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Sim, você existe. E eu te adoro. Porque você é enorme eu te adoro. Há boatos de que você depois da meia-noite tem pés redondos. Fico acordada até três da manhã. De tocaia. Você sai, podre e trôpego, você sai do Bar Ramone. É um lugar inóspito, em Pinhais. Eu vou atrás de você, na moita. Nem sei como você sabe o caminho de casa, de tão bêbado. Ainda mais naquela escuridão. Quando você sai da rua principal e entra atrás da estação do trem, tenho uma sensação ruim, você está indo pelo caminho que eu quero que você vá, parece que eu estou guiando o teu espírito encharcado de álcool. Você anda mais duzentos metros e vira a esquerda, nenhum poste de luz na rua. Faz tempo que não chove, a rua está que é um areão só. Você começa a andar mais devagarzinho. Eu me aproximo, posso confirmar, sim, você nas madrugadas tem mesmo pés redondos como de elefantes filhotes. Chamo teu nome. Você se vira: É você polaca? Você existe. A faca destruindo teu pescoço faz um som de sim sou eu, a tua polaca, um som que é abafado por seus guinchos de elefante lutando para não morrer. Você segura com unhas o meu braço. A faca cai na areia seca. Eu me arrasto na direção dela. Você tenta me puxar pelo pé, me arranha, rasga minha blusa ensanguentada. Alcanço a faca. Volto e começo a dar punhaladas em você, uma depois da outra, velozes, com raiva, gritando: Morra filho da puta! Você morre. Silêncio sepulcral, e você não será enterrado. Me refaço. Acaricio a tua testa, saliências sutis do lado esquerdo e do direito, não tão simétricas assim. Me ponho a serrar teu pinto. Ele é fibroso, difícil de cortar. Rasgo um pedaço da tua camisa e enrolo o pinto nela, depois guardo no bolso da minha calça. Então descubro que você pesa uma tonelada a mais de quando estava vivo, quando te arrasto até a valeta. Você rola, todo torto, desengonçado, pelo barranco, cai quase sem fazer barulho na água, e afunda. Jogo areia em cima do rastro de sangue que ficou na rua, misturo bem. Volto para casa. Lavo as mãos, a faca. Lavo teu pinto, esvazio um pote de geleia na pia, lavo o pote. Depois coloco o pinto dentro, tampo e guardo na geladeira. Queimo as roupas. Tomo um banho. E choro debaixo do chuveiro. Tenho um ataque, uma convulsão, penso em me matar. Falo para o espelho: Puta rampeira, vaca vadia, escrota de merda, nojenta nojenta, piranhuda arrombada, cadela cadela cadela, putaça ordinária. E é o que sou. O que eu sempre fui. E eu te adorava. Então se passam três dias. Dentro do pote de geleia, o que era grande agora é um fiapo de pele enrugada. Um cachorro passa do lado de fora da janela, jogo para ele o que foi teu pinto um dia. Três dias faz que te assassinei a sangue frio. Penso: Algumas pessoas já devem estar sentindo a falta dele. Alguém virá atrás. Eu vou dizer que não sei de nada, que ele sumiu, que não me procurou mais. Eu sei, eu sei, vai ser exatamente assim: Duas meninas estão brincando na rua da valeta e presenciam urubus mordendo tua carniça. Elas fogem dali, horrorizadas. Até que finalmente chegam os moradores do bairro, eles estão indignados, querem me linchar. Na sequência aparece a polícia. Vai ser assim, eu sei, caralho, vai ser. Para eu ir parar na cadeia é só questão de tempo. Que se foda, penso e espero. Dá dois minutinhos e é a polícia então em minha casa, parecia que eu estava adivinhando. Eu sei, eu sei, eu (...) Eu tive esse pesadelo, Pedro, fiquei muito assustada, eu não sou assim, você sabe, eu sou boa, a tua mulherzinha, que fica te esperando. O jantar está pronto, é só colocar no micro-ondas. Quando você chegar vamos abrir um vinho. Eu quero comemorar esse dia, eu quero comemorar com você dentro de mim. Eu te adoro, você sabe, eu te adoro porque você é enorme. Eu quero comemorar, meu aniversário está chegando, é daqui a pouco, depois da meia-noite, onde está você?
