O vilarejo (pequenos estudos)
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Vilarejo
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Dez anos após ter subido aquela Serra uma última vez para ir ao enterro de Consuela, eu agora a olhava novamente e não a reconhecia, sua floresta tão esverdeada feito pêlos espessos por sobre um corpo repleto de curvas, montes, secretos oásis. No entanto, a mim me via a Serra não como a um desconhecido, mas como alguém que de si se desconhece. Assim, após uma década, botei dez fugentes olhares, dez olhares estapafúrdios, dez olhares com dez pupilas cada, dez vertigens enfim sobre a Serra e seus aclives, vales, entremeios, caminho único para se retornar ao Vilarejo, aproximadamente a 120 km da cidade onde moro.
Apesar do forte cheiro de mimosa, logo que se desembarca no Vilarejo, percebe-se que algo não veio junto. Ali as coisas são assim: Você não duvida que tenha morrido um pouco, morre-se ao entrar naquele região, morre-se, aliás, com a mera intenção de visita-lo. Sobre a morte mesma, aquela da qual ninguém voltou, não há o que ser dito. Mas essa morte de quem ingressa no Vilarejo, essa tem variados aspectos. Um que ocorre é o de que a morte é quando não nos acompanha nossa sombra. Conto, entenda-se, não porque esteja morto, mas porque em dias cinzentos como esse é impossível que nos acompanhe nossa própria sombra, pois não. Daí a dúvida: Estamos vivos, mas pode ser que inseridos em algum modus dos já desencarnados, já que não nos acompanha nossa mais fiel companheira. Um ser humano sem sombra esqueceu-se de si, perdeu seu lugar. Alguém sem sombra é alguém assombrado.
Dez anos após ter subido aquela Serra uma última vez para ir ao enterro de Consuela, eu agora a olhava novamente e não a reconhecia, sua floresta tão esverdeada feito pêlos espessos por sobre um corpo repleto de curvas, montes, secretos oásis. No entanto, a mim me via a Serra não como a um desconhecido, mas como alguém que de si se desconhece. Assim, após uma década, botei dez fugentes olhares, dez olhares estapafúrdios, dez olhares com dez pupilas cada, dez vertigens enfim sobre a Serra e seus aclives, vales, entremeios, caminho único para se retornar ao Vilarejo, aproximadamente a 120 km da cidade onde moro.
Apesar do forte cheiro de mimosa, logo que se desembarca no Vilarejo, percebe-se que algo não veio junto. Ali as coisas são assim: Você não duvida que tenha morrido um pouco, morre-se ao entrar naquele região, morre-se, aliás, com a mera intenção de visita-lo. Sobre a morte mesma, aquela da qual ninguém voltou, não há o que ser dito. Mas essa morte de quem ingressa no Vilarejo, essa tem variados aspectos. Um que ocorre é o de que a morte é quando não nos acompanha nossa sombra. Conto, entenda-se, não porque esteja morto, mas porque em dias cinzentos como esse é impossível que nos acompanhe nossa própria sombra, pois não. Daí a dúvida: Estamos vivos, mas pode ser que inseridos em algum modus dos já desencarnados, já que não nos acompanha nossa mais fiel companheira. Um ser humano sem sombra esqueceu-se de si, perdeu seu lugar. Alguém sem sombra é alguém assombrado.
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Armazém
Armazém
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Quando cheguei, após essa década, entrei no armazém, diferente de como lembrava que ele era, com sua bruxuleante luz amarela, modorrenta no teto e seu quase nada de produtos a venda. Fui atendido por uma senhora cujas rugas mastigavam, despudoradas, o rosto, sem cessar. Pedi cerveja preta, serviu-me. E no que fazia a ação de despejar o líquido em meu copo, pensei reconhecê-la. Puxei pela memória, mas não, diluía-se quaisquer resquício que teimasse em disfarces passadistas. Não puxei conversa e a senhora foi atender suas moscas clientes, servi-las doces e restos de refrigerante. Fiquei ali, quieto, escutando o que a cerveja me dizia cada vez que trazia o copo à boca. Então olhei para velha como que a examinando: sim, trata-se de uma mulher somando para além dos oitenta anos de existência, não resta dúvida. Todavia, os espelhos da parede oposta ao balcão onde estou ainda parecem lhe ser úteis, mesmo que exponham para ela mesma a precariedade de sua presença física, caroço humano que era, porém não oco.
