sexta-feira, 15 de outubro de 2010

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“Eu faço versos como quem chora”
Manuel Bandeira
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“eu faço versos como quem talha.”
Waly Salomão

hoje
eu faço versos como quem coloca
meias de lã nos pés do inverno
eu faço versos como quem inflama líquidos
dentro da mulher amada
eu faço versos como quem dá uma chupada na
ferida do limão
eu faço versos como quem sopra a
brasa sobre a qual pisar
eu faço versos como quem cala numa
página desprezada por pássaros
eu faço versos como quem descansa a
língua da maledicência
eu faço versos como quem tem olhos
acuados de contemplação
eu faço versos como quem entoa cantigas de
ninar bois na execução
eu faço versos como quem se lança às piranhas
eu faço versos como quem engole a própria mão
e quer mais

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