quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

seus órgãos

a doença são seus órgãos
quando chegar o momento quero estar longe dessa corja, cospe
militante político outrora
antes morresse numa biblioteca, diz, não é lugar de
vai-vem, mas de permanência
ou nalgum canto onde vaidades houvessem findado
se não em paz, ao menos pra lá dos predadores
mesmo o banal exige rito
despede-se
não antes de experimentar uma última vez o sabor
censurado pelos filhos, do alto de sua sabedoria, nada reclama
noutro dia pensa vapor é o que serei
aquém da infância a eternidade já faleceu
nós velhos devemos temer os mortos, estes terão
que se mudar para outro lugar quando chegarmos lá
morremos e somos os bebês do falecimento, diz
ai o pai já à beira dos delírios
chamam uma mulher, último pedido
o senhor está muito doente?
ele afaga seu braço você, doce, é meu médico, sorri e
tosse os ossos
o senhor é gentil, não queria que
meu bem, todo cardápio obriga a fome, diz o velho
cofia a barba e tomba
os filhos, cinco diante do leito
coitado, ter entrado os dois pés na loucura antes de
cemitério
é jogado para as marés dentadas da terra
a vida de um homem, mergulhar na respiração dos afogados

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