segunda-feira, 12 de abril de 2010

já viu como um pinguim anda?

GUADALUPE
Terminal Guadalupe - Pomba
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Petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, milho, milho, petit pavê, petit pavê, milho, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, milho, petit pavê.
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Todo mundo é o hoje. Todo o mundo é hoje. Quanta gente na rua, né? Indo e vindo. Dando adeus. Voltando. Sabe, eu não acredito em democracia o mesmo tanto que acredito no Terminal Guadalupe.
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Petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, milho, milho, petit pavê, petit pavê, milho.
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Minha vida, todo santo dia, é aqui. Cabelo cresceu, vou ali no salão. Tô com tosse? Farmácia. Com fome? Lanchonete. Tô curiosa? Banca de revistas. Tô com sono, vou lá pros fundos e durmo.
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É aqui que vivo, conversando, ajudando, assistindo os ônibus que vão pra Barreirinha. Pro Boqueirão. Pro Centro Cívico. Sítio Cercado (de Ligeirinho). Vai pra Fazendinha. Maracanã. Rodovia da Uva. Do centro pro Conjunto Atuba, pra Vila Zumbi, Vila Palmital, Capão do Atuba, Colombo, Jardim Osasco, Jardim César Augusto, Jardim Arapongas, São Sebastião, São Gabriel, Roça Grande, Cambará, Guaraci, Jardim Ana Rosa, Santa Teresa, Presídio de Piraquara, Urano, Apolo, Aeroporto, Pedro Moro, Xingu, Independência, Braga, Quissisana, PUC, Jardim Ipê, Izaura, Posto Paris, Guatupê, Roseira, Campina Grande do Sul, Eugênia Maria, Timbu, Pousada, Quatro Barras (pela Estrada da Graciosa), Quatro Barras (pela BR 116), São Dimas (Madrugueiro), Pinhais.
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É aqui minha vida.
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Petit pavê, petit pavê, petit pavê, petit pavê, milho, petit pavê.
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Mas qual é maior tristeza de uma pomba?
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Tudo que sei é que estou viva. Eu estou viva, pois não? Mas não tenho a mínima ideia de quanto tempo ainda me resta de vida pela frente. Tenho a sensação que me resta ainda muito tempo de vida pela frente. De qualquer modo, espero que a minha sensação de que me resta muito tempo de vida pela frente não seja uma premeditação dos sentidos traidores. Sim, porque há os sentidos traidores, os que iludem o corpo.
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Sabe, se a ciência um dia conseguir uma geração inteira de humanos não perecíveis, o que será da humanidade? Pra mim os seres humanos são semelhantes às frutas. Veja bem, é ok na condição da fruta o fato de pra ela não existir preservação, ou seja, a delícia dos sabores se diferenciar da podridão por tão pouco.
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Seres humanos... Tudo o que sei sobre vocês é o que temos em comum, o fato de que dentro do frio faz frio. E que pra quem vive no chão faz mais frio ainda.
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Hoje, mais uma vez, vai ser isso, o dia de comer sem molho os ossos desse mundo cão.
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Petit pavê, milho, petit pavê.
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Qual é a maior tristeza de uma pomba? A maior tristeza de uma pomba é não ter mãos. Não poder escondê-las nos bolsos. Não poder contar o troco nos dedos. As mãos com que você segura, afaga, escreve, mata. As mãos são o que inicia a humanidade, a nossa capacidade de pensar. E o que as mãos levam em direção à boca é o que inicia a nossa alma. Alguém que por ventura não tem mãos, terá que fazer de outras partes de seu corpo novas, digo, mãos análogas. Num bebê, antes dele saber usar mãos, as mãos são os peitos da sua mãe. Os peitos da mãe e a boca do bebê são o que inicia a alma dos bebês.
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Milho, petit pavê, petit pavê.
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Como não tenho mãos, mas asas, é bem comum as pessoas falarem pra mim: Você é um anjo. Geralmente não acredito. Sinto-me, desde que tenho consciência, não sei explicar, sinto que sou uma maldita, uma caída. Mas há, é verdade, essa recorrência de me chamarem de anjo. Então, por que não admitir que, sim, eu sou. Talvez, pelo simples motivo de que sou uma garota legal, honesta, carinhosa, educada e coisa e tal. No entanto, logo me chega outra voz da consciência, fazendo com que eu me lembre que também sou egoísta, inconveniente, vaidosa, sei lá, enfim, uma pecador natural. Eu disse uma pecadora natural e não uma pescadora natural. Pescadora... como poderia ser uma sem o uso das mãos. Bem, se eu fosse um pinguim ao menos. Mas não é o caso. Sou apenas essa maldita pomba suja.
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Petit pavê.

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