domingo, 4 de dezembro de 2011

vá de retro!

vá de retro!
o que se ouvia quando pus pés e sentidos nas dependências do prédio fundo: navio soterrado, longo túnel, entrada sem saída, escura garganta de fera sacrificada, geladeira de amaldiçoados. haver uma paciente que mais que linda fosse eterna. não podia, trancaram-na. um outro que estimava-se a si tanto que
vaderetro!
igualmente o que era todo gengivas. um rosto-sangue e
vá de!
meia dúzia de meninas peraltas, buliçosas, pérfidas até que
aaaaaahhhhh!
e os bocós de mola. paladares oblíquos. sopitosa audição. e os que grunhiam. rútilos olhinhozinhos. mandíbulas marrons
vá de!
desígnios da quimicamente remediada solidão. pântano de antiséptico concreto. excrescências triplicavam odores. memória de espectros e seus estertores. lutuosa edificação por onde esquisitos homens, atônitas fêmeas, andrajos seres, agora eu, branco bratáquio visitante. apertava-me de frio e curiosa náusea. meus ímpetos, espantado pesquisador, nas paredes dos quartos, lia-se
aqui o pomar das dores, tubarões e morcegos perfuram tímpanos, os joelhos são retorcidos.
era interpelado pela cruenta galeria e sua memória que incendiavam em minha direção, descortinados. há muito todos os habitantes sem a medicação
vaderetro!
ali estava eu, sem autorização de ofício, sem acompanhamento de enfermeiros ou guardas. no monumental sanatório, todos nós, os insensatos.

2 comentários:

  1. Lepre, gostei pra caralho deste. Me lembrou até um pouco o Burroughs, no meio formal. No entanto, o melhor foi o final. Fechamento de ouro, inundando o texto todo de significado. Adorei, cara. Abraço.

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  2. ei Filippo, obrigado. feliz que tenha curtido. vou postar uma série de textos agora, pelo menos até o natal. vamos tomar um café ali no centro qualquer hora? forte abraço, FMan. Lepre.

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