.
.Começo de uma caveira
.
Os dentes são os únicos ossos
expostos do corpo, o sorriso é
o começo de uma caveira.
Toco de caneta bic
e uma coca-cola vazia,
improviso o cachimbo.
Olho pra lata, que ri.
Coloco a bic na boca,
tenho poucos dentes,
lábios rachados.
A chama do isqueiro
na pedra, chupo, a língua sente
o gosto, amargo estrume.
Engulo a fumaça
prendo, a mágica bate.
O bem que faz é veloz
feito jegues que afundam dando
coices no sangue.
Sou atacado por morcegos cuspidos dos
olhos e ouvidos.
Luxúria é uma coisa, nóia,
eletricidade outras bem diferentes.
Vou perdendo os dentes
e a memória.
Quem fui? Eu não era
magro desse jeito.
Aguente, é tudo que
digo pra mim.
O estômago dói.
Tô comendo sem molho
minha própria caveira.
Comecei pelo sorriso.
.
Os dentes são os únicos ossos
expostos do corpo, o sorriso é
o começo de uma caveira.
Toco de caneta bic
e uma coca-cola vazia,
improviso o cachimbo.
Olho pra lata, que ri.
Coloco a bic na boca,
tenho poucos dentes,
lábios rachados.
A chama do isqueiro
na pedra, chupo, a língua sente
o gosto, amargo estrume.
Engulo a fumaça
prendo, a mágica bate.
O bem que faz é veloz
feito jegues que afundam dando
coices no sangue.
Sou atacado por morcegos cuspidos dos
olhos e ouvidos.
Luxúria é uma coisa, nóia,
eletricidade outras bem diferentes.
Vou perdendo os dentes
e a memória.
Quem fui? Eu não era
magro desse jeito.
Aguente, é tudo que
digo pra mim.
O estômago dói.
Tô comendo sem molho
minha própria caveira.
Comecei pelo sorriso.
olha só! hoje vi bastante coisa sobre as drogas.
ResponderExcluirlegal! tudo está conectado...rsrs
espetacular, leprevost!! bom demais esse
ResponderExcluirpoema!
madeira
deixa eu enfiar meu cachimbo aí no meio...
ResponderExcluiro craqueiro reinventa o mito de sísifo,
só que pelo avesso: um sísifo que também vai mais uma vez buscar a pedra,
mas com hálito de querosene, dedos carvoejados, com bolhas nos pés e o dvd da
família.
o amor pelos homens embotado, com indigência
e medo em lugar de heroísmo.
ao contrário do sísifo de camus, ele nem chega a pensar, na dura e ininterrupta descida,
em sua própria condição.
madeira
Realmente o poema do lepre é demais da conta.
ResponderExcluirEntretanto, quero interferir nos comentários do prezado amigo Madeira:
Rodrigo: corremos o risco de ultrarromantizar os "pedreiros" que se transformam em pedra (e olha uma medusa surgindo aí...) -
mas em vez do sísifo reinventado que você vê, Rodrigo, eu vejo um comedor de lótus que se acha mais fraco do que a flor que come -
o craqueiro não se sisifiza, pois não cumpre um eterno castigo: o craqueiro torna-se a própria pedra que rola ribanceira abaixo -
dessa forma, quero acreditar que só depende do ser humano encontrar em si a força pra parar a queda, procurar ajuda, e assim subir de volta ao mundo dos vivos:
recusar o cálice desse lótus sem luz:
trocar a pedra da morte pela pedra bruta da realidade
e pelas infinitas pedras dos sonhos de verdade.
é isso aí, ivan.
ResponderExcluirmas não tem romantismo, não. o crack é a peste do egito, o quinto cavaleiro do apocalipse (só imagens bíblicas dão conta da extensão e dramaticidade do negócio).
o crack é simplesmente ultrajante e asqueroso! quem usa oscila entre os picos violentos de um maníaco e a fantasmagoria. o craqueiro é o oposto de sísifo. sísifo deu ao homem sua humanidade; o crack despersonaliza e desumaniza a pessoa. só o "buscar a pedra" é o mesmo - foi isso que quis dizer.
no caso específico do crack, poesia é uma coisa; a vida, outra bem diferente, totalmente sórdida e esvaziada de sentido ou beleza.
mas concordo com você, ivan. sozinho, ninguém sai dessa. tem que amadurecer o fracasso. tem que reconhecer a própria fraqueza e derrota. e isso, no princípio, dói!
sem nenhum glamour decadentista, vou citar o whitman: "eu sou o homem. eu sofri. eu estava lá".
o crack instala uma doença incurável, progressiva e fatal que só pode ser detida com compromisso diário e profunda revisão pessoal. se não mudar e se cuidar, volta praquela vida de merda em dois palitos. se quem se meteu nessa roubada terrível não sair de si para pedir e oferecer ajuda, não há a menor chance de recuperação.
a vida, precária e preciosa, é tanta (e tão pouca) para entrar ou seguir perdido nessa floresta escura.
abração.