Até que: Me Deus, já sei quem é a velha do decadente armazém, aquele protocolo carimbado por ninguém menos que o tempo. Mas como, se hoje estou com trinta anos e quando a conheci, dez anos atrás, ela não passava de 16 aniversários compilados. Então era verdade, a maldição. Contava-se de uma enfermidade herdada dos claustros do Sanatório, que algumas mulheres que por lá estiveram contraíram algo inexplicável, causador de envelhecimento precoce. Mas quando conheci Cília o Sanatório já estava desativado, era quase impossível que ela houvesse se contaminado com tal doença. E eu que sempre suspeitara fosse pura crendice, ou folclore. Agora tudo tinha clareado: os cabelos grisalhos de Cília, mesmo ainda jovem. E também os cabelos de Consuela, aliás, foi disso que Consuela morreu, de envelhecer mais rápido que a linha normal dos anos. O destino agia apressado para as mulheres daquele Vilarejo.
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Quando cheguei, após essa década, entrei no armazém, diferente de como lembrava que ele era, com sua bruxuleante luz amarela, modorrenta no teto e seu quase nada de produtos a venda. Fui atendido por uma senhora cujas rugas mastigavam, despudoradas, o rosto, sem cessar. Pedi cerveja preta, serviu-me. E no que fazia a ação de despejar o líquido em meu copo, pensei reconhecê-la. Puxei pela memória, mas não, diluía-se quaisquer resquício que teimasse em disfarces passadistas. Não puxei conversa e a senhora foi atender suas moscas clientes, servi-las doces e restos de refrigerante. Fiquei ali, quieto, escutando o que a cerveja me dizia cada vez que trazia o copo à boca. Então olhei para velha como que a examinando: sim, trata-se de uma mulher somando para além dos oitenta anos de existência, não resta dúvida. Todavia, os espelhos da parede oposta ao balcão onde estou ainda parecem lhe ser úteis, mesmo que exponham para ela mesma a precariedade de sua presença física, caroço humano que era, porém não oco.
Até que: Me Deus, já sei quem é a velha do decadente armazém, aquele protocolo carimbado por ninguém menos que o tempo. Mas como, se hoje estou com trinta anos e quando a conheci, dez anos atrás, ela não passava de 16 aniversários compilados. Então era verdade, a maldição. Contava-se de uma enfermidade herdada dos claustros do Sanatório, que algumas mulheres que por lá estiveram contraíram algo inexplicável, causador de envelhecimento precoce. Mas quando conheci Cília o Sanatório já estava desativado, era quase impossível que ela houvesse se contaminado com tal doença. E eu que sempre suspeitara fosse pura crendice, ou folclore. Agora tudo tinha clareado: os cabelos grisalhos de Cília, mesmo ainda jovem. E também os cabelos de Consuela, aliás, foi disso que Consuela morreu, de envelhecer mais rápido que a linha normal dos anos. O destino agia apressado para as mulheres daquele Vilarejo.
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Habitantes
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Nem sei como recordo de todo aquele branco. A lembrança é espessa mancha derramada, não na escuridão, senão nos buracos do esquecimento. Não sei como ou por que me recordo. O Vilarejo, onde me encontrei e depois perdi-me no que dele perdi. Cília, frioerenta Cília. Como apagar da memória uma paisagem que quando a vislumbramos uma primeira vez, tudo o que dela vimos era de um teor branquíssimo, como se uma borracha houvesse já sido esfregada por ali? Pois, branca é a geada. Branco é o sol que derrete geadas, tão branco que há quem o confunda com os luares mais claros, levando-se em conta que não menos claras eram as noites no Vilarejo. Não sei se eram todas as luzes ou se nenhuma delas, mas quanto conteúdo havia ali, um lugar cheio de dedos e dentes. Brancos os dentes (daqueles que os ainda possuíam) também o são, mesmo estando fechadas as bocas, especialmente daqueles que por anos estiveram sob os cuidados do Sanatório e hoje cavam iglus nos barrancos de terra roxa, que lhes servem de habitação para lá de certos cafundós. E brancas são suas peles (como, aliás, de toda a gente nativa do lugar), excluindo a pele das anciãs que se constituem do cinza que as abraçará quando de seu falecimento. Brancas suas unhas são, até que estejam pintadas de terra quando tanto cavarem. Mesmo seus ossos, certamente, apresentam das transparências a mais esbranquiçada (soube graças a série de exumações ordenadas pelo governo, pelo suposto de que houvesse ouro debaixo do cemitério em que esquizofrênicos, psicóticos, bipolares etc foram enterrados sem pompa ou rito). Branco, branquíssimo. As veias, porém, comumente bordôs, o que garante que não deviam de ser confundidos com fantasmas os moradores do Vilarejo, já que algum sangue derramara-se por sobre suas gramas esbranquiçadas de geadas. E vai que o céu expunha um teor ardido em contraste com o frio de lâminas no que tanto a tarde quanto a noite e a manhã se igualavam em tons marfim, diante das estáticas escuras janelas, duas no máximo em cada dos aproximadamente mil setecentos e nove casebres que constituem a coletividade, onde só não eram pequeninos os jardins porque cercados não existiam ali, excetuando os indevassáveis muros do Sanatório, tudo interligado por ruelas de chão batido, algumas de barro que ao secar mais pareciam sangue coagulado, e outras ruazinhas com redondas pedras que, às vezes, surpreendiam os transeuntes com coaxares, pois se assemelhavam com gorduchos sapos arroxeados, de tal modo que o trânsito de vira-latas e jegues, ambos espécimes cobertos por pelagem de coloração que lembra o gelo, quatro patas em cada qual a concorrer com dúzia e meia de bicicletas, tudo ao fim se alargando para além de um amplo deserto também níveo, posto que de brancos grãos a totalidade dos desertos se compõe, assim como brancas as almas deviam de ser (a minha, a de Consuela e a de sua irmã Larissa, a de Cília, e mesmo a de Bigorna), assim como a paz no Vilarejo branca certamente não era.
