segunda-feira, 22 de novembro de 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

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Está sendo lançado o novo número da sensacional revista Coyote. Coyote 21. Nesta edição nos deleitam, inspiram e fazem mais sensíveis e inteligentes textos dos meus irmãos de fé Ivan Justen Santana http://ossurtado.blogspot.com/ e Mario Domingues, ladeados por Franz Kafka, João Gilberto Noll, Raymond Chandler, entre outros talentos das artes. Contando ainda com homenagem mais do que especial ao escritor Wilson Bueno.
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“A poesia contorna a Economia. É criação improdutiva como a Festa, o Amor. Não é mercadoria, ignora o interesse, está à margem do calculo” - escreve Jair Ferreira dos Santos em seu ensaio inédito, O Pavão é uma Galinha em Flor, publicado no novo número da revista Coyote que ganha as livrarias do Brasil esta semana.
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Editada em Londrina (PR), a edição traz um conto inédito do escritor gaúcho João Gilberto Noll e uma entrevista com a crítica norte-americana Marjorie Perloff. Julgando boa parte da poesia escrita hoje de "prosa preguiçosa", Perloff dispara: "Minha principal crítica hoje é em relação a falta de interesse no aspecto sonoro e visual da maior parte da poesia que aparece sobre minha mesa".
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Coyote 21 apresenta ao público brasileiro a poesia radical do espanhol Leopoldo María Panero, traduzido por Vinícius Lima, e aforismos de Frank Kafka, traduzidos por Silveira de Souza. A revista traz também a poética de Mariana Ianelli e apresenta a literatura de Ivan Justen Santana e Mario Domingues, dois novos talentos da poesia paranaense, além de um conto do londrinense Marco Fabiani.
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A publicação também traz poemas e narrativas de dois livros inéditos deixados pelo escritor curitibano Wilson Bueno, brutalmente assassinado em maio deste ano. Fotografias da série Autodesconstrução, da artista pernambucana Priscilla Buhr, complementam a edição.
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A revista Coyote prossegue abrindo espaço para novos autores, resgatando e apresentando nomes importantes das letras e das artes, de épocas e lugares diferentes, instigando a reflexão e a criação literária. A revista é patrocinada pelo PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) da cidade de Londrina e editada pelos poetas Ademir Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes.
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COYOTE 21 // 52 páginas // R$ 5,00 (Londrina) e R$ 10,00 (outras cidades). Uma publicação da Kan Editora. Distribuição nacional Editora Iluminuras.
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Vendas em livrarias de todo o país pela Editora Iluminuras – fone (11) 3031-6161. Pode também ser adquirida pela internet através do site www.iluminuras.com.br.
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Contatos losnak@onda.com.br / zonabranca@uol.com.br / rgarcialopes@gmail.com
Fone (43) 3334-3299 / (43) 3322-2115 / (11) 3731-3281

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

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Ninguém é insubstituível. Trabalhar para ser insubstituível. Se vai conseguir? Haver ou não alguém na fila, ou mesmo você estar em uma, responderá – ninguém é insubstituível. Mas, sim, já conheci pessoas insubstituíveis. E, acredite, elas eram mais sós do que as outras. Porém, a gente notava que não havia nenhuma ingenuidade, vaidade, arrogância, falta de consciência ou arrependimento em suas solidões. Na maioria dos casos, aliás, havia beleza. Mas mesmo essas pessoas morreram ou morrerão um dia – para a ordem do universo, ninguém é insubstituível (e nem mesmo tal conceito existe), por mais que a morte não garanta qualquer sucessão. Então que se dane. De um jeito ou de outro, ciente que atua também na vida o imponderável e que a luta já está perdida, trabalhar para ser insubstituível.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

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Afrodite não tem autores prediletos, mas cenas prediletas de peças que nunca leu até o fim. Afrodite não tem pratos preferidos, mas lanchonetes onde julga haver sandubas bem servidos e saudáveis. Afrodite não devolve meus discos, nem me deixa cortar os pulsos de manhã depois que a ouço cantar um repertório que conheço tão bem como se eu mesmo o tivesse composto com meus três acordes. Afrodite e seus olhos que dizem sempre a verdade não custa caro pra quem sabe mentir. Suas idéias infantis me comovem bem mais do que a filosofia. Contorno suas tetas, barriga, bunda, coxas, panturrilhas. Sua beleza tem o efeito de monomanias em mim. Reparo nos seus dentes e me pergunto se o segredo está em fazê-la sorrir. Enquanto Afrodite sorrir tudo ficará bem, caso contrário, imediatamente borrado, com trevas injetadas nas veias.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sexta-feira (05 de novembro) abro o show da banda carioca Os outros, no Wonka. Esse vídeo meu tem um pouco do barulho que pretendo fazer por lá. E quem quiser conferir o trampo d´Os outros vai aqui http://www.myspace.com/osoutros ou aqui http://www.youtube.com/watch?v=9Pewg8cYmcI.

