguntou a mocinha da cadeira ao lado da minha. “Bem... eles... é...” Depois emendou outra: “E os veados que não são casados, mas são sócios, e não arredam o pé da sauna?” “Esses... é... veja bem... claro que...”, engasgou-se o relator da assembléia. Minha querida, ouvi absurdo atrás de absurdo ontem à noite. “Onde já se viu, um clube sério permitir uma barbaridade dessas e blablablá?”, esse tipo de frase, repetida mais de oitenta vezes, até onde contei, digo, antes de me cansar, foi o mais leve e educado que os sócios diretores e conselheiros pronunciaram. Se você tivesse presenciado... bando de velhos retrógrados. Posso imaginá-los na sauna, a bolsa escrotal mais murcha que um, sei lá, me dá ânsia só de... “Senhores, imaginem nossos netos na piscina, no verão, e um casalzinho desses se malhando”, falou um dos mais exaltados. Um outro tirou sarro: “E a tua mulher, dividindo o vestiário com um Roberta Close, já pensou?” “Êee, camarada, a Roberta Close, pelo que tenho presenciado aqui no clube, é bem mais bonita que a maioria das nobres e elegantes esposas da maioria dos associados”, disse e riu um quarto cidadão, o baixinho que nunca sai da tal da Toca, aquele antrozinho engordurado onde meia dúzia de misóginos alcoólatras contumazes se encontra, no mínimo três vezes por semana. Ah, quer saber, deixemos como está, a gente continua fazendo o que sempre fez, eles não vão ser capazes de barrar duas amigas com mensalidade em dia, carteirinha com foto atualizada e exame médico impecável. Nesse verão a piscina é nossa.
Eu só assisti. Não me pronunciei. Fiquei com medo de que me pegassem para Cristo. Além do mais, só a diretoria ou os ilustríssimos conselheiros têm o direito de se pronunciar nessas reuniões. Nem sei se nós sócias, pobres mortais, temos autorização para assistir as argumentações. Que se dane, eu entrei, sentei, fiquei quietinha no meu canto, apesar de que falaram tanta asneira... fiquei revoltada, principalmente com um velhote com bigodes queimados de nicotina. Toda vez que ele pedia a palavra, introduzia sua fala fazendo alguma gracinha idiota. Deve ser o piadista oficial do salão de sinuca ou da cancha de boliche. “Agora me elucidem, caros colegas, é mesmo uma dúvida terrível que trago comigo me martelando a curiosidade: Lésbicas menstruam?, hahahaha.” Piadista escroto de merda. Deve ter trauma de buceta, já imaginou o bigodão dele todo vermelho? Hahaha, agora quem ri, com desdém, sou eu, Sr. Engraçadão! Em meio a tanta baboseira e um ou outro sócio inflamado ao defender os “nossos” direitos, acabou que a maioria votou contra. Foi isso: Casais homossexuais não serão aceitos como sócios de um dos mais tradicionais clubes da cidade, ora, onde já se viu!? “Mas e os casais gays que já são sócios?”, perguntou a mocinha da cadeira ao lado da minha. “Bem... eles... é...” Depois emendou outra: “E os veados que não são casados, mas são sócios, e não arredam o pé da sauna?” “Esses... é... veja bem... claro que...”, engasgou-se o relator da assembléia. Minha querida, ouvi absurdo atrás de absurdo ontem à noite. “Onde já se viu, um clube sério permitir uma barbaridade dessas e blablablá?”, esse tipo de frase, repetida mais de oitenta vezes, até onde contei, digo, antes de me cansar, foi o mais leve e educado que os sócios diretores e conselheiros pronunciaram. Se você tivesse presenciado... bando de velhos retrógrados. Posso imaginá-los na sauna, a bolsa escrotal mais murcha que um, sei lá, me dá ânsia só de... “Senhores, imaginem nossos netos na piscina, no verão, e um casalzinho desses se malhando”, falou um dos mais exaltados. Um outro tirou sarro: “E a tua mulher, dividindo o vestiário com um Roberta Close, já pensou?” “Êee, camarada, a Roberta Close, pelo que tenho presenciado aqui no clube, é bem mais bonita que a maioria das nobres e elegantes esposas da maioria dos associados”, disse e riu um quarto cidadão, o baixinho que nunca sai da tal da Toca, aquele antrozinho engordurado onde meia dúzia de misóginos alcoólatras contumazes se encontra, no mínimo três vezes por semana. Ah, quer saber, deixemos como está, a gente continua fazendo o que sempre fez, eles não vão ser capazes de barrar duas amigas com mensalidade em dia, carteirinha com foto atualizada e exame médico impecável. Nesse verão a piscina é nossa.
é novo, né?
ResponderExcluirsábado é dia da visibilidade lésbica. podia ter sugerido uma ação nos clubes tradicionais, mas ficou meio tarde. ^^
é mais ou menos novo. sábado é dia da visibilidade lésbica? mais visibilidade ainda? pra onde olho só tem garotas se amando, rs. bjs. lepre.
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