quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
só marginais transitam por lá, diziam
refúgio das gentes falidas
ruas sem ruidosas buzinas de motocicletas
sem teclados sintetizadores misturados com
sanfonas nas madrugadas
estragadas mulheres
enfermeiros aposentados
gatos pretos que funcionassem
qual manchas de óleo a correr ruelas
ela
atrás de uma cortina fina
mostrava-a mais que ocultava, flores na ventania
ao lado, cachorro desajeitado com cara de jegue
trombando nos móveis da sala e cozinha, um ambiente só
eu o temia mais que aos dragões que
dizem bater asas nos bosques
a qualquer momento abrirá suas asas
mostrará a língua para nós
alçará portão fora gargalhando chamas
enquanto tirarmos os pratos da mesa
a besta resolvia me interpelar com seu focinho e presas à mostra
querendo os pratos
também três homens, trajes brancos, puídos,
riam e jantavam desconexos assuntos
pensão iluminada por velas que pingavam sutis em
nossos olhos marejados de neblina
e o chá preparado por feiticeiras
no outro dia, após o café matutino, passeei
regiões afastadas do perímetro urbano
a periferia da periferia resistia
lugar de antes de haver metrópoles porque metrópole
casas de madeira, samambaias na varanda, hortênsias as cercando
estradinhas brancas que levavam até vacas distraídas
pastando a idade da pedra
sombra lilás de galhos e nuvens
quero-queros no noturno do inverno carregando uma
sacola ampla vazada de estrelas
o armazéns de madeira úmida
e a lagartixa recém acordada de um sono sem relógios
a defender os tijolos da parede de ataques dos mosquitos
nascidos para fazer-nos coçar
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Lançamento da minha primeira novela
há anos a Igreja obsoleta
era um lugar que doía
você adentrava suas dependências
uma força centrífuga sugava a energia dos segundos
o padre veio de outra cidade, há muito
não havia religiosos
para a inauguração, água benta
hoje, o Cine Passado
projeções a iluminar
não souberam um jeito de encontrar Deus lá dentro
Deus, este decepcionado lugar
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
a doença são seus órgãos
quando chegar o momento quero estar longe dessa corja, cospe
militante político outrora
antes morresse numa biblioteca, diz, não é lugar de
vai-vem, mas de permanência
ou nalgum canto onde vaidades houvessem findado
se não em paz, ao menos pra lá dos predadores
mesmo o banal exige rito
despede-se
não antes de experimentar uma última vez o sabor
censurado pelos filhos, do alto de sua sabedoria, nada reclama
noutro dia pensa vapor é o que serei
aquém da infância a eternidade já faleceu
nós velhos devemos temer os mortos, estes terão
que se mudar para outro lugar quando chegarmos lá
morremos e somos os bebês do falecimento, diz
ai o pai já à beira dos delírios
chamam uma mulher, último pedido
o senhor está muito doente?
ele afaga seu braço você, doce, é meu médico, sorri e
tosse os ossos
o senhor é gentil, não queria que
meu bem, todo cardápio obriga a fome, diz o velho
cofia a barba e tomba
os filhos, cinco diante do leito
coitado, ter entrado os dois pés na loucura antes de
cemitério
é jogado para as marés dentadas da terra
a vida de um homem, mergulhar na respiração dos afogados
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
domingo, 4 de dezembro de 2011
aaaaaahhhhh!
e os bocós de mola. paladares oblíquos. sopitosa audição. e os que grunhiam. rútilos olhinhozinhos. mandíbulas marrons
domingo, 30 de outubro de 2011
Ivan Justen Santana
Procura-se desesperadamente:
Pessoas boas que consigam festejar.
Que falem o que sentem bem como o que querem.
Que saibam ser gentis. Respeitem lar e bar.
Mantenham bom humor. E as que vierem e derem.
Que venham sim. Sutis. E demonstrem prazer.
Tanto em cumprimentar quanto em reconhecer.
Gente que leia mais. Frequente lançamentos
No veneno de ler. De avaliar as artes.
De verdadeiramente ampliar conhecimentos
E divulgar o que acha bom por quaisquer partes.
Um público que veja os genuínos artistas.
Que aplauda sem ligar se assim vai dar nas vistas.
Alguém que não precise do choque de agora.
Que leia isso e tolere este tapa na cara.
Que entenda o que é linguagem. Som. Tom. Dor. Cor. Fora
Tudo isso que não cabe em rima pobre ou rara.
Quem ofereça a face. A fuça. A carapuça.
Fure-se a carapaça. Engula. Cuspa. Tussa.
Ivan Justen Santana
(27-10-2011)
http://ossurtado.blogspot.com/
terça-feira, 16 de agosto de 2011
a mão selvagem pássaro-livro da febre
a mão selvagem chão de águas tormentosas
a mão selvagem montanhas crescendo dos dedos
a mão selvagem abismos do arrancar das peles
a mão selvagem faca que estapeiafaga dentro do sangue
a mão selvagem desvairado polvo gozando tintas
a mão selvagem mais a argila que deus a mãe do mundo
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
domingo, 24 de julho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
sexta-feira, 10 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
terça-feira, 7 de junho de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
sexta-feira, 1 de abril de 2011
O Butô do Mick Jagger desnuda dependência agressiva
A encenação de O Butô do Mick Jagger, no Fringe deste ano, lança holofotes sobre o texto. O cenário se resume a uma cadeira e uma poltrona, além de alguns objetos. Todo o destaque vai para o diálogo furioso de Luiz Felipe Leprevost, um dos autores do Núcleo de Dramaturgia do Sesi/Paraná. A penumbra completa o clima de decadência das duas cantoras, vividas com seriedade pelas atrizes Ciliane Vendruscolo e Débora Vecchi. A raiva guardada pelas personagens vai sendo destilada em impropérios e verdades que revelam o quanto as duas estão envolvidas. Vivem um relacionamento íntimo, de dependência e agressividade que lembra Vladimir e Estragon, personagens épicos de Samuel Beckett em Esperando Godot. Se há menos rock do que o nome pode fazer esperar, a simulação do butô, dança fúnebre japonesa, traz uma mudança de clima na segunda metade com bom uso da iluminação. Uma boa estreia na direção de Leprevost. por Helenena Carnieri, Gazeta do Povo.
