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O estilo cru tem muitas variações 4
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Sempre precisei passar longos tempos sozinho, protegendo-me um pouco do mundo. A biblioteca da escola era um ótimo lugar para isso. Hoje, porém, gosto de presenciar a balburdia da cidade. A urbe é fundamental para composição e a voz interna de meus textos. Cafés, bares, ruas, lugares são salas de estudo. Gosto de escrever a mão, então não tenho problema em trabalhar fora de casa. Procuro me manter num estado de latência criativa. E é claro que em algum momento preciso me trancar para burilar as anotações, alçá-las a um nível mais complexo da experiência artística. As ruas podem fazer com que você perca o foco, a concentração. O desequilíbrio, as oscilações de humor, os acontecimentos inesperados só serão produtivos se você tiver um cantinho calmo e silencioso para retornar quando se vir farto, esgotado.
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Os cafés são bons lugares para escritores. Às vezes roubo frases da mesa ao lado. Trabalho valorizando uma dor de cabeça cujo motivo não sei qual é e que me ajuda a pensar de um modo torto. Idéias pululam de vez em quando, noutras ocasiões elas somem por longos períodos. Mas sou apegado mesmo à ação. Sento e escrevo, pratico. Assim desenvolvo as idéias. Agir me faz pensar.
Os cafés são bons lugares para escritores. Às vezes roubo frases da mesa ao lado. Trabalho valorizando uma dor de cabeça cujo motivo não sei qual é e que me ajuda a pensar de um modo torto. Idéias pululam de vez em quando, noutras ocasiões elas somem por longos períodos. Mas sou apegado mesmo à ação. Sento e escrevo, pratico. Assim desenvolvo as idéias. Agir me faz pensar.
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Duvido de quem diz “não escrevo porque não tenho o que dizer, quando tiver, escreverei”. Acontece que se você não escreve, não vai ficar sabendo se tem mesmo algo a dizer ou não. Permanecer no universo da idealização é estar pré-morto. É preciso enfrentar-se. Responder ao medo, com ênfase, como ensina Carlos Drummond ao dizer, se bem me recordo, que tristes são as coisas feitas sem ênfase.
Duvido de quem diz “não escrevo porque não tenho o que dizer, quando tiver, escreverei”. Acontece que se você não escreve, não vai ficar sabendo se tem mesmo algo a dizer ou não. Permanecer no universo da idealização é estar pré-morto. É preciso enfrentar-se. Responder ao medo, com ênfase, como ensina Carlos Drummond ao dizer, se bem me recordo, que tristes são as coisas feitas sem ênfase.
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Daí vai que o corpo é o começo do meu texto. Meu trabalho é absolutamente artesanal. Os livros só chegam bem depois. Não escolho o livro antes de iniciar anotações num caderninho Tilibra. Nunca sei o que será. Não posso dizer que não planejo, pois apesar de tudo, a literatura é uma atividade intelectual. Então há esse diálogo entre o instinto e racionalidade. Há muita racionalidade, é inegável, porque a própria capacidade técnica de se escrever vem de uma espécie de adestramento (a palavra não é exata), tem entre seus fundamentos a alfabetização. Tal instrução liberta, é altamente desejável. As técnicas devem ser dominadas para que as esqueçamos depois, permitindo que o inconsciente aflore. Viver nesse lugar de tensão entre esses dois pólos (instinto e técnica) possibilita que o desconhecido que habita em nós venha ser parte do produzimos.
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Há vezes em que traço objetivamente a composição de uma série de textos. Definido o que desejo como eu fosse um projetista. Mas logo que inicio o trabalho, imediatamente me cobro a liberdade. Então endereço os textos, faço isso, crio para alguém, para o mundo, por amor, por vingança, por política, por ternura, por revolta, por desespero, por orgulho, não importa. Vale que assim eu me implico. Não tenho medo de me machucar quando estou criando.
Há vezes em que traço objetivamente a composição de uma série de textos. Definido o que desejo como eu fosse um projetista. Mas logo que inicio o trabalho, imediatamente me cobro a liberdade. Então endereço os textos, faço isso, crio para alguém, para o mundo, por amor, por vingança, por política, por ternura, por revolta, por desespero, por orgulho, não importa. Vale que assim eu me implico. Não tenho medo de me machucar quando estou criando.
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Depois desse ímpeto inicial, sou capaz de trabalhar o mesmo parágrafo durante a semana inteira. Promovendo inúmeras variações de sua estrutura, invertendo o sentido, retirando de uma frase todas as palavras que a natureza não exige, como li recentemente num belo livro de Gonçalo M. Tavares. Tudo isso me esgota. Porem me importa ter forças para podar arestas – a poda fortalece os galhos. Para mim é muitíssimo trabalhoso deixar de ser prolixo.
Depois desse ímpeto inicial, sou capaz de trabalhar o mesmo parágrafo durante a semana inteira. Promovendo inúmeras variações de sua estrutura, invertendo o sentido, retirando de uma frase todas as palavras que a natureza não exige, como li recentemente num belo livro de Gonçalo M. Tavares. Tudo isso me esgota. Porem me importa ter forças para podar arestas – a poda fortalece os galhos. Para mim é muitíssimo trabalhoso deixar de ser prolixo.
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É importante salientar que tudo isso está num plano ideal que vivo perseguindo. Mas o escritor é tão falível quanto qualquer outro ser humano. E é nesse ponto que quanto mais me enfrento, mais a criação se impõe – eu me nego, me inverto, minto. Só assim posso ser tão sincero quanto preciso. Só assim quem ler o que escrevi com tal verdade poderá duvidar de que aquilo não é ficção. Eu desejo que os leitores esqueçam que estão lendo algo ficcional. O que lêem é a vida mesma. É assim que sinto quando me deparo com a obra de um grande autor. Não estou querendo me comparar, mas acredito que os artistas não podem querer pouco. Não querer pouco é muito o nosso ofício. É por causa dessa tensão entre a verdade do escritor e sua criação formal que a literatura se dá em estado de revelação. A epifania agora é do leitor. É ele quem, em última instância, possibilita a existência das personagens, seus deslocamentos, as trajetórias da linguagem.
É importante salientar que tudo isso está num plano ideal que vivo perseguindo. Mas o escritor é tão falível quanto qualquer outro ser humano. E é nesse ponto que quanto mais me enfrento, mais a criação se impõe – eu me nego, me inverto, minto. Só assim posso ser tão sincero quanto preciso. Só assim quem ler o que escrevi com tal verdade poderá duvidar de que aquilo não é ficção. Eu desejo que os leitores esqueçam que estão lendo algo ficcional. O que lêem é a vida mesma. É assim que sinto quando me deparo com a obra de um grande autor. Não estou querendo me comparar, mas acredito que os artistas não podem querer pouco. Não querer pouco é muito o nosso ofício. É por causa dessa tensão entre a verdade do escritor e sua criação formal que a literatura se dá em estado de revelação. A epifania agora é do leitor. É ele quem, em última instância, possibilita a existência das personagens, seus deslocamentos, as trajetórias da linguagem.
identifiquei-me com teus métodos. quero ler teus livros. bonitos.
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