quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

.
Aquela fofura
.
Meu irmão entra na sala chorando, desesperado. Não entendo o que ele fala. Nem o que a empregada dos seguidos ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus. Levanto e vou para fora. O motorista do meu irmão está pálido: ele veio atrás da gente, eu não vi e. O carro do meu irmão é uma Mitsubishi Pajero. O motorista: eu dei a ré e ouvi o grito. Boa noite, senhoras e senhores. Desculpem o atraso, tive um imprevisto um pouco antes de vir para cá. Comecemos sem mais demora nossa... O corpo estendido na calçada com sangue. Dentro de casa, meu irmão chora e fuma. Ele tem uma reunião, liga para a secretária pedindo que avise que vai se atrasar. O motorista pega um saco de lixo desses pretos e coloca o corpinho dentro. A empregada é só ai meu Deus, coitada da sua mãe, ai meu Deus, ela vai ficar arrasada. Não sei o que fazer. Meu irmão liga para meu outro irmão. Meu irmão entra na sala chorando, desesperado. Não entendo o que ele fala. Meu outro irmão é prático: enterrem. Onde? Aqui em casa mesmo? No terreno baldio aí da frente, vou mandar um funcionário meu para ajudar, diz meu outro irmão. Sinto muito, mas não consigo. Se não for um transtorno, gostaria de transferir esta reunião para quinta-feira. Estou realmente abalado. Perdoem as lágrimas. Pensamos mesmo que não nos acostumaríamos com ele. Mas desde o primeiro dia sua presença iluminou a casa. Peço para empregada me ajudar a encontrar uma enxada. Ele tem uma reunião, liga para a secretária pedindo que avise que vai se atrasar. Meu irmão e o motorista. Precisam sair. Ele tem um compromisso importantíssimo em alguns minutos. O motorista do meu irmão é um sujeito agilizado. O motorista do meu irmão está pálido. O motorista: a ré, o grito. O tempo de eu vir até a cozinha beber um copo d´água e voltar e o motorista está enterrando o saco preto no barranco do terreno baldio. Aí não, eu digo meio puto da cara, na primeira chuva que der ele vai ficar exposto, vamos fazer direito. Vou buscar a lanterna do meu pai. Vou. Volto. Subimos o barranco do terreno baldio. Vencemos o arame farpado e eu começo a cavar. Meu irmão aparece: precisamos ir. O motorista do meu irmão é um sujeito agilizado. O motorista do meu irmão está pálido. O motorista desce o barranco. No mesmo momento chega o funcionário que meu outro irmão mandou pediu enviou para ajudar. Foi minha mãe, acompanhada do meu sobrinho, quem o trouxe. Disse que bateu o olho e se apaixonou. Meu outro sobrinho o batizou: O funcionário sobe o barranco e ai, coloca a mão no rosto. O pedreiro que trabalhava numa obra vizinha à nossa casa desce a rua empurrando caindo de bêbado sua bicicleta: o que foi, você está bem? Ai, ai, aiaiai. O que aconteceu?, pergunto parando de cavar. Rasguei o supercílio no arame farpado, fala o funcionário. Leve ele para o hospital, vou eu mesmo dirigindo para a reunião, você se vira aí sozinho, né, será que o vizinho não pode dar uma força, hein vizinho, depois me lembre de dar uma boa recompensa, diz e diz e diz meu irmão dando ordens a cada um de nós. Daí entra na Pajero e vai. O pedreiro sobe o barranco e vem ver o que estou fazendo. O motorista entra em casa e pega outro carro, uma Mitsubishi Pajero. O funcionário entra na Pajero. Daí entra na Pajero e vai. Estou tão mal, não consigo nem pronunciar seu nome. Não sei como pôde acontecer. Uma fatalidade inacreditável. No mesmo momento chega o funcionário que meu outro irmão mandou pediu enviou para ajudar. E eles partem rápido para o hospital. O que tem no saco?, é a voz do pedreiro. Não interessa, respondo. Vamos enterrar no terreno onde moro, aqui você não vai conseguir cavar, tem muita raiz, é muito difícil cavar