O link para a página da Gazeta: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/festivaldecuritiba/conteudo.phtml?id=1111569
quinta-feira, 31 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 28 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
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Ao cão que ladra um osso que emudeça a fome.
Calem os pianos e, ao rufar dos tambores,
Tragam o caixão, deixem vir os pranteadores.
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Deixem que os aviões lamentem pelo céu,
escrevendo a mensagem: Sim, Ele Morreu.
Amarrem fitas de luto nas pombas públicas,
E que os guardas de trânsito usem negras luvas.
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Ele era meus dias úteis e meu descanso,
Meu meio-dia, meia-noite, fala e canto,
Era meu Norte, meu Sul, Leste e Oeste ao lado;
Pensei fosse o amor eterno: eu estava errado.
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Quem quer estrelas? Apaguem-nas uma a uma;
Desmontem o sol, tratem de embrulhar a lua,
E escorram todo o mar, ponham fora a floresta.
Porque nada disso (que ainda existe) presta.
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tradução: Rodrigo Madeira
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Funeral Blues
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Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
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Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
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He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.
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The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.
domingo, 20 de março de 2011
sexta-feira, 18 de março de 2011
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Leprevost fotografado por Adriano Valenga Carneiro
Luiz Felipe Leprevost é ator, escritor, poeta, músico, dramaturgo e gosta de torta de limão, apostando ultimamente em cheesecakes. Nesse Festival de Curitiba duas peças são assinadas com sua inspiração: Hieronymus nas masmorras e o Butô de Mick Jagger. O primeiro título faz alusão ao nome do pintor holandês Hieronymus Bosch. Sobre a outra peça, que estará no Teatro da Caixa entre 30/03 e 03/04, confira a entrevista do Em Cartaz com Leprevost:
Como foi a criação do texto O Butô do Mick Jagger, que diga-se de passagem, tem um título bem curioso! Por que tem esse nome? O que te inspirou a escrever esse texto e teria algo, em essência, que gostaria de transmitir?
A primeira versão de O Butô do Mick Jagger foi escrita para uma encomenda, há mais ou menos três anos. A diretora Nina Rosa Sá queria encenar algum texto meu. Então martelei o computador e um universo se impôs. Eu, ao modo beatnik, vomitei a história de duas (ou uma?) estrelas decadentes do rock.
Ao longo dos anos, no entanto, voltei um sem-número de vezes ao texto. O que estou levando ao palco no Festival de Curitiba é o nono ou décimo tratamento. Reelaborei incansavelmente a estrutura inteira, escolhi palavra por palavra, tive grande preocupação com a síntese. E posso afirmar que O Butô do Mick Jagger de agora sofreu influência do dramaturgo e diretor Roberto Alvim, orientador do Núcleo de Dramaturgia do SESI/PR.
A peça tem tal nome porque contém uma apropriação explícita da dança japonesa, de seus fluxos e suas contorções ritualísticas de acesso ao reino dos mortos, às sombras, como também do universo pop sucateado que se vê no rock clássico, especialmente em dois de seus ícones: Mick Jagger e Kurt Cobain. A escritura do texto, o desenho dele na página, mimetiza a dança. Quero dizer, a forma como as palavras estão espalhadas ali sugerem ao leitor que são um corpo que está em ação. E foi daqui, do texto, que eu e as atrizes partimos, para logo ver tudo se complicar ainda mais na encenação.
Como está a expectativa para ao Festival de Curitiba?
Tento não ficar ansioso nem cultivar muitas ilusões. Sabe, tenho aproveitado bem os momentos, respeitando o tempo de cada coisa. Processos teatrais não são fáceis, conforme nos aprofundamos, lidamos com forças que não conhecemos bem. Mas para a aventura de agora não poderia estar melhor acompanhado. A cada dia fico mais entusiasmado com os ensaios, com a construção da peça. Conseguimos formar um grupo e tanto de criação. As atrizes (Ciliane Vendruscolo e Débora Vecchi) são talentosas e totalmente comprometidas com o trabalho. O que mais posso querer? Nossas apresentações serão no Teatro da Caixa, que tem ótima estrutura e, apesar dos poucos anos em atividade, tradição na cidade. Espero que o público venha assistir a peça e que o diálogo (que é o mais difícil) entre nós se dê realmente.
Tem planos para esse ano, seja na literatura, dramaturgia, interpretação?
Logo após o Festival, ainda em abril, será a vez do meu novo livro de contos Manual de putz sem pesares. O lançamento fará parte do ZOONA – encontro literário de Curitiba. Em maio ou junho, minha peça Hieronymus nas masmorras (também no Festival, teatro José Maria Santos, com direção de Roberto Alvim e Juliana Galdino no elenco) entra em cartaz em São Paulo, no teatro da Cia. Club Noir. No segundo semestre, possivelmente vou passar maior parte do tempo no Rio de Janeiro, dando sequência a alguns projetos que venho desenvolvendo em colaboração com a Pangéia Cia. de Teatro e seu diretor Diego de Angeli. Isso, claro, se e a vida não me obrigar outros rumos.