sexta-feira, 23 de abril de 2010

balbucios de blues

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Allen Ginsberg
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.....Meu caro Ginsberg, foi você quem me ensinou: sem ter visões é duro comer merda. Seria mentira deslavada eu dizer que tô feliz, mas também não vou tão mal quanto Catulo lamentando à Cornificio. Se bem que preciso dar um jeito de ganhar um pouco de dinheiro. E, olha, cê tá certo quando diz que minha namorada não é nenhuma Joan Burroughs grávida de outro cara e viciada em benzedrina. Mas é bem bom pra mim ter encontrado alguém que de vez em quando me envia esses torpedinhos: “Todo mundo sofre um pouco, querido, mas tenho mãos milagrosas”. É isso, como pode notar o teu louco bróder não vai tão mal assim, embora você não me dê uma palavra da mais fácil, da mais barata misturada aos hambúrgueres com catchup desses sanduíches da realidade convulsiva. Bom, espero que não esteja puto comigo. Se bem que você sabe, não tenho tido muitos amores, a não ser agora o dessa guria que vive embrulhada em casacos de lã e que não sai das cafeterias e dos cinemas e, quem sabe por isso, há quem pense que é um pouco maluquinha. E talvez ela seja mesmo. Mas sabe, Allen, quando a gente tem uma garota que nos propõe brincar de Guilherme Tell quase todas as noites, acaba obrigado a flertar um pouco com o paraíso.

4 comentários:

  1. rodrigomadeira79@gmail.com23 de abril de 2010 às 12:33

    ótimo, leprevost! pequeno grande texto!

    bacana a ideia de enviar missivas (ou e-mails)
    para os que já não estão, os que já foram estudar "a geologia dos campos santos", como diz até hoje o bentinho.
    preciso mandar uma carta para aden ou itabira.

    rodrigo.

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  2. flertar com o paraíso me dá coisas

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  3. perfeitamente, Madeira. tenho mandado algumas cartas pros campos santos. certamente eles vão adorar receber missivas suas também. forte abraço.

    vai com calma, Lili. rs. bj.

    lepre.

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