onde tem tanta raiz assim, lá na obra tem um buraco pronto já. Descemos a rua carregando o saco. O buraco em que ele larga o saco está cheio de entulhos. Vamos enterrar no terreno onde moro. Temos que cobrir com terra, eu digo. Amanhã eu faço isso, pode ficar tranquilo. Fazia apenas uma semana que estava conosco. Tinha tomado banho à tarde. Depois ficou um tempo deitado com meu irmão no sofá. Brincamos um pouco. Ele fez coco no lugar errado. Tudo isso era um novo modo de convivência para mim, que nunca antes... Não estou gostando nem um pouco de como o pedreiro conduz a operação. O pedreiro que trabalha numa obra vizinha à nossa casa desce a rua empurrando caindo de bêbado sua bicicleta: o que foi, você está bem? Não acho que seja digno abandonar o saco em tais condições, no meio dos restos de uma construção. Prefiro não enterrar ele aqui, eu digo. Ah, então amanhã eu levo para um lugar melhor, mas vou precisar de um troco, porque vou perder a manhã toda de trabalho. Maldito meu irmão que vive oferecendo recompensas. Não vou deixar o saco passar a noite nesse buraco. Ele dorme comigo no barraco e amanhã eu enterro direitinho, pode ficar tranquilo. Não, vou enterrar lá em cima, onde já comecei a cavar. Subo a rua carregando o saco. Meu outro irmão é prático: enterrem. Peço para empregada me ajudar a encontrar uma enxada. Onde? Aqui em casa mesmo? No terreno baldio aí da frente, vou mandar um funcionário meu para ajudar, diz meu outro irmão. Subo o barranco. Venço o arame farpado. No mesmo momento chega o funcionário que meu outro irmão mandou pediu enviou para ajudar. O funcionário sobe o barranco e ai, coloca a mão no rosto. Pego a enxada e volto a cavar. Eu podia sentir sua felicidade, por isso me sentia feliz também. Sua alminha vibrava com a nova vida. Tinha apenas cinco meses de idade. Tivemos que enrolar seu corpinho branco com um pano. E o colocar num saco plástico preto. E lavar a calçada. O pedreiro ao meu lado não para de falar. Não entendo bem o que vem da sua língua entorpecida. Talvez ele estivesse um pouco certo, o terreno é sim cheio de raízes. Talvez ele estivesse errado, as raízes são superficiais. As raízes são superficiais, digo a ele, você estava errado. Nunca falei nada sobre raízes, onde você quer chegar com isso? Consigo vencê-las, abro um buraco de uns setenta centímetros. Fico na dúvida se devo tirar o corpo do saco. Enterra com o saco mesmo, diz o pedreiro. Num instante estou acertando a cabeça dele com um golpe de enxada. Noutro, estou tendo dificuldade de enterrá-lo junto com o saco, o buraco é pequeno para dois corpos. As luzes da casa ao lado se acendem. Alguém nos olha um tempo da janela. Cubro tudo com a terra agora fofa, finalizo o serviço. Desço o barranco com a enxada nos ombros, todo sujo, suando. O pedreiro bêbado grudado em mim qual um zumbi, falando sem parar sobre raízes. Me livro dele com duas notas de cinquenta: descanse a manhã toda, a tarde venha buscar a recompensa que meu irmão prometeu. Estou muito triste. Preciso sair daqui. Quinta-feira nos veremos novamente. Perdoem o seu diretor. Boa noite a todos. Entro em casa, dou a enxada para a empregada. Vou tomar um banho, falo para ninguém. Arranco as roupas. Espero a água esquentar bem e mergulho na ducha. Aquela coisinha linda e indefesa está no sofá comigo minutos antes de meu irmão entrar chorando na sala. Aquela fofura tinha acabado de voltar do banho, tão limpinho e cheiroso. Dou a enxada para a empregada com seus ai meu Deus, coitada da sua mãe, ai meu Deus, ela vai ficar arrasada. Aquela fofura.

Um comentário:

  1. e uma droga nao ajuda nada essa merda antes de postar leia e ponha auguma coisa melhor quem quer saber de motorista seu mane

    ResponderExcluir