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Corpo a corpo com o carniceiro 3
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covarde, covarde
covarde, covarde, covarde
covarde, merda
acho que eu queria pouco
bem pouco
sei lá, comer cupcake na Praça Espanha
num sábado de primavera
descer o rio Nhundiaquara de bóia
mas você...
você nem isso
sabe de uma coisa, ou você nasce com uma bela voz
ou desenvolve uma bela voz
mas você é um covarde
fica aí tomando chá de maçã com canela
desde que parou de ficar bêbado feito um gambá
sem se dar conta do pecado original irremediável
merda
por falar nisso, você já compôs uma das tuas
em homenagem ao gambá?
puta que pariu, cadê o meu remédio?
não fica me olhando com essa cara de fashion-vítima
com o coração no olho
não sou o que você...
você por acaso já viu uma auréola em volta da minha cabeça?
você nunca...
você nunca devia ter me dito palavrinhas amenas
simples e diretas sobre os teus sentimentos
eu não sirvo para musa, Dr. Museu da canção
eu não quero que aconteça
não mais
se eu encostar este dedo em você
primeiro, eu coloco o diabo no teu corpo
depois, você cai fulminado
isso, ri, ri mesmo
vai rindo
você não faz a menor ideia de com quantas pessoas
eu já trepei
você nem...
eu comecei muito nova
é que eu sempre achei que os seres humanos deviam ser
especialistas em seres humanos
e você, não acha
que os seres humanos deviam ser especialistas
em seres humanos?
então
eu não sou o que você construiu
não mesmo
lembra que um dia a gente foi assistir uma peça de teatro
e no final você me disse: achei super radical
e eu: radical o quê?
radical é empinar a roda da frente da bicicleta
mas você não é capaz pedalar nem mesmo um pedalinho
no Parque Barigüi
e era só o que eu precisa
um pouco de romantismo, sabe
mas então
eu não sou o que...
radical, né?
você quer radicalismo
ponha uma mulher na vitrine
olhe do outro lado da rua
xingue ela do quiser
ponha uma vaca na vitrine, com cabresto e tudo
ponha a tua putinha na vitrine
hein, que tal isso?
hein?
diz, diz que eu sou a tua putinha
jogue pedra
apedreje a vitrine
sou eu em cacos o vidro estilhaçado
o sol batendo nos cacos e refletindo, ferindo teus olhos
teu coração nos olhos
pise em mim com os pés descalços
me humilhe
me xingue de prostigaliranha
hein, eu sou, a tua prostigaliranhazinha?
olhe no meu olho e diga
no meu coração no olho e diga
eu fui um erro?
claro que fui
o que você queria?
o que foi que falhou no continho de fadas?
essa é uma história de esquartejamento, mordidas
e deglutição, meu chapa
sabe, você devia compor alguma coisa
em minha homenagem
um réquiem
réquiem para um frango à passarinho
um frango à passarinho, é como eu
me sinto, Sr. Sentimentos Sinceros
é, porque eu sou uma galinha
não sou, a tua?
diz que sim
eu preciso do diabo no sangue
eu dormi em camas erradas
e agora tudo que posso oferecer
é essa espécie de trash food em que me transformei
não sou mais o prato principal
agora sou este troço que não orna
tipo galeto com DJ
tá na hora do meu remédio
eu sei que você escondeu no bolso
cadê?
não bastam as suturas para impedir
que os membros doam
me dá, preciso dos comprimidos
dá aqui
me dá essa porra logo, caralho
(ele dá o potinho com os comprimidos para ela
ela engole dois
)
fashion-vítima
essa foi boa
as vacas e as galinhas são totalmente estúpidas
elas não desistem nunca
sabe, há muitos modos de se ferir alguém
e várias maneiras de se fazer um curativo
e no entanto, existem apenas dois tipos de esparadrapo
o que não gruda e o que não solta
você não acha que isso, de algum modo
tem a ver com o amor?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