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Sanatório
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Contar que o Sanatório era um dos lugares mais assustadores da terra é contar pouco do óbvio. Bem, eu precisava fazer uma visita, mesmo ciente de que a maioria dos moradores do Vilarejo evitavam passar por ali perto. O Sanatório era um lugar que doía, você adentrava suas dependências e uma força centrífuga sugava sua energia em segundos. O que se conta é que logo após ser desativado, em uma das alas, o Sanatório abrigou, por intentos de Gregório Leite, um Cinema, que não vingou e colapsou após os entusiásticos três primeiros dias de exibição das películas. O curioso foi que, por artes de Gregório, as projeções voltaram a iluminar o Vilarejo, desta vez nas dependências da Igreja, também desativada. Cine Colírio, o nome de batismo, que para sua inauguração dizem ter sido lavado com água benta. O padre que se ocupou da cerimônia foi chamado de Ponta Grossa, pois há muito não havia presença de religiosos no Vilarejo, há anos a Igreja estava obsoleta, sabiam que não encontrariam Deus lá dentro, pois Deus era decepcionado com o lugar.
Vá de retro! Vá de retro!, o que se ouvia quando pus pés e sentidos nas dependências daquele prédio fundo feito um navio soterrado, longo feito um túnel com uma entrada e sem saída alguma, escuro feito a garganta de uma fera sacrificada. Uma galeria de amaldiçoados: Conta-se haver uma paciente que mais do que linda fosse eterna, linda e eterna. E isso não podia, então trancaram-na. Tinha um outro que estimava-se a si tanto que vaderetro! E trancaram igualmente aquele que sorria e era todo gengivas, um rosto-sangue. Vá de! Que havia meia dúzia de meninas peraltas, buliçosas, pérfidas até que. Trancados, trancados todos. E os bocós de mola, os de paladares oblíquos, os de sopitosa audição, os que grunhiam, os rútilos olhinhozinhos, as mandíbulas marrons, vá de! Que são os desígnios da quimicamente remediada solidão, assim que naquele pântano de antiséptico concreto excrescências triplicavam em odores a memória de espectros e seus estertores. Aquela lutuosa edificação por onde esquisitos homens, atônitas fêmeas, andrajos seres e agora eu, branco bratáquio visitante, apertava-me de frio e curiosa náusea. Havia com meus ímpetos aventureiros, de espantado pesquisador, de ler nas paredes dos quartos: “Isto aqui é um o pomar das dores, tubarões e morcegos perfuram tímpanos, e os joelhos retorcidos...” Sim, era interpelado pela cruenta galeria de seres e sua memória que, incendiavam-se incidindo em minha direção, descortinados, e há muito sem a medicação dita necessária, vaderetro! Ali estava eu com o cu na mão, como dizem, sem autorização de ofício, sem acompanhamento de enfermeiros ou guardinhas noturnos. E ali estava o monumental Sanatório. Em contiguidade ali estávamos nós, todos os insanos.
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Vá de retro! Vá de retro!, o que se ouvia quando pus pés e sentidos nas dependências daquele prédio fundo feito um navio soterrado, longo feito um túnel com uma entrada e sem saída alguma, escuro feito a garganta de uma fera sacrificada. Uma galeria de amaldiçoados: Conta-se haver uma paciente que mais do que linda fosse eterna, linda e eterna. E isso não podia, então trancaram-na. Tinha um outro que estimava-se a si tanto que vaderetro! E trancaram igualmente aquele que sorria e era todo gengivas, um rosto-sangue. Vá de! Que havia meia dúzia de meninas peraltas, buliçosas, pérfidas até que. Trancados, trancados todos. E os bocós de mola, os de paladares oblíquos, os de sopitosa audição, os que grunhiam, os rútilos olhinhozinhos, as mandíbulas marrons, vá de! Que são os desígnios da quimicamente remediada solidão, assim que naquele pântano de antiséptico concreto excrescências triplicavam em odores a memória de espectros e seus estertores. Aquela lutuosa edificação por onde esquisitos homens, atônitas fêmeas, andrajos seres e agora eu, branco bratáquio visitante, apertava-me de frio e curiosa náusea. Havia com meus ímpetos aventureiros, de espantado pesquisador, de ler nas paredes dos quartos: “Isto aqui é um o pomar das dores, tubarões e morcegos perfuram tímpanos, e os joelhos retorcidos...” Sim, era interpelado pela cruenta galeria de seres e sua memória que, incendiavam-se incidindo em minha direção, descortinados, e há muito sem a medicação dita necessária, vaderetro! Ali estava eu com o cu na mão, como dizem, sem autorização de ofício, sem acompanhamento de enfermeiros ou guardinhas noturnos. E ali estava o monumental Sanatório. Em contiguidade ali estávamos nós, todos os insanos.
