sábado, 10 de dezembro de 2011

a pensão

só marginais transitam por lá, diziam
refúgio das gentes falidas
ruas sem ruidosas buzinas de motocicletas
sem teclados sintetizadores misturados com
sanfonas nas madrugadas
estragadas mulheres
enfermeiros aposentados
gatos pretos que funcionassem
qual manchas de óleo a correr ruelas
ela
atrás de uma cortina fina
mostrava-a mais que ocultava, flores na ventania
ao lado, cachorro desajeitado com cara de jegue
trombando nos móveis da sala e cozinha, um ambiente só
eu o temia mais que aos dragões que
dizem bater asas nos bosques
a qualquer momento abrirá suas asas
mostrará a língua para nós
alçará portão fora gargalhando chamas
enquanto tirarmos os pratos da mesa
a besta resolvia me interpelar com seu focinho e presas à mostra
querendo os pratos
também três homens, trajes brancos, puídos,
riam e jantavam desconexos assuntos
pensão iluminada por velas que pingavam sutis em
nossos olhos marejados de neblina
e o chá preparado por feiticeiras
no outro dia, após o café matutino, passeei
regiões afastadas do perímetro urbano
a periferia da periferia resistia
lugar de antes de haver metrópoles porque metrópole
casas de madeira, samambaias na varanda, hortênsias as cercando
estradinhas brancas que levavam até vacas distraídas
pastando a idade da pedra
sombra lilás de galhos e nuvens
quero-queros no noturno do inverno carregando uma
sacola ampla vazada de estrelas
o armazéns de madeira úmida
e a lagartixa recém acordada de um sono sem relógios
a defender os tijolos da parede de ataques dos mosquitos
nascidos para fazer-nos coçar

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