sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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O estilo cru tem muitas variações 2
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Não decidi. Quando vi era isto, alguém debruçado sobre um punhado de papéis. Neguei por algum tempo. A escrita não é um mar de rosas. A exigência me machuca muito. Mas é um regozijo ver um conto, um poema prontos.
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Sempre achei clichê dizer que se escreve por que não se tem opção. Acho que poderia ser qualquer coisa, mas seria um completo incompetente. Na literatura não me considero incompetente, então talvez esteja no lugar certo. A arte não é um lugar seguro, é verdade, certezas não cabem nela. No mais, você se sente o pior do mundo com frequência, mas pelo menos desconfia que esteja fazendo exatamente aquilo que veio fazer na vida. Mesmo se eu não acreditasse no que escrevo, teria que continuar escrevendo. Então eu sigo, sem perguntar demais.
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Sabe, teve o dia em que compus uma redação que contava minha estória de amor com uma pequena do colégio. Resultou no primeiro 10 que tirei na vida (e foram poucos). Assim, tanto a redação quanto o amor me pareceram algo que continham algum valor. Passei a escrever poemas. Entendi que o invisível que está entre as pessoas, pode que falam mais sobre elas do que as impressões e julgamentos que fazemos. O impossível, o imponderável é que são matéria da literatura, por isso ela não se esgota. É como diz Henry Miller (cito de cabeça): é preciso injetar sangue nos fantasmas.
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Veja, a literatura cobra de você uma coisa que pode ser assustadora: a solidão. Sem solidão não há produção literária. Ninguém se transforma num García Márquez da noite para o dia. Parece-me que a maior dificuldade que um escritor pode enfrentar é a de dar consequência, continuidade à obra.

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