quarta-feira, 28 de julho de 2010

manual de putz e pesares

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Quem é ingênuo?
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Ela decide matar o Senador ela sabe que não passa de
uma mulher de salto alto, reumática, de cinta-liga e
com estrias, viciada em notas de 50 e em pagar boquete para
poderosos debaixo da mesa, no escritório
às 10 da manhã a pior coisa que fez em toda sua vida foi
ter se mudado para Brasília afim de continuar
prestando serviços ao Senador ela sabe que não
passa de uma embarcação pirata singrando o
macio das línguas de outros engravatados em
boates com espelhos no teto e sofás vermelhos quando
já acabou o expediente ela não almeja dores, mas sustenta
o câncer da praticidade bebe doses de tardes
derrubadas nos fundos dos edifícios, desavisada, entre latões
de lixo, restos de comida e as entranhas dos
gatos sarnentos mais combalidos, é péssimo
o lugar em que mora ela decidiu que vai mesmo fazer
isso que está indo fazer ela desistiu de tudo, de tanto que
dinheiro compra dinheiro, de tanto que o que reluz retém o
escuro, de tanto que se fosse uma atriz
de cinema bastaria Don Corleone estalar os dois dedos
indicando quem deve fazer o serviço e quem vira
comida de verme por isso adoeceu a valer ela
compreendeu que o que sobra relampeja e agora
o que a seduz é uma Beretta 92 que ela viu na
internet empunhada com firmeza isso, e não seus sonhos
de felicidade é hoje e agora ela vai arrasar já está no
apartamento do Senador em pensamento reproduz um
diálogo tirado de um filme que assistiu
tem muito tempo: Você é ingênuo, senadores e
presidentes não matam faltam dois minutos para
as 8 horas quando ela entra no quarto
do Senador ele ainda dorme é uma sexta-feira
Quem é ingênuo, Kay? esse é um diálogo que ela
gosta, dá coragem para fazer o que está fazendo o
Senador não quer acreditar, mas quem disse que há
tempo para o espanto? Você? Eu mesma ela fez um
pacto, agora chegou sua vez não é ela quem dá o
beijo na boca do Senador sussurrando Você é meu, mas o cano
da arma ouve-se o tiro ela está tranquila só não
sabe em quem votar nas próximas eleições.

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