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Corpo a corpo com o carniceiro 2
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músico é foda
sabe, sou alguém que gosta de contemplar a natureza
tomei gosto pela ecologia acho que por causa das viagens
com meus pais
dos 11 aos 14 morei na África
dos 14 aos 15 no Havaí
dos 15 aos 17 fiquei com eles na Amazônia
morar nesses lugares era o trabalho do meu pai
ele era engenheiro de uma empresa que...
só sei que meu era super patriota
a gente saudava a bandeira brasileira uma vez por semana
estivéssemos no país que fosse
papai era muito patriota, yeah, yeah, yeah
mas não quero falar disso
seria complicado
eu tenho a saudade frágil
além do mais, não é nada edificante para uma criança
viver cercado de selvageria por todos os lados
e, no entanto, enclausurado numa beleza infantil
rico, nobre, esnobe, tomado de sofreguidão
jamais aprendi a surfar, por exemplo
mas não quero falar dessas coisas
de tudo me ficou de bom o amor que tenho pela natureza
e os passeios que não fiz de bicicleta pelo norte de Oahu
as deliciosas saladas com cogumelos shimeji
kani kama, molho pesto de salsinha, manga e abacaxi que
comi contrariado
músico é foda
sabe, eu não posso não cantar
adoro compor canções que falam sobre animais
uma das minhas preferidas é a que fala de cangurus
sua condição marsupial
o feto sendo formado dentro da barriga rasgada
e o canguruzinho ainda sem olhos, sem orelhas, sem patas definidas
a pele fina, frágil, transparente
e vai aos poucos se desenvolvendo
um dia já tem pelos
noutro, já tá dando uns saltos por aí
procurando fêmeas em quem
eu tenho muito prazer em fazer essas canções
mas vivo me perguntando se é possível afagar as pessoas
com melodias e palavras
se de fato as baladas românticas podem, de algum modo
substituir o carinho das mãos encostando no rosto
da pessoa que você ama
porque o amor exige no mínimo a palma das mãos
só depois do início pelo tato chegamos em lugares
mais ousados do percurso
como esfregar os dentinhos da frente, roedores
assim bem de leve no clitoris dela
e passar a língua em círculos em volta do ânus
e deixar ela urinar na nossa boca
enquanto num 69 ela nos faz uma gulosa
intercalando com o Beijo Grego
sabe, quando eu canto, mesmo que não tenha niguém ouvindo
quando eu canto sinto doer a raíz dos cabelos
os olhos inflamam como que acometidos por conjuntivite
doe por baixo das unhas
doem os dentes
não foi à toa que fiquei bêbado dos meus 14 aos 25 anos
que estive destroçado dos 25 até hoje
não sei se sou romântico o bastante
não consigo ser um deles, mas tenho simpatia por caras
com penteados tribais e roupas estravagantes
e pela ideia da ciclomobilidade
e por casais dançando descalços
pisando nos salgadinhos e doces no fim do baile de debutantes
ou talvez eu devesse estudar rabeca no Conservatório
largar tudo e ir morar no Superagüi, vigilante da fauna e da flora
ou então meter uma bala nos miolos
você acha isso romântico o bastante?
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Corpo a corpo com o carniceiro 1

Sabe, nosso ouvido devia vir com um mecanismo que nos tornasse incapazes para ouvir determinadas combinações de palavras. Há frases que desejam nosso pior mal.

Suporta. Suporta até esquecer.

Não deviam chegar pra você e dizer Fulana chupou o pau de sei lá quem. Principalmente se Fulana é a garota que você ama. Um amigo não devia dar em cima dela na tua frente. A garota que você ama não devia chupar o pau de um amigo teu. Ele não devia dar as bolas pra ela como fossem chupetas. Não devia esfregar os dedos no grelo dela. Socar e esporrar no cu dela. E depois fazer questão que você fique sabendo. Com todos os detalhes sórdidos. Não devia ser assim. As palavras deviam recusar a semântica numa hora dessas. Ninguém devia ser inteligente demais pra ouvir um troço desses e interpretar. As mulheres gostam desses filhos da puta. Ficam loucas com essa espécie de corpo a corpo com o carniceiro. Você...

Eu...

Teu corpo é bonito.

Obrigada.

Sabe, tem caras que têm que pagar pra ter uma mulher.

Você também pagou pra me ter.

Mas não pra meter, kkkk.

Pagou com obsessão.

Com a dependência. Mas não tem a ver com entranhas.

Sempre tem a ver com entranhas. E o pior não chegou.

E eu já me envergonho tanto.

Não precisa.

Seria bom não precisar.

Quando começou?

Quando ouvi você dizendo: Ele é o menino mais algodão doce que já conheci.

Nunca tinha tido alguém em quem pudesse caminhar por dentro à vontade, com os pés descalços.

Eu não quero ser o menino algodão doce.

Não dá pra escolher.

Quero ser o carniceiro.

Não dá pra esco...

QUERO SER O CARNICEIRO.

De que modo?

Não sei, mas com certeza não apenas com o que está ao alcance das mãos.

A gente não tem instinto quando bem entende.

Vamos foder, meu pau tá explodindo.

Não enche o saco.

E você, também se sente a pior do mundo com frequência?