quinta-feira, 22 de abril de 2010

balbucios de blues

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.....Sempre que vou me encontrar com ela preparo um roteiro de elogios, mas acabo errando o texto, engolindo as frases. Treino carinhos na guitarra e tudo que consigo é uma orquestração de gestos hesitados, como se suas coxas, barriga, axilas, sua nuca não pudessem reter minha música depois do gozo. Então volto pra casa chutando pedra, trazendo o Básico Instinto do Fausto Fawcett, que fiquei lendo depois na cama, em voz alta, tentando impressionar as orelhinhas afinadas dela. E uma sacolinha com dois filmes do Wim Wenders, que ela diz ser transformadores. Acredito, mas nesse momento não tenho vontade de ver nenhum, aluguei por alugar, porque ela e o cara da locadora ficaram tirando sarro da minha cara, não acreditando que eu ainda não conhecia essas obras primas. Já em casa, pedi uma pizza, mas nem sequer toquei. Agora que estou faminto, o queijo parece um chiclete salgado. Do lado de fora a madrugada venta morcegos nas copas das árvores. Há luas crescendo febris nos meus olhos. O orvalho sobre a grama preta é uma rara tapeçaria. Na rua não passa ônibus e a sordidez da solidão, com uma faca entre os dentes, se esconde atrás do poste da esquina esperando que algum ingênuo passe por ali. Seguro o cigarro com a boca sem acender. O isqueiro na mesa me diz “lembre-se da lei antifumo”. A garrafa de Coca arrota quando giro a tampa vermelha. Bebo. Não sei dizer se está sendo uma noite difícil ou não. Onde estão os cachorros da vizinhança? Cansaram de uivar? Abro a janela. O ar está um pouco frio e o céu entediado com a maioria dos anjos da guarda roncando leve. Volto pro sofá. Fico aqui raspando a unha no visor do celular pra não perder a vibração da última mensagem dela: “Tava com saudade”. “Eu também”, sussurro pra pornochanchada que está sendo exibida no Canal Brasil. Já são três e quarenta da matina. Estou dormindo sentado, igualzinho meu avô nas tardes de sábado. Estou esperando sentado não sei bem o que e amanhã vai ser um longo dia, começando por minhas cuecas que vou ter que lavar no chuveiro.

6 comentários:

  1. aparece lá, leprê! (e chama o povo aí; já dei um toque no jacques brandt tb) abs..

    [CIA SOLITÁRIOS DO BAIXO-GUAÍRA] apresenta:
    de 20 a 25 de abril, no TEUNI (UFPR), 29, 30 de abril, 1º, 06, 07 e 08 de maio, no Teatro Rodrigo D' Oliveira, 21h32, dos contos de Mauro Leno: "E AÍ, SOLIDÃO...", adaptação e direção: Cesar Felipe Pereira / produção: Ana Rivelles e Cesar Felipe Pereira / prod. executiva e dir. produção: João Graf / ass. produção: Elisa Ribeiro e Naiara Luiza Bastos / cenografia e figurinos: Ana Deliberador / maquiagem: Raul De Freitas / iluminação: Guilherme Giublin / ass. ilum.: Rodrigo Terencio / elétrica: Bruno Nicoletti / registro: Ernesto Vasconcelos e Gustavo Adriano (fotografia); Alceste Ribas e Cesar Felipe Pereira (vídeo) / técnicos: Jair Constantino (TEUNI); Vanda Terra (som) / assessoria de imprensa: Sandoval Matheus.

    elenco: Carolina Mascarenhas, Don Correa, Edu Régnier, João Graf, Luana Roloff.
    músicos: Benê Dias, Isaac Dias.

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  2. genial!

    mas, cuecas no banho é phóda, hein?

    abx

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  3. outra: precisamos de um ator para um curta a ser gravado 05 e/ou 08 de maio.. te indiquei lá (vou fazer a fotografia); se tiver interesse, me dá um toque! abs..

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  4. Cesar Felipe. cara, vou tentar ir na peça do dia 7 de maio. antes não deu. e dias 6 e 8 tô trabalhando também. então só dia 7 mesmo. espero não ter ensaio nