segunda-feira, 9 de novembro de 2009

se te conto uma mentira

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há muitas maneiras de se referir a um amigo alcoolizado... uma delas: estava podre de bêbado. e outra: saiu daqui miando

ele: tô caminhando todo dia. ela: no Parque Barigüi? ele: não, na esteira. ela: í, é o pior. ele: por quê? ela: não leva a lugar nenhum

um farmacêutico genérico: alô, opa, e aí dona, o que vai hoje?, sei, pó, uns ansiolíticos, pó, uns psicotrópicos, pó, sei, pó e uísque

a barba, daí o banho, perfume, roupa nova, prepara-se com esmero para o encontro que, por alguma razão alheia a sua vontade, não acontecerá

um morto iludido: eu nunca devia ter aceitado vir parar no fundo da terra... esse não é um bom lugar para os vivos

a gente nunca volta, a gente só vai, mesmo voltando a gente nunca volta, só vai, e é por isso que o metrô tem duas frentes

é o que sempre digo para atores e escritores muito jovens: uma só palavra e será salvo de viver o real

não perca tempo nem energia, não escoiceie se você não é burro, jegue ou mula

ele lhe fala de vez em quando de modo grosseiro, e ela gosta... é que ele é uma mistura de canalha com poeta

porque não parava de olhar outras na festa e saiu com essa “meu bem, os olhos são solteiros, mas o coração não”, ela lhe bateu com a bolsa

há escuridões que mordem, há os bisturis da bruma... o medo é isso: não ser possível andar mais rápido do que as próprias pernas

os últimos níveis de lucidez também produzem delírios

dentro do frio faz frio

eis outro roteiro possível: o mesmo

não dava frutos, só frustros

ela pede abraços para o amante, carícias no clitóris, beijo na boca, mas ele só quer sexo anal, sexo anal, sexo anal

tudo é absurdo: o orvalho e a ferrugem, a sedução e o desprezo, as aves, os bichos do fundo do oceano, as ramagens, as bromélias, as janelas

tudo é impossível: a simetria, as dádivas, a esmeralda, as espumas, a neblina, os ossos, as catedrais, as janelas

fim de tarde, ao baixar me faz apaziguado o sereno... Santa Felicidade... ah Santa Felicidade

é óbvio que você conhece a fama das belas praias da cidade de Curitiba

Seu Jarbas... todo dia cachacinha ali no Bar Stuart depois do expediente na imobiliária

você é uma mulher feliz?, lhe perguntaram. claro que não, ela disse, imagina uma mulher feliz, que coisa mais fora de moda

um lutador: passei a guarda, mata-leão, a melhor chave de perna, soco no nariz, fiz cuspir o protetor, pedir água, aí ele me beijou, na boca

uma avó: a tv é minha caixinha de primeiro socorros, quase que não enxergo, mas se o volume estiver no máximo, aí dá para ver alguns vultos

posso dar carona. posso dar carinho. também posso dar carona e carinho

ele: detesto tua poesia, deveriam decepar tua mão. eu: odeia tanto assim? ele: falta depuração. e eu: falta depuração mas tem perturbação

um dia eu entendi, aquilo era o butô do mick jagger

sabe, houve uma época em que tive miragens nos olhos em vez de pupilas e retinas

sempre achei que a gente devia vir como que com aquelas barras antipânico dentro da gente

um carinha: ê, olha aí o boy querendo tirar onda de bandido

não notaram ainda que sou um exagerado mínimo

não notaram ainda que sou um minimalista do exagero

imagine um gato num dia de muito calor, ele acabou de cair do 13º andar, suas vísceras vão explodir em instantes

ele: porra, quase soquei a velha, só não fui pra cima porque é mulher, senão, vai se fudê, me chamar de drogado na frente de todo mundo

os infectologistas deveriam conhecê-lo, ele é sujo, fétido, doentio

PÉM PÉM PÉM PÉM PÉM (isso é a incontrolável, e em caixa alta, onomatopéia de um alarme)

ANHE, ANHE, ANHE, AIEEE (isso também é a incontrolável, e em caixa alta, onomatopéia de um alarme)

solidão, velha morada, como vai você?

a solidão não é um dos melhores lugares para se estar

se bem que a solidão pode ser últil, todavia

digo, para aquele que é fútil a solidão pode ser útil (auto-conhecimento, aquela coisa toda)

é sério, acabei de ver um elefante dentro de uma caixa de fósforos em chamas

uma mãe: olha, filhinha, se alguém quiser pegar no seu bumbum ou na pererequinha, você não deixa, e vem correndo contar pra mim, viu

há anos ele vem se guiando pela bússola da contramão

o verdadeiro exterminador do futuro é o presente

escrever, escrever, escrever para alimentar esse cãozinho interior chamado alterego

acabou de se despedir com beijos, que julgaria suaves, não fosse isso de estar me sentindo um peixinho preso ao anzol por um fiapo de lábios

o mormaço se espreguiça no terraço, aí o gatinho chega e recebe seu abraço

enquanto se vai perdendo os dentes, vai-se perdendo a memória, pois não

arriscar tudo como pisasse em gelo fino sobre o lago frio

ela: tô muio doente. ele: todos estamos, mas posso fazer algo por você, além de desejar melhoras? ela: pode sim, para de me envenenar

excesso de realismo ainda é realismo?
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3 comentários:

  1. sempre o bloquinho. =)
    ponha as outras curtinhas aqui, não quero incluir o twitter na minha vida.

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  2. Muito bom os "aforismos". Sempre passo por aqui pra ler seus textos. Grande abraço.

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  3. certo sabri. vou colocar aqui sim, de pouquinho. cê faz bem de fugir do twitter, esse treco vicia. bjs.

    legal maikon... onde cê anda, cara? nunca mais topamos por aí. marcar qualquer coisa qualquer hora dessas? e obrigado pela vinda aqui. abraço.

    lepre.

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