sexta-feira, 30 de abril de 2010

antologia eugénio de andrade

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Eugénio de Andrade
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Há casas
cuja beleza começa no projecto;
outras, e são talvez as mais belas,
existem só na cabeça do arquitecto.
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Há casas feitas à medida do homem,
outras há para andar de bicicleta;
há casas sobre cascatas
onde ao sortilégio da água
se junta a música de Bach.
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Há casas tão ajustadas
como fato por medida
ou um verso de Cesário,
outras de tão confusas
não viram régua nem esquadro.
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Há casas de papel, casas de madeira,
casas de palha e de barro;
casas que trepam pelo céu,
casas que cheiram a jasmim do Cabo;
há casas só para dormir
parecidas com um sudário.
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Há casas onde
habitar é o começar da morte;
há casas de pátios caiados
com varandas para o mar;
casas onde apetece estar sentado
com um gato nos joelhos
e o coração apaziguado.
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Há casas com recantos para amar,
há outras onde o amor
se faz em cinco minutos
e às vezes já é demais;
há casas como um dedal
e geometria de abelhas,
casas de perfil atento
ao rumor das nascentes e das estrelas.
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Há casas como um cristal,
casas de luz circular,
casas onde não é possível
ouvir correr o silêncio; há casas
que de casas só têm o nome;
há casas que nem para cães.
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Há casas tão inteligentes
que não consentem qualquer margem
para luxos e arrebiques,
casas onde a alegria se instala
sem tempo nenhum para a mágoa.
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Há casas onde o pão é triste
e a roupa mal lavada;
há casas que são um rio, há casas
que são um barco;
outras têm pomares
onde os diospiros ardem;
há casas com terras de vinha e trigo
e muros a toda roda.
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Há casas que são um poema
para dar a um amigo.
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Eugénio de Andrade
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Relações de casas boas
e más para juízo dos
arquitectos Carlos Loureiro
e Pádua Ramos.

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