segunda-feira, 29 de março de 2010

notas para um livro bonito

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.....Minha existência fosse uma canção de apaixonar a chuva. E tempestades de meus olhos iniciassem o céu inteiro onde eu mergulhasse de uma vez por todas sem escafandro nem bóia de braço. Ou se eu pudesse ser alguém movediço, do tipo que sufoca os outros dentro da barriga. E se eu fosse bom em chegar perto deslizando numa exibição espetacular de não ser notado. E se eu soubesse definitivamente jamais canonizar o meu desejo. Ou se eu não precisasse consultar o dermatologista para compreender de que modo a luz que certas pessoas emanam me escalpela. Isso se eu não admitisse mais firmar platonismos. E se não gritasse aguda a carne diante de olhares tão meigos que passam a ser anzóis em meus poros. E se eu não mais tropeçasse no amor perfeito dizendo ai ai. E se eu não presenciasse de novo e de novo todas essas desenvolturas que aprisionam. E se eu fosse esse rouxinol envenenado de frio que na minha varanda se esconde da chuva.

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