segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

entrevistas na cruz machado

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Pôr do sol na Cruz Machado, centro de Curitiba
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.....Com o patrão
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.....Sou escória, é? Então beleza, sou escória... e tenho orgulho. Trago comigo esse revólver aqui ó, tá ligado? O revólver tá, hehe, ligado. Pra mim cês não passam de rede de malha cercando e sendo isca ao mesmo tempo. A gente não é humano o mesmo quanto que é húmus. Não penso nada não, o tráfico é um negócio como outro qualquer. A única diferença é que todo mundo que vem aqui vem armado, seja com um três oitão desses, ou com o desespero. A gente não se preocupa com a qualidade da paçoca. O lance é o dinheiro. Mistura que é pra dar mais. Grana compra grana, sabe cumé?, e não coisas que tenham outro valor. Pra fazer esse tipo de serviço cê tem que saber que a raiz do... Pra quem vende, isso aqui é o paraíso, tá ligado? Pra quem consome, o inferno aterrissou na moral, tá sabendo? O que vou fazer, meu chapa? Perder meu emprego? Eu quero prosperidade, maluco. Trabalho com uma palavra chave: Esperança. Crio delírio pros nóia, entendeu? É no viciado que tá meu patrimônio. Não adianta cê vir me dizer que tudo é aniquilação. Eu sei que tudo é aniquilação, mas me vejo obrigado a discordar. Ou cê é o patrão por acaso? Não, né?
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.....Com um viciado
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..... acha que funciona como? Com a brasa dos pulmões engula a fumaça. Em apuros o caralho! Pegue ilusões no ar, com a cabeça na queda, dentro do escuro. Com a gula dos tufões engula. Prenda. Luxúria é uma coisa, eletricidade é outra bem diferente. Essa lata e o pito, o mísseis em que o mundo corre. É pra matéria sobre vadiagem? Cê vai ter que entrevistar essas traveca do caralho que ficam aí. Quer saber, elas que tão certa, ganhe e perca seus próprios dinheiros. Eu perco os meus. Que se foda, piá, faço como quiser. O que tem de pior e de melhor tá por aqui de madrugada. Prestenção, amiguinho, depois que a mágica bate o mal é veloz feito um jegue que afunda dando coices pra tudo que é lado no teu sangue. Aí cê precisa de controle, porque só o que passa na nóia é essa espécie de pressa moderna de ir feito quem mastiga geringonças, manja? Uns treco assim tipo quem respira o que cansa engrenagens. Pedra, lembre disso, não é pra amador, tá percebendo? Quer saber?, não deu pra mim, mano. Não sou que nem igual você, não pude escorrer minha mágoa num leito alegre. Não deu pra beber leite boa-vida. Tô nessa faz tempo, piazão, de navegar no amargo que desnutre. No estrume.
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.....Com uma travesti
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.....Aço é minha alma montada, as tetas, esse pauzão aqui. A barba crescendo por baixo da maquiagem, é minha inimiga. A Cruz Machado, meu ganha-pão. Casaco? Ninguém usa, nem no inverno. O negócio é fio dental dourado direto e cabô. Que mais? Meu equilíbrio não tá na yoga, nem nada dessas merdas, quem me dá equilíbrio tá aqui ó, meu salto 15. Que mais, meu bem? Ah, sei lá, não conhecer o futuro é que é o meu futuro. A madrugada? Hum, indústria, comércio, meu vício, a chapação de trepadas compradas. Porque isso chapa, fofinho, vai achando... Remédio imunológico? A essa altura do campeonato? Plastiquinho na pistola só se o cliente exigir, eu tô nem aí, que se foda. Que se foda, que me fodam, que eu os foda, engulo o choro sem som, e... Lágrimas nem sei mais o que são. Nada mais de pai, mãe, família. Que se foda. Família é isso aqui, eu, a Jane, a Babi, a Rô e olha lá. É difícil, mas é fácil. Fácil, é, respiro, sorrio, me empino, rebolo. Quando vejo, tô entrando no próximo carro.

2 comentários:

  1. Muito bom isso man! O tio Dalton ficaria com inveja

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  2. vampiros gênios tem sangue frio, man, eles não sentem inveja, isso é pra pobres mortais, haha. tio dalton deve mesmo ter orgulho de seus aprendizes, hehe. abração. lepre.

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