sábado, 27 de março de 2010

exercício de impressão sobre teatro

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.....Variações do solilóquio do Lucky
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.....Por que continuar tudo isso? Esse desejo do eterno espetáculo, esse show, esse cansaço, esse ensaio, esse borrão? Primeiro, porque os vanguardistas se acabaram. Depois, porque adoro a pergunta “você não tem um faz-me-rir aí?” E pra especular pra que serve uma canção, pra que serve um poema. E pra pensar sobre a comunhão da necessidade com a finalidade. E porque os vanguardistas se acabaram. Mas por que os vanguardistas se acabaram? Porque os vanguardistas não querem acabar. E também porque os artistas são ou comprometidos meramente com ego e dinheiro, ou são uns derrotados e desiludidos que precisam de ajuda. Que mais? Ah, pra me perguntar se somos ingênuos criticando os vizinhos, resumindo tudo em ter humor ou não ter (a obra crítica, que se vale de elementos irônicos, cínicos e humorísticos, será significativa?). E porque não suporto ver gente se matando, dando tiro na cabeça, saltando de prédio, pisando fundo até perder o controle, justamente porque sei que não temos controle de nada, porque qualquer um pode chegar ao ponto de entrar num cinema ou numa universidade e meter bronca e depois estourar os próprios miolos. E porque pretendo fazer algo pretensioso. Ou seja, um espetáculo, uma performance, um embuste, um solo de dança contemporânea, um bate papo sobre arte, um monólogo besteirol, uma comédia inglesa, um recital, uma filosofia cara e barata sobre os problemas atuais da humanidade e da minha rua e da minha casa, ou nada disso, ou mais. E porque quero fazer referência e reverência direta à Curitiba, e isso significa acesso ao coração, tanto ao coração dos clichês mais patéticos quanto da verdade mais radical que pode existir. Porque quero ser esse ser humano que frequenta por alguns minutos um lugar sagrado, ou um abismo, ou uma sala de bate-papos qual um chat na Internet. Porque quero ter a convicção de estar no palco antes como ser humano do que como artista, em comunicação direta com a platéia, que ao mesmo tempo em que assiste ao trabalho está sendo assistida por mim, o que pode promover admiração, respeito, diálogo e, até mesmo, repulsa. Porque pretendo que a minha seja a nossa. E que a nossa seja uma obra aberta quanto mais específica a minha for. E porque tudo que estou dizendo parece pomposo, mas a procura maior é pela simplicidade, de fácil acesso (fodam-se os herméticos), porém pretendendo ser como uma cebola, do cheiro ao trabalho de descascá-la, das camadas superficiais ao choro irrompido sem que tenhamos qualquer controle sobre ele. Ou porque, talvez, todo o relato acima deva ser ignorado e substituído por apenas uma informação, bastante exata: Estão aqui o ator, a platéia, o palco como um abismo sobre o qual flutua-se, mas sem subterfúgios, sem subterfúgios, sem subterfúgios. E também porque as platéias estão ávidas por vingança, sabe. E porque tenho que refletir, tenho que refletir, tenho que refletir. E porque sei que não sou nem serei bem entendido. E porque fico pensando o que seria de um Plá com uma boa produtora, uma boa figurinista, um bom pessoal de marketing ao lado dele. E Porque só trago coisas assim à conversa quando abrem espaço para conversa, não imponho nada, mas se houver brecha estarei aqui, e isso é louvável. Porque quando abrem-se os experimentos para discussão, espera-se que algo seja discutido, não é mesmo? E também porque toda conversa é dolorosa se toca pontos nevráugicos. E porque ninguém é burro (só o burro). Porque esse projeto é justo, válido, caro (não só no sentido financeiro) e necessário, talvez tão necessário quanto um filme do Schwarzenegger, ou um quadro do Iberê Camargo que, afinal de contas, do ponto de vista (não da arte) da indústria cultural, são a mesmíssima coisa (eu disse “coisa”). E porque as platéias estão ávidas por vingança. E porque as produtoras estão de parabéns (é aniversário delas?), o conhecimento que dominam é o que talvez seja a grande sacadinha artística de nosso tempo. E também porque eu quero propagar o ridículo da frase (em toda sua fragilidade humana) “aqui só aceitamos elogios”. E porque não estamos falando de fantasia, né? E porque levo fé que você também está cansado de solos de guitarra no meio de um roquinho rouco. E porque, por mais que essa seja a maior bomba atômica que você já presenciou, sempre haverá inteligência/medo, diversão/sofrimento e empenho/desespero (no sentido também de desesperança) de quem está em cena. E porque sempre deve haver crítica no próprio objeto apresentado. E porque dinheiro nos deixa a todos nervosos e felizes. E porque a ganância é feia e o poder não terá outra alternativa que não seja vingar-se com um câncer em si mesmo (ouviram bem!?). E porque eu quero dançar, só isso, eu quero dançar isso que venho chamando de O butô do Mick Jagger. E porque pretendo enrolar a língua feito uma perereca no meio do meu solilóquio. E porque a vida é mais humana quando eu sou humano. E também pra amarrar a boca com um caqui enquanto escuto o solilóquio das trevas que, inevitavelmente, acompanham todos os artistas. E porque a poesia é erro. E porque quero gritar até ficar rouco. E ficar rouco até perder a voz. E perdida a voz, continuar gritando, e a isso chamar enxame e não vexame. E porque só a poesia é acerto. E pra fazer becape dos pensamentos fugidios. E pra aprender e cantar a música mais linda que já ouviu na vida. E pra saber o que fazer com o Mick Tayson que tem dentro de mim. E pra fazer dancinhas dirigidas por Nina Rosa Sá, com Singin' In The Rain tocando ao fundo. E pra estudar (estudar não, presenciar) o trabalho de Sainkho Namchylak. E pra dizer que a arte não representa seu autor. E pra dizer que só a arte representa seu autor. E pra dizer que o conceito de autoria na arte é uma falácia. E pra fotografar o sotoque do curitibano típico. E pra anunciar um réquiem. E pra amarrar a dor à solidão com fio e agulha. E pra contar outra estória, a mesma história, desenvolvida por um tipo de tecnologia muitíssimo humana e antiga, a tecnologia do afeto.

6 comentários:

  1. O Plá com "produtora, figurinista e marketing"? Quer matar o velhinho????????????hehehe

    Pra que porque? http://www.youtube.com/watch?v=T-iCzSsOZy4

    abraçãO!

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  2. http://estudiolivre.org/repo/7565/21_05-dl.ogg

    http://estudiolivre.org/repo/7731/psicentro.jpg

    http://estudiolivre.org/tiki-index.php?page=MaquinaDeMoedas&highlight=incrivel%20maquina%20de%20fazer%20moedas




    as vanguardas não tem fronteiras, definem fronteiras.

    ...:

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  3. http://estudiolivre.org/repo/7565/21_05-dl.ogg

    http://estudiolivre.org/repo/7731/psicentro.jpg

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  4. wha d'ya think ab't FB?

    cya!

    salut!

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  5. Glerm, "as vanguardas não tem fronteiras, definem fronteiras", eis. abração. lepre.

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