quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

peça de teatro

muitos, infelizmente, sentiram tão somente o cheiro do linóleo, porém outros, como eu, o dos atores. percebia, sentado na platéia, miúdas sutilizas que eram assombros. o elenco. desejava saber o que ia datilografado nas folhas que vez em quando as personagens trocavam ao gosto do acaso, efeito igualmente construído. todo livro, o sagrado. os intérpretes decoravam e abandonavam as folhas. alguém distraído que por ali passasse. ou transeuntes apressados. os ônibus não especulam, vão, retornam em quarenta minutos. palavras para serem esquecidas. eu permanecia a decodificar o bilhete do namorado ao abraçar a moça por trás como que fazendo seu adeus. foi assim. numa cidade velha em que morei. o adeus mais duro é olho no olho, diziam, e eu já sabia. apostava-se no trabalho dos topógrafos. êxtase da companhia teatral. encenavam a memória, acumulo de esquecimentos. o vento também era personagem. ao perder o chapéu, junto, o homem, perdia a cabeça. ia buscar, estava enterrado. não sabíamos de onde vinham os bebês. não digo que ao partir tenhamos saído ilesos. o nariz do velho apontou e caminhamos rumo ao sul. viver para fundar e abandonar, dizia. o risco, única opção, dizia. os atores. meus pés vivos, a carne sem pele. só vim porque você veio, sussurrei em seu ouvido. ela havia amadurecido sua característica dramaticidade de sempre. não era a primeira vez em que me deleitava com tamanha capacidade cômica.

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