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Consuela e companhia
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Deixe-me voltar ao passado, estou me precipitando. Foi assim: A bordo do último ônibus da Viação Cometa, eu Rubinho Spalman, cheguei a primeira vez no Vilarejo altas horas da noite. Consuela estava atrás de uma cortina que a escondia, mas (de tão fina) a mostrava mais do que ocultava, formas que lembravam flores na ventania. Ao lado, um cachorro desajeitado com cara de jegue trombando nos móveis da grande sala e cozinha, um ambiente só dividido em dois. Havia também três homens, com trajes brancos bastante puídos, jantavam e riam. Conversavam, e me soavam desconexos os assuntos. A pensão toda estava iluminada por velas, que pareciam pingar sutis em nossos olhos marejados de neblina e chá preparado pelas mãos feiticeiras de Consuela. No outro dia, após reforçado café matutino, saí passear por regiões afastadas do perímetro urbano. Fui pela periferia que resistia, sempre fui desses de gostar de contemplar esses lugares de antes de haver existidas as metrópoles. Quero morar em regiões assim, o saudosismo angustiado de não ter havido casas de madeira, samambaias na varanda e hortênsias as cercando. Nasci em meio a prédios e automóveis, e vivi sempre na zona central de Curitiba. Próximo ao Vilarejo havia bosques desvairados, estradinhas brancas que levavam até vacas distraídas pastando lá na idade da pedra, ruminando paciência. Patinhos tristes no escuro da lagoa. A planta ainda era viva. E para sombra lilás de galhos e nuvens uma gralha retornava ao noturno do inverno carregando uma sacola que vazava estrelas. Queria conhecer o Vilarejo a fundo, mas meus pais me proibiram de me hospedar na velha cidadezinha, com o argumento de que hoje em dia só marginais transitavam por lá. Por lanchonetes escuras, armazéns de madeira úmida. Refúgios de gentes falidas. Ruas ruidosas, barulhenta, buzinas de motocicletas. E os teclados sintetizadores misturados com sanfonas na madrugada. Estragadas mulheres tagarelas. Tantos gatos pretos, porém, que funcionam como manchas de óleo a correr as ruelas do Vilarejo. Fora isso, meus pais estavam errados. Ali conheci Boca Grande, Larissa, Cília, Gregório, tão bacanas que só o que faziam era se beijar o tempo todo, parecia que desejavam um engolir o outro. Consuela era já demasiado velha. Eu pensava que Larissa, que claramente não teria mais que 16 anos, fosse sua neta, mas não, Larissa não era neta de Consuela, era sua irmã. Bigorna, o cão, que ficava solto, circulava livremente pelas dependências da pensão. Sempre que Bigorna estava por perto provocava certa tensão, eu o temia mais que aos dragões que dizem bater asas lá nos bosques. Pensava que a qualquer momento Bigorna abriria suas asas, mostraria a língua para nós e alçaria portão afora gargalhando chamas enquanto Consuela tirava os pratos da mesa de jantar. Curioso o Vilarejo, mais curiosa ainda a pensão. Uma lagartixa, não com X, mas com CH, segundo Larissa, espreguiçava-se recém acordada de um sono sem relógios e defendia os tijolos da parede de ataques aéreos dos mosquitos que, não obstante, pareciam ter sido treinados para fazer-nos coçar. Então, sentindo nó por nó meu sangue se desmanchar comecei escrever algumas impressões na toalha que revestia a mesa escalpelada sobre a qual fazíamos as refeições. Era uma série de poemas sobre a cidadela tomada por lupanares, comércios ilícitos e tudo o mais. O pessoal do Vilarejo não sabia mais que resoluções tomar, tentavam evitar que o trânsito de pessoas vindas de lugares inóspitos atracassem em seu porto de geada. Eu não sabia, tampouco perguntei, o que pensava disso minha anfitriã Consuela, no entanto, quase ensurdecia de medo quando aquela besta denominada Bigorna resolvia me interpelar com seu próprio focinho e presas à mostra. Ele queria meus pratos de barreado, segundo um dos enfermeiros aposentados moradores da pensão. Então eu pegava o prato com a mão e de algum modo detinha poder sobre Bigorna, e chegava a acreditar que saberia adestrá-lo à minha maneira, caso optasse em fazê-lo. Mas deixava para lá, embora houvesse reparado que nem os nativos Larissa e Boca Grande, e mesmo Consuela, ficavam constrangidos por presenciarem essa minha perversão incontida. Em resumo, estava sendo aquele um frutífero feriado. É claro que era impossível não achar graça quando um novo hospede chegava e em sua direção Bigorna lançava seus guturais latidos. A graça, no entanto, estava não nos latidos, porém no fato de que um dos homens, um coxo, apoiou-se sobre uma perna só e mirou a bengala na direção de Bigorna, e assim pudemos reparar que aquilo não era uma bengala e sim uma espingarda de duplo cano. Bigorna, para minha surpresa, calou-se imediatamente, abanou o rapo e fugiu para o jardim. Na manhã seguinte eu iria embora, por esse motivo o chá preparado após o jantar era de especial teor, disse-me Consuela. Após a segunda xícara eu não escutava mais nada das conversas desconexas e sem lógica dos enfermeiros aposentados. As velas em segundos começaram a ser decapitadas pela lâmina de um vento escuríssimo. Lembro-me apenas vislumbrar um tanto ao longe Consuela e Bigorna de mãos dadas cantando um rock melodramático. Nada mais.