Sim, você existe. E eu te adoro. Porque você é enorme eu te adoro. Há boatos de que você depois da meia-noite tem pés redondos. Fico acordada até três da manhã. De tocaia. Você sai, podre e trôpego, você sai do Bar Ramone. É um lugar inóspito, em Pinhais. Eu vou atrás de você, na moita. Nem sei como você sabe o caminho de casa, de tão bêbado. Ainda mais naquela escuridão. Quando você sai da rua principal e entra atrás da estação do trem, tenho uma sensação ruim, você está indo pelo caminho que eu quero que você vá, parece que eu estou guiando o teu espírito encharcado de álcool. Você anda mais duzentos metros e vira a esquerda, nenhum poste de luz na rua. Faz tempo que não chove, a rua está que é um areão só. Você começa a andar mais devagarzinho. Eu me aproximo, posso confirmar, sim, você nas madrugadas tem mesmo pés redondos como de elefantes filhotes. Chamo teu nome. Você se vira: É você polaca? Você existe. A faca destruindo teu pescoço faz um som de sim sou eu, a tua polaca, um som que é abafado por seus guinchos de elefante lutando para não morrer. Você segura com unhas o meu braço. A faca cai na areia seca. Eu me arrasto na direção dela. Você tenta me puxar pelo pé, me arranha, rasga minha blusa ensanguentada. Alcanço a faca. Volto e começo a dar punhaladas em você, uma depois da outra, velozes, com raiva, gritando: Morra filho da puta! Você morre. Silêncio sepulcral, e você não será enterrado. Me refaço. Acaricio a tua testa, saliências sutis do lado esquerdo e do direito, não tão simétricas assim. Me ponho a serrar teu pinto. Ele é fibroso, difícil de cortar. Rasgo um pedaço da tua camisa e enrolo o pinto nela, depois guardo no bolso da minha calça. Então descubro que você pesa uma tonelada a mais de quando estava vivo, quando te arrasto até a valeta. Você rola, todo torto, desengonçado, pelo barranco, cai quase sem fazer barulho na água, e afunda. Jogo areia em cima do rastro de sangue que ficou na rua, misturo bem. Volto para casa. Lavo as mãos, a faca. Lavo teu pinto, esvazio um pote de geleia na pia, lavo o pote. Depois coloco o pinto dentro, tampo e guardo na geladeira. Queimo as roupas. Tomo um banho. E choro debaixo do chuveiro. Tenho um ataque, uma convulsão, penso em me matar. Falo para o espelho: Puta rampeira, vaca vadia, escrota de merda, nojenta nojenta, piranhuda arrombada, cadela cadela cadela, putaça ordinária. E é o que sou. O que eu sempre fui. E eu te adorava. Então se passam três dias. Dentro do pote de geleia, o que era grande agora é um fiapo de pele enrugada. Um cachorro passa do lado de fora da janela, jogo para ele o que foi teu pinto um dia. Três dias faz que te assassinei a sangue frio. Penso: Algumas pessoas já devem estar sentindo a falta dele. Alguém virá atrás. Eu vou dizer que não sei de nada, que ele sumiu, que não me procurou mais. Eu sei, eu sei, vai ser exatamente assim: Duas meninas estão brincando na rua da valeta e presenciam urubus mordendo tua carniça. Elas fogem dali, horrorizadas. Até que finalmente chegam os moradores do bairro, eles estão indignados, querem me linchar. Na sequência aparece a polícia. Vai ser assim, eu sei, caralho, vai ser. Para eu ir parar na cadeia é só questão de tempo. Que se foda, penso e espero. Dá dois minutinhos e é a polícia então em minha casa, parecia que eu estava adivinhando. Eu sei, eu sei, eu (...) Eu tive esse pesadelo, Pedro, fiquei muito assustada, eu não sou assim, você sabe, eu sou boa, a tua mulherzinha, que fica te esperando. O jantar está pronto, é só colocar no micro-ondas. Quando você chegar vamos abrir um vinho. Eu quero comemorar esse dia, eu quero comemorar com você dentro de mim. Eu te adoro, você sabe, eu te adoro porque você é enorme. Eu quero comemorar, meu aniversário está chegando, é daqui a pouco, depois da meia-noite, onde está você?
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