domingo, 10 de junho de 2012


Desço em direção a XV. Quem, como eu, tanto andou por essas ruas antes dessas ruas serem essas ruas? Sim, quem mais amo está comigo, na memória, os tenho comigo o quanto estou só. Escuto-os na sala a tagarelar, o hálito alegre a falar sobre nada. Fico melancólico nessa época do ano. Ouço os pingos na lata dos carros estacionados. A chuva, o frio, não me deixam esquecer, um único dia de sol e tudo estará cegado novamente. Fui crescendo, a neblina e a geada a se infiltrarem em minha pele, em minhas lembranças, no coração sem fundo. Não há nitidez, nada é uma certeza, nem bem me dou conta, estou trazendo o inverno dentro dos tímpanos. Estou mais cansado que um velho. Não se pode reter para sempre os instantes. Que passem. Plenitude é o que vai, some. Esquecer agora talvez seja o jeito humano de guardar. Não quero reter os momentos de felicidade, como alguém que pretendesse o raro de si mesmo. A felicidade me atravesse, não como eu fosse um túnel, mas lama que não admite modelação. Atravesse, não suportaria encarcerá-la o quanto faço com a angústia. A vida acontece conforme o errar se sucede, não como preferimos? O tempo passa para fazer com que as pessoas amadureçam e se tornem melhores? Se você envelhece com pesares e lamentos, o futuro aparecerá como um killer a destruir cada uma das coisas que você um dia amou. É preciso tocar o foda-se, ou a maneira mais ineficientemente tola de abjurar o passado seja o insistir na evitação de que a vida não nos fará esquecer sem que sejamos esquecidos?

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