E assim passei a frequentar o Vilarejo de quinze em quinze dias. Aquele era meu paraíso. Aquelas pessoas, meus únicos amigos no mundo. Por isso, quando Bigorna ficou doente e Consuela se viu obrigada a procurar ajuda médica em Curitiba, já que o Hospital local sofria reformas há mais de quatro meses, foi para mim que ela enviou uma carta: Venha logo, Bigorna está morrendo, preciso de sua ajuda. Para o bem do Vilarejo, diga-se, o que outrora fora um Sanatório, com mínima ala destinada a problemas gerais da população que não houvesse relação direta com a loucura, acolhendo-se em tal ala improvisada clínica veterinária, inclusive, agora o governo promovia sua reforma. De qualquer modo, estava inconsolável a minha amiga. Bigorna fora seu mais íntimo companheiro. E agora estava no porta-malas do carro que um dos enfermeiros aposentados nos emprestou para levarmos o cão a algum lugar que merecesse que ali o enterrássemos, segundo palavras da própria Consuela. Veja, o trânsito vai como um afluente, às vezes quase seco, em outras trasbordando ferocidade, disse-me ela durante essa única e última vez em que esteve em Curitiba. Porém naquele dia o trânsito estancara. Talvez por culpa da massa pesada de calor que o sol derrubava sobre nós. No rádio do carro tocava uma melodia que hoje traduzo por água mansa raspando pedra de fogo. Ao longe uma ambulância desesperava músculos e gargantas, vinha cortando as águas daquele rio caudaloso de lata e asfalto. Os carros assustados feito cardumes de peixes abriam espaço. Quando se pensa em sangue e morte as pessoas respeitam respirando para dentro, disse-me e sorriu manso a anciã Consuela. Olhei para ela, que contemplava o ir das pessoas na calçada, e lamentei: Sirene sempre me comove. Jamais haveria sirenes ao socorro de tipos como Bigorna, retribui-me Consuela. Anos depois, no dia em que a própria Consuela faleceu a ambulância demorou demasiado para vir socorrer sua despedida. Seria ela da mesma estirpe que Birgorna? Era madrugada e quase não havia trânsito de vivos. O telefone tocou lá em casa, intrometendo-se no sonho de toda a família. Larissa era quem trazia até mim a notícia. Consuela do alto de seus 126 anos estava passando mal, alarmava-me sua irmã de 16. Em mim um oceano se atormentou. Minhas roupas correram ao socorro da amiga velha antes de eu me dar conta completamente. Peguei mais outra vez emprestado o carro de meu irmão e acelerei em direção ao Vilarejo. Foram duas horas de viagem angustiada, minhas mãos suavam segurando a direção, pois me assombrava a idéia de que seria a última vez que veria Consuela, autora de tantas alegrias que colecionei durante a vida desde que havia, à revelia da família, começado a freqüentar a região. Cheguei e a pensão de Consuela respirava com dificuldade. Peguei suas mãos apoiando sua morte e chorei, nada mais poderia fazer contra aquilo que não se explica. Estranho como as coisas são, o resgate nunca consegue acompanhar a velocidade do desespero. Os médicos chegam com a sirene das pálpebras ligadas, porém cansadas. Parece que vêm buscar alguém para um passeio. Parecem não querer despertar o sono derradeiro e infinito a que se encaminha o que precisa de socorro. Quando conheci Consuela ela já tinha cabelos brancos, e os raspava. Rugas na face e o corpo encurvado. Nunca vi ninguém desrespeitá-la. Dizem que esteve à passeio no mundo. Por conta disso não encarei como erro grave o atraso dos médicos, os mesmos médicos que ela hospedou e alimentou durante anos, desde quando o Sanatório fora instalado próximo a sua pensão. Ali ia embora depois de ter olhado esse mundo como quem vai ao circo a minha amiga. Como quem senta em uma varanda e contempla o enorme lago sitiado no coração do Vilarejo partia Consuela, sem que jamais houvesse reclamado das picadas dos mosquitos que, talvez, tenham sido seus mais fiéis companheiros após a morte de Bigorna e a partida de Larissa para não se sabe onde. Quem sabe ela tenha vivido por aqui apenas como quem patina sobre o gelo e ri depois com a perna engessada. Era como se a geada aparada de seus cabelos tivesse mantido por toda