segunda-feira, 21 de maio de 2012


Crítica publicada no jornal O Tempo, sobre minha novela E se contorce igual a um dragãozinho ferido.

A decadência do amor
por Luciana Romagnolli
O Tempo, 12/05/2012
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Luiz Felipe Leprevost é figura conhecida no ambiente cultural curitibano, onde reverencia com o devido deboche a tradição literária e a verve de Paulo Leminski e outros conterrâneos seus nas conversas em cafés e bares, enquanto trama uma nascente obra autoral, que se insinua por teatro, prosa e poesia.

Seus escritos rotineiros estão no blog Notas para Um Livro Bonito. Livros mesmo, já conta cinco, como "Manual de Putz sem Pesares" (2011), ora sucedido pelo lançamento da novela "E Se Contorce Igual a um Dragãozinho Ferido" (Arte & Letra).

Neste pequeno volume, Leprevost cria um protagonista-narrador que (tal como o autor fez anos antes, para estudar atuação) se lança ao Rio de Janeiro, deixando a fria capital paranaense.

Sua ambição na cálida cidade, porém, é imprecisa. Julio é ilustrador, fracassa em alguns trabalhos, mas sobrevive mesmo é da mesada da mãe. Algo que, para ele, não parece ser problema maior do que alguns atrasos no pagamento à senhora de quem aluga um quarto.

O jovem erra pelo Rio imantado pela paixão por uma atriz também medíocre, Nanda, com quem se envolve num caso amoroso desencontrado e obsessivo. Sem vocação para grandes atos de transgressão nem para mais profundos questionamentos - ainda que sua inquietação seja evidente, a desesperança é maior -, ele é atraído pelo submundo e pela decadência.

Frequenta bares sujos, tem como amigo um pretenso escritor de sabedoria delirante, faz (ou impõe - difícil dizer) favores sexuais à senhoria, vai à sarjeta por um coração partido. Sempre como quem não se encaixa nem entre os grandes nem entre os pequenos, vencedores ou miseráveis - por mais que veja com mais romantismo esses últimos.

Leprevost conduz a narrativa fraturando o tempo na época em que Julio vagava pelo Rio e no momento quando, já de volta a Curitiba, é novamente procurado por Nanda. Minúcias do cotidiano e das cidades permeiam os dois tempos - com a distinção de que, em sua terra natal, Julio se entrega a um relato mais desconexo e poético, feito de lacunas e silêncios.

A escrita do autor recorre a uma vastidão de citações, como a hora em que Julio "salva" Nanda: 4h48 - referência direta a Sarah Kane. E se torna mais interessante quando mais se distancia dos clichês para elaborar metáforas ricas de sentidos e sensações. Aliás, as quais ele não hesita em acompanhar das observações mais rasteiras.

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=203197%2COTE&busca=leprevost&pagina=1

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