terça-feira, 13 de março de 2012

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foto Thiago Negris
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nessa história haverá passarinhos de fumaça que são as conversas entre mim e meus primos em Pontal do Sul, olhando o colossal movimento dos navios entrando e saindo da baía em noites salpicadas de estrelas. noutro dia, ao amanhecer, a menininha vasculhará a cabana do velho e ele deverá interromper o café da manhã na varanda dizendo, com toda a sua experiência de médico: olha o beija-flor, ele é capaz de bater mil vezes as asas sem se deslocar um milímetro sequer. e essa frase como que vai curar os meus olhos poluídos de cidade grande. e estarei trazendo pacotinhos de deserto (horizontes esquecidos lá dentro) nos bolsos. depois, alguns capítulos se passarão também em madrugadas quentes de verão no bairro em que moro, onde (ainda não terei usado essa imagem o suficiente) postes estarão dormindo igual sonâmbulas girafas com olhos-lâmpadas quebradas. e meus olhos já terão ficado incapazes de lágrimas. também, às vezes, engolirei o choro e o sal da mágoa fará subir minha pressão. e eu, tonto, vou cair da cama e aí já não será mais verão e a minha imunidade estará baixíssima. além do mais, eu não passaria de um garotinho assustado. e o epílogo? seria quando outra vez me perdesse em túneis de neblina, soterrando o que não dera certo. e às vezes o amor seria menos que uma piada de mau gosto, noutras ele poderia ser parente da desgraça de calibris no fundo de garrafas a me seduzir: você tem que ir até o final, você tem que ir até o final. e provavelmente, como quase sempre, estarei agindo errado ao percorrer nem sei quantas centenas de parágrafos e novamente a primeira página.

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