terça-feira, 2 de novembro de 2010

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Corpo a corpo com o carniceiro 3
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covarde, covarde
covarde, covarde, covarde
covarde, merda
acho que eu queria pouco
bem pouco
sei lá, comer cupcake na Praça Espanha
num sábado de primavera
descer o rio Nhundiaquara de bóia
mas você...
você nem isso
sabe de uma coisa, ou você nasce com uma bela voz
ou desenvolve uma bela voz
mas você é um covarde
fica aí tomando chá de maçã com canela
desde que parou de ficar bêbado feito um gambá
sem se dar conta do pecado original irremediável
merda
por falar nisso, você já compôs uma das tuas
em homenagem ao gambá?
puta que pariu, cadê o meu remédio?
não fica me olhando com essa cara de fashion-vítima
com o coração no olho
não sou o que você...
você por acaso já viu uma auréola em volta da minha cabeça?
você nunca...
você nunca devia ter me dito palavrinhas amenas
simples e diretas sobre os teus sentimentos
eu não sirvo para musa, Dr. Museu da canção
eu não quero que aconteça
não mais
se eu encostar este dedo em você
primeiro, eu coloco o diabo no teu corpo
depois, você cai fulminado
isso, ri, ri mesmo
vai rindo
você não faz a menor ideia de com quantas pessoas
eu já trepei
você nem...
eu comecei muito nova
é que eu sempre achei que os seres humanos deviam ser
especialistas em seres humanos
e você, não acha
que os seres humanos deviam ser especialistas
em seres humanos?
então
eu não sou o que você construiu
não mesmo
lembra que um dia a gente foi assistir uma peça de teatro
e no final você me disse: achei super radical
e eu: radical o quê?
radical é empinar a roda da frente da bicicleta
mas você não é capaz pedalar nem mesmo um pedalinho
no Parque Barigüi
e era só o que eu precisa
um pouco de romantismo, sabe
mas então
eu não sou o que...
radical, né?
você quer radicalismo
ponha uma mulher na vitrine
olhe do outro lado da rua
xingue ela do quiser
ponha uma vaca na vitrine, com cabresto e tudo
ponha a tua putinha na vitrine
hein, que tal isso?
hein?
diz, diz que eu sou a tua putinha
jogue pedra
apedreje a vitrine
sou eu em cacos o vidro estilhaçado
o sol batendo nos cacos e refletindo, ferindo teus olhos
teu coração nos olhos
pise em mim com os pés descalços
me humilhe
me xingue de prostigaliranha
hein, eu sou, a tua prostigaliranhazinha?
olhe no meu olho e diga
no meu coração no olho e diga
eu fui um erro?
claro que fui
o que você queria?
o que foi que falhou no continho de fadas?
essa é uma história de esquartejamento, mordidas
e deglutição, meu chapa
sabe, você devia compor alguma coisa
em minha homenagem
um réquiem
réquiem para um frango à passarinho
um frango à passarinho, é como eu
me sinto, Sr. Sentimentos Sinceros
é, porque eu sou uma galinha
não sou, a tua?
diz que sim
eu preciso do diabo no sangue
eu dormi em camas erradas
e agora tudo que posso oferecer
é essa espécie de trash food em que me transformei
não sou mais o prato principal
agora sou este troço que não orna
tipo galeto com DJ
tá na hora do meu remédio
eu sei que você escondeu no bolso
cadê?
não bastam as suturas para impedir
que os membros doam
me dá, preciso dos comprimidos
dá aqui
me dá essa porra logo, caralho
(ele dá o potinho com os comprimidos para ela
ela engole dois
)
fashion-vítima
essa foi boa
as vacas e as galinhas são totalmente estúpidas
elas não desistem nunca
sabe, há muitos modos de se ferir alguém
e várias maneiras de se fazer um curativo
e no entanto, existem apenas dois tipos de esparadrapo
o que não gruda e o que não solta
você não acha que isso, de algum modo
tem a ver com o amor?

Um comentário:

  1. putaqueupariu, Leprê. Só um grande palavrão para exaltar esse puta poema. Matador. Incrível. Arrepiante!!!!

    B-Juju

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