vida sua cabeça fresca. Daquela vez comigo no carro, quando procurávamos a cama do descanso eterno para Bigorna, quando coincidentemente por nós passaram os escândalos apressados de uma equipe de salvamento, Consuela disse sem indiferença: Como dirigem mal estes motoristas de ambulância, um dia ainda matam alguém de tanto que correm. A Velha Consuela era esperta. Tricotou direitinho toda sua vida em um pano branco e limpo. Pressentiu sua despedida. Foi embora como quem pressente o odor da chuva se armando no céu claro. Fez-se a neblina em seus cabelos perfumados pelo orvalho das manhãs. Fizeram-se molengas seus tríceps, abraços de água sem correnteza. Trazia sempre para a mesa o almoço feito um discreto e alegre pinguim. Personagem de fábulas que se apagam em um dia intacto. Agora está lá a velha, retida no coração fosfóreo da terra, habitando o escuro. E aqui vamos nós iludindo a idade dela não estar mais por perto.
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E assim passei a frequentar o Vilarejo de quinze em quinze dias. Aquele era meu paraíso. Aquelas pessoas, meus únicos amigos no mundo. Por isso, quando Bigorna ficou doente e Consuela se viu obrigada a procurar ajuda médica em Curitiba, já que o Hospital local sofria reformas há mais de quatro meses, foi para mim que ela enviou uma carta: Venha logo, Bigorna está morrendo, preciso de sua ajuda. Para o bem do Vilarejo, diga-se, o que outrora fora um Sanatório, com mínima ala destinada a problemas gerais da população que não houvesse relação direta com a loucura, acolhendo-se em tal ala improvisada clínica veterinária, inclusive, agora o governo promovia sua reforma. De qualquer modo, estava inconsolável a minha amiga. Bigorna fora seu mais íntimo companheiro. E agora estava no porta-malas do carro que um dos enfermeiros aposentados nos emprestou para levarmos o cão a algum lugar que merecesse que ali o enterrássemos, segundo palavras da própria Consuela. Veja, o trânsito vai como um afluente, às vezes quase seco, em outras trasbordando ferocidade, disse-me ela durante essa única e última vez em que esteve em Curitiba. Porém naquele dia o trânsito estancara. Talvez por culpa da massa pesada de calor que o sol derrubava sobre nós. No rádio do carro tocava uma melodia que hoje traduzo por água mansa raspando pedra de fogo. Ao longe uma ambulância desesperava músculos e gargantas, vinha cortando as águas daquele rio caudaloso de lata e asfalto. Os carros assustados feito cardumes de peixes abriam espaço. Quando se pensa em sangue e morte as pessoas respeitam respirando para dentro, disse-me e sorriu manso a anciã Consuela. Olhei para ela, que contemplava o ir das pessoas na calçada, e lamentei: Sirene sempre me comove. Jamais haveria sirenes ao socorro de tipos como Bigorna, retribui-me Consuela. Anos depois, no dia em que a própria Consuela faleceu a ambulância demorou demasiado para vir socorrer sua despedida. Seria ela da mesma estirpe que Birgorna? Era madrugada e quase não havia trânsito de vivos. O telefone tocou lá em casa, intrometendo-se no sonho de toda a família. Larissa era quem trazia até mim a notícia. Consuela do alto de seus 126 anos estava passando mal, alarmava-me sua irmã de 16. Em mim um oceano se atormentou. Minhas roupas correram ao socorro da amiga velha antes de eu me dar conta completamente. Peguei mais outra vez emprestado o carro de meu irmão e acelerei em direção ao Vilarejo. Foram duas horas de viagem angustiada, minhas mãos suavam segurando a direção, pois me assombrava a idéia de que seria a última vez que veria Consuela, autora de tantas alegrias que colecionei durante a vida desde que havia, à revelia da família, começado a freqüentar a região. Cheguei e a pensão de Consuela respirava com dificuldade. Peguei suas mãos apoiando sua morte e chorei, nada mais poderia fazer contra aquilo que não se explica. Estranho como as coisas são, o resgate nunca consegue acompanhar a velocidade do desespero. Os médicos chegam com a sirene das pálpebras ligadas, porém cansadas. Parece que vêm buscar alguém para um passeio. Parecem não querer despertar o sono derradeiro e infinito a que se encaminha o que precisa de socorro. Quando conheci Consuela ela já tinha cabelos brancos, e os raspava. Rugas na face e o corpo encurvado. Nunca vi ninguém desrespeitá-la. Dizem que esteve à passeio no mundo. Por conta disso não encarei como erro grave o atraso dos médicos, os mesmos médicos que ela hospedou e alimentou durante anos, desde quando o Sanatório fora instalado próximo a sua pensão. Ali ia embora depois de ter olhado esse mundo como quem vai ao circo a minha amiga. Como quem senta em uma varanda e contempla o enorme lago sitiado no coração do Vilarejo partia Consuela, sem que jamais houvesse reclamado das picadas dos mosquitos que, talvez, tenham sido seus mais fiéis companheiros após a morte de Bigorna e a partida de Larissa para não se sabe onde. Quem sabe ela tenha vivido por aqui apenas como quem patina sobre o gelo e ri depois com a perna engessada. Era como se a geada aparada de seus cabelos tivesse mantido por toda vida sua cabeça fresca. Daquela vez comigo no carro, quando procurávamos a cama do descanso eterno para Bigorna, quando coincidentemente por nós passaram os escândalos apressados de uma equipe de salvamento, Consuela disse sem indiferença: Como dirigem mal estes motoristas de ambulância, um dia ainda matam alguém de tanto que correm. A Velha Consuela era esperta. Tricotou direitinho toda sua vida em um pano branco e limpo. Pressentiu sua despedida. Foi embora como quem pressente o odor da chuva se armando no céu claro. Fez-se a neblina em seus cabelos perfumados pelo orvalho das manhãs. Fizeram-se molengas seus tríceps, abraços de água sem correnteza. Trazia sempre para a mesa o almoço feito um discreto e alegre pinguim. Personagem de fábulas que se apagam em um dia intacto. Agora está lá a velha, retida no coração fosfóreo da terra, habitando o escuro. E aqui vamos nós iludindo a idade dela não estar mais por perto.
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Cília e Larissa
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No armazém olho para a senhora. A juventude de Cília se foi, foi-se a rigidez das fibras de quando ziguezagueava montada em sua bicicleta. A juventude dela derreteu feito um cubo de gelo sobre a frigideira. Cília, aquela tão cheia de alma, hoje pensando que viver é apenas uma quimera, uma piada sem graça, essa senhorinha que só conversa comigo porque nesse momento me igualo às moscas, suas únicas ouvintes. Ela busca-me outra cerveja lá na geladeira vermelha que pede socorro. E se faz o que faz é porque está viva, e se ainda está viva pode que ainda lhe sobre algo armazenado daquela Cília que conheci há dez anos e que se mostra aqui como que se eu a conhecera há mais de oitenta. E se ainda é Cília, para mim ainda é bela. Cília, essa triste senhora no balcão de um armazém, que era uma das que galopavam bicicletas. Em tardes ensolaradas, via-se, Cília era loira. Contudo, somente nas tardes de sol, já que na maioria dos dias, que eram de um acinzentado pós-apocalipse, a cabeleira grossa de Cília ostentava a antiguidade da cor grisalha, assim como a das mulheres que somassem anos para além dos noventa, assim como devia ser a cabeça de Consuela, caso não fosse raspado à zero. Os músculos de Cília, em contrapartida, expunham a mais potente das vitalidades. Ao pedalar Ladeira do Mercadinho acima não havia pernas que ultrapassassem as da menina. Eram dois pernões bem definidos, saídos com petulância da bermuda. Esse é meu pensamento cheio de lembranças: Cília pedalando a bicicleta ladeira abaixo vinha agora, faceira, as orelhas surdas de vento, as bochechas coradas, rubras sardas. Da blusa os peitos tentados a saltar fora. Vinha que vinha a nem sei quanto por hora. Não conseguiu fazer a curva, derrapou, de nada lhe serviu o freio. Os aros, entortados. Dobrado em Z o guidão. As duas coxas em frangalhos. A vi essa primeira vez quando acompanhei o tombo que levou à porta no Mercadinho. Embrutecida, em carne viva joelhos e cotovelos, Cília fincou-me seus olhos amarelazuis de não mais que 16 anos inchados de paixão. E foi ali que se deu. E eu cedi.
Será que ela se lembra de mim? Do que vivemos? Cília, chamei-a. Ela se virou como que tendo que dobrar algo quase não dobrável, demorada como quando foi buscar as cervejas. Ela sabia que era eu, e sabia mais quem era eu do que eu mesmo. Cília, é você? Ela se aproximou: Talvez, por quê? É que anos atrás eu conheci uma menina, pensei que... Nesse Vilarejo já não existem meninas, e o fenômeno não é de agora, as que ficaram foram infectadas. Cília, você não me reconhece?, disse a interrompendo. Ela fez uma expressão de dúvida bastante dissimulada, depois: Reconheci-o desde o primeiro segundo que colocou os pés aqui. E por que não falou nada? Cília estava a fitar a rua como se de lá viesse a resposta. E veio: Vergonha, tive vergonha de você, Rubin. Então era verdade, Cília, a maldição? Você já respondeu, querido. E Lari onde anda? Então Cília passou as mãos sobre a mesa com toalha de plástico com flores apagadas como que limpando farelos de comida que ali não havia, depois disse: Larissa... nunca mais soube dela.
E Larissa, Rubin?, desta vez foi Cília quem perguntou, você nunca mais a encontrou? E deixando escapar um resto de mágoa, antes que eu pudesse respondê-la, Cília, ao abrir-me uma terceira cerveja, disse: Foi passar uns tempos fora, nunca mais voltou. Lembrava, sim, da última vez que eu encontrara Larissa. Ela estava trabalhando como vendedora em uma loja do centro, em Curitiba, e certamente a sua juventude ainda a acompanhava, apesar de ter nascido no mesmo ano que Cília nasceu. Foi um papo ligeiro, mas Lari não parecia feliz. Ela me perguntou como iam as coisas. Tudo calmo, Lari. Ela quis saber se depois da morte de Consuela eu também nunca mais havia estado no Vilarejo. Eu disse que jamais tinha colocado os pés no Vilarejo novamente. Lari sorriu e disse: Aposto que o Vilarejo todo ainda tem aquele cheiro de mimosa, depois foi atender um cliente que acabava de entrar na loja. Quando ela se virou eu ainda dizia o meu claro que tem, Lari, o cheiro de mimosa nunca vai nos abandonar.
E você, Rubin, o que o trouxe de volta ao Vilarejo?, quis saber Cília enquanto despejava cerveja no meu copo. Trabalho para uma empreiteira, Cília, são pessoas importantes, têm interesse em instalar um fábrica no prédio onde funcionava o Sanatório, enviaram-me para uma avaliação. Ah, uma fábrica, balbuciou Cília, de quê, de velhas precoces?
Será que ela se lembra de mim? Do que vivemos? Cília, chamei-a. Ela se virou como que tendo que dobrar algo quase não dobrável, demorada como quando foi buscar as cervejas. Ela sabia que era eu, e sabia mais quem era eu do que eu mesmo. Cília, é você? Ela se aproximou: Talvez, por quê? É que anos atrás eu conheci uma menina, pensei que... Nesse Vilarejo já não existem meninas, e o fenômeno não é de agora, as que ficaram foram infectadas. Cília, você não me reconhece?, disse a interrompendo. Ela fez uma expressão de dúvida bastante dissimulada, depois: Reconheci-o desde o primeiro segundo que colocou os pés aqui. E por que não falou nada? Cília estava a fitar a rua como se de lá viesse a resposta. E veio: Vergonha, tive vergonha de você, Rubin. Então era verdade, Cília, a maldição? Você já respondeu, querido. E Lari onde anda? Então Cília passou as mãos sobre a mesa com toalha de plástico com flores apagadas como que limpando farelos de comida que ali não havia, depois disse: Larissa... nunca mais soube dela.
E Larissa, Rubin?, desta vez foi Cília quem perguntou, você nunca mais a encontrou? E deixando escapar um resto de mágoa, antes que eu pudesse respondê-la, Cília, ao abrir-me uma terceira cerveja, disse: Foi passar uns tempos fora, nunca mais voltou. Lembrava, sim, da última vez que eu encontrara Larissa. Ela estava trabalhando como vendedora em uma loja do centro, em Curitiba, e certamente a sua juventude ainda a acompanhava, apesar de ter nascido no mesmo ano que Cília nasceu. Foi um papo ligeiro, mas Lari não parecia feliz. Ela me perguntou como iam as coisas. Tudo calmo, Lari. Ela quis saber se depois da morte de Consuela eu também nunca mais havia estado no Vilarejo. Eu disse que jamais tinha colocado os pés no Vilarejo novamente. Lari sorriu e disse: Aposto que o Vilarejo todo ainda tem aquele cheiro de mimosa, depois foi atender um cliente que acabava de entrar na loja. Quando ela se virou eu ainda dizia o meu claro que tem, Lari, o cheiro de mimosa nunca vai nos abandonar.
E você, Rubin, o que o trouxe de volta ao Vilarejo?, quis saber Cília enquanto despejava cerveja no meu copo. Trabalho para uma empreiteira, Cília, são pessoas importantes, têm interesse em instalar um fábrica no prédio onde funcionava o Sanatório, enviaram-me para uma avaliação. Ah, uma fábrica, balbuciou Cília, de quê, de velhas precoces?
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