terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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Paço 2

de onde a música?

ela me conduz para dentro
talvez ao Café

ali
um número cantado
intercalado com a récita de textos de autores
contemporâneos de Cândido de Abreu
misturados aos meus contemporâneos

curitibanos com figurinos franceses
em pé no balcão doces nas mãos
lambuzando os lábios amenizando os olhos

e os ouvidos agora a receber o hálito
do monólogo do edifício

pergunto: quais são seus sentimentos, pedras?
explica-nos sua arquitetura

e a voz mais íntima do prédio
como no conto de Edgar Allan Poe
o monumento, ser vivo
pragueja contra sua luta contra
fungos contra cupins

e chora a desolação de quando
por anos desocupado, doente
invadiram-no e roubaram
suas tubulações de cobre

que horror, exclamindago
não seria o mesmo que arrancar
os intestinos de uma pessoa?

venha, diz-me o prédio
aqui no alto do meu cérebro

subo a majestosa escada
trabalhada em peroba envernizada
convulsões de imagens desconexas
da progressão do crescimento urbano
em minha mente

e estou no primeiro pavimento
e já no segundo e então
o gabinete do prefeito Cândido de Abreu

presencio um diálogo
entre o prédio e Cândido
ele se aconselha com o Paço
o que faço? e coloca a mão na testa

depois diz: os Hércules art nouveau
que suportam a torre
estão realmente exaustos, meu caro

e o edifício boceja sussurra algo
que não compreendo

Cândido olha para mim
bufa, coça a bunda, tira os sapatos, as meias
e inicia uma série de movimentos
de dança folclórica
.
não identifico de que etnia

2 comentários:

  1. Excelente:

    sabe o que responde o prefeito quando o secretário de obras propõe: "Vamos restaurar e re-equipar a ópera de arame, e reabrir a pedreira para shows de grande porte?"?

    - Paço.

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