quinta-feira, 19 de novembro de 2009

se te conto uma mentira

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manifesto: Hélio Oiticica não é adocica, meu amor

olhou-se no espelho e saiu com essa: muita gente não gosta de mim... se isso me incomoda? (longo silêncio) me incomoda

sabe, às vezes o ônibus expresso atravessa a canaleta do meu olho e eu sequer reparei o atropelamento

sei, logo mais, 7 da matina, Barigüi assim de saúde... mas pondera, amigo... pode que os novos sádicos do mundo sejam os personal trainers

escutava vozes... uma dizia assim: sei bem que você fabrica o que chamam de “poemas”, mas eu chamo de “outras paisagens do amor”

vivo criando coisas... então criei a tecnologia do afeto... tecnologia do afeto é assim: você não precisa fazer nada, só gostar das pessoas

o telefonema da amada te chamando para ir até a lua é irrecusável, de modo que estou indo

o telefonema de um amigo te chamando para ir até o sol é irrecusável, de modo que estou indo

os fantasmas têm sorte, não são como nós... de noite, não trazem o domingo pesado feito um calzone quatro queijos tamanho família no coração

aos domingos, o tempo não tem margens

não se é feliz no domingo, ele não foi feito pra alegria, mas pra angústia do descanso... daí a razão de todos se excederem tanto no almoço

ontem, no meio da noite, não me segurei, acabei falando: de repente é isso mesmo, sou um piá de bosta, romanticão, meio punk, meio vanerão

boca roxa de vinho, agorinha mesmo, voltando da balada, ela me disse: é só minha a culpa se me afoguei dentro de um peixe no escuro do blues

em Curitiba, o girassol tem torcicolo, as pedras mais duras pedem colo, e os roqueiros mais tolos tocam o pau

o twitter? essa espécie de monólogo coletivo

objetos tantofaz: beijos-chocolate, xícaras de orvalho com adoçante, regadores de suspiros, cigarros de oxigênio

objetos tantofaz: metralhadora de algodão, motores de pelúcia, porta-cachoeira, água-cobertor, manteiga-corrimão, pneus de sabonete

3:56 da manhã: ela e seus olhinhos sujos de entorpecentes, chapados de coisas insuportáveis... vou ninar minha menina má, velar seu sonho

imagens de múltipla aplicação para se escolher à gosto: os ossos das paredes, montanhas dentro dos bolsos, capítulos de fatias de salmão

imagens de múltipla aplicação para se escolher à gosto: beijocas-oiquebomquevocêveio, bolhinhas de fogão, cardumes de trevas

imagens de múltipla aplicação para se escolher à gosto: arco-íris ton sur ton, galáxias inteiras apodrecendo na fruteira

um garçom recém empregado num restaurante fino de Curitiba: eles comem mesmo essas lesmas?, até nos países de primeiro mundo?

um vegetariano norte-americano: é bem diferente ser uma vaca no Brasil do que ser uma vaca na Índia... no Brasil eles comem vacas, né?

um gourmet europeu: não deve ser assim tão diferente ser um vira-lata na China do que ser um vira-lata no Brasil... na China eles comem cachorros?

ainda o gourmet enojado: não deve ser assim tão diferente ser um rato na China do que ser um rato no Brasil... na China eles comem ratos?

objetos tantofaz: trampolim de avião, granadas de neve, galo-relógio, gravata de baba de sopa, livros de casca de cebola

objetos tantofaz: almofadas de lasanha, controle remoto de paisagens, transatlânticos de banheira, coleção de pão de queijo

imagens de múltipla aplicação para se escolher à gosto: espaçonave no céu da boca, pacotinhos de deserto, mandíbulas de papel

imagens de múltipla aplicação para se escolher à gosto: eclipse de amantes, oceano de gaveta, dores de azulejo

objetos tantofaz: pastilhas de dinheiro, violinos de trovão, formigas-trator, guilhotina de plumas, ampulheta sem cintura

o pogobol foi inventado pelos sacis, que (mas isso não lhes faz falta) não podem usá-lo

me fiz antigo quando na escultura de meu fôlego certa vez publiquei meu fogo

toda via, meu fôlego começará de novo quanto mais eu já for outro

engodo brasilis... teus ancestrais são teus antecedentes criminais

congestionamentos, todos os congestionamentos, os congestionamentos vão virar um único estacionamento

era uma outra vez o “era uma vez”

um diretor: por que você faz teatro? uma atriz: porque posso trabalhar descalço

o mesmo diretor: por que você faz teatro? outra atriz: porque isso não é para qualquer um

ainda sobre teatro: Beto Bruel... o cara que ilumina o ator por dentro

Deus opera, mas só o médico tem diploma

cabotinos, uni-vos e prestigiai-vos uns aos outros

os dentes são os únicos ossos expostos do corpo... o sorriso é o começo de uma caveira

penso, logo desconfio... digo, penso, logo desconfio se penso ou não

uma namorada: a nossa relação é como um puff vazando bolinhas de isopor... fofo, é verdade, mas faz a maior sujeira

uma filhinha: mãe, verdade que quem faz bastante fezes fica com a pele boa? a tia da escola que disse

ela: não pode ser, ficar amargurado assim só porque escorpiões cavaram o seu sangue e morcegos se engancharam qual cabides nos sentimentos

ele: tenho muita pena das pessoas. ela: não se preocupe, as pessoas também tem pena de você

tem palavra que cabe perfeitamente na boca, tem palavra que não... xoxota é palavra que cabe

gosto de quem conta estórias, não de quem conta vantagem

abismos são bocas, a Terra, mesmo dormindo, precisa respirar

vulcões não são bocas, são espinhas, podem estar inflamadas ou não

oceanos só têm fome de terra terra terra terra e mais nada

os navios afundados? são só farelos com os quais os mares se engasgam

e os afogados? nunca antes se levou tanto em consideração a evidencia de serem 70% feitos de água

vale mais o dono da carteira do que a carteira (por mais que o dono da carteira não valha nada?)

carteira é somente um lugar para se dormir papel e algum plástico

a carteira de dinheiro dorme e ronca ao meu lado, sobre o criado mudo que, por sua vez, nem sequer pisca a boca, pois não

às 7:15 não é o despertador, mas a carteira de dinheiro quem me acorda

sim, a carteira, sobressaltada em fazer sua atividade física matinal, tomar seu banho frio, ávida por estar até no máximo 9:30 no centro comercial
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2 comentários:

  1. Lufe...depois de ouvir teu conto novo, a ideia pra outro e ler isto daqui, só posso chegar a uma conclusão: você está cada vez mais insano, rs. Só não te chamarei de Leatherface (o cara do Massacre da Serra Elétrica) porque este apelido já dei a um outro amigo. Por ora, acho que só posso dizer que você está com a metralhadora nas mãos, a granada presa nos dentes e um sorrisinho maligno, apenas esperando pra desferir o golpe final, rssss. Abração
    FMAN

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  2. massa massa massa filippo. cara, nossos encontros naquele maldito lucca que agora não pode fumar são fundamentais. a arte é o encontro, maninho. muito bom ter te encontrado. você é um desses talentos raros. e um ótimo amigo. forte abraço. e obrigado pra caralho. lufe.

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