sexta-feira, 13 de agosto de 2010

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.....Platina
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- Por que Platina?
.....- Por que Platina o quê?
.....- Teu nome.
.....- Não é meu nome. É meu apelido.
.....- Por que esse apelido?
.....- Faz tempo, cê não vai querer saber.
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Silêncio.
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.....- Sabe esses trogloditas que durante o dia são engenheiros civis, juízes, diretores de empresa e de noite se transformam com suas Harleys?
.....- Tô ligado.
.....- Uma vez, uma guria...
.....- Sei.
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.....
Silêncio.
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- Eu tava mijando. Ela veio atrás de mim. Disse que tinha me manjado. Eu só falei “bacana.” Achei que ela só queria dar uns tecos ali no banheiro masculino.
.....- ...
.....- Quando acabei ela pegou no meu pau. Molhou a mão com algumas gotas. Daí foi fazendo o serviço. Não pude me desvencilhar. Cê sabe como são essas coisas.
.....- Porra se sei.
.....- Um sujeito entrou no banheiro. Chamou ela por um nome esquisito. Eu disse “acho que o cara tá te chamando.” Mas ela continuou chupando. O cara veio até o urinol do lado, abriu a braguilha e mijou sossegado olhando pra nós. Aí lavou as mãos, enxugou. Eu acabei broxando. Ela parou de chupar e saiu também, sem dizer nada.
.....- Sem lavar a boca?
.....- Eu lavei o rosto. Ajeitei a gola da jaqueta. Voltei pro balcão. Olhei todos os cantos do Dentadas e nada da garota. Fiquei ali bebendo. Fui embora umas duas horas depois.
.....- ...
.....- Tava indo a pé pra casa. Quando dobrei a esquina, três brutamontes e a guria montados nos diabos de duas rodas. Vieram pra cima com correntes, taco de beisebol e o caralho. Tentaram me atropelar. Cheguei a derrubar um deles da mato. Quando acordei tava no hospital, a cara toda embrulhada igual múmia, cotovelos, joelhos, as costas entortada que nem um pedaço de ferro. Os médicos tiveram que substituir os ossos triturados. Não tenho osso na cara, só platina.
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.....Marginalzinha
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Vilma cochicha no meu ouvido: Aquela ali é a Marginalzinha.
.....Sei.
.....Ela já foi gostosíssima, agora é essa caveira.
.....Isso tá me cheirando a inveja, Vilma.
.....Imagina, inveja... ontem mesmo encontrei com ela aqui no Dentadas, umbiguinho amostra, o piercing pedindo mordida... é uma galinha essa guria.
.....Nunca contei pra Vilma, mas foram incontáveis as vezes em que escrevi o alfabeto inteiro com a língua no corpo superlativo da Marina.
.....Zé, Vilma me chama, tá ouvindo?
.....Tô.
.....Então, ontem eu cruzei com ela...
.....Interrompo: Com ela quem?
.....Porra, Zé, com a Marginalzinha.
.....Ah, tá... e aí?
.....Aí eu disse: Olá, como vai, é um prazer revê-la. Eu fui educadíssima.
.....Vilma espera que eu me pronuncie, mas nada faço. Então ela prossegue.
.....Sabe o que a Marginalzinha fez?
.....Por que cê chama ela de Marginalzinha?
.....Ué, todo mundo chama ela assim.
.....Sério?
.....Aham.
.....O nome dela é Marina.
.....Como é que você sabe?
.....É uma longa história.
.....Você já conhecia ela?
.....Sim.
.....De onde?
.....Daqui mesmo.
.....Nunca me falou.
.....Não tive oportunidade.
.....Essa guria é uma babaca, Zé... Sabe o que ela fez ontem?
.....Fico sem escolha: O quê, Vilma?
.....Eu a cumprimentei e ela não retribuiu meu sorriso, Zé, não retribuiu.
.....E depois de falar um monte de merda, você ainda queria que ela abrisse um sorriso? Aposto que enquanto você dizia “olá como vai etc”, na verdade, o subtexto era “oi Marginalzinha, quantas vezes nessa semana você tomou um porre com os escrotos dos teus amigos do peito, cheirou teus pozinhos mágicos e vomitou no banheiro?”
.....Vilma sequer ouve minha ironia, continua obcecada: Sabia que ela tem bulimia? Pode ver, já tá até sem rosto. Duvido que seja capaz de chorar, tá seca, coitada.
.....Então fito bem a Marina no canto esquerdo do salão e sou obrigado a admitir, Vilma está certa. Marginalzinha não está somente sem rosto, já perdeu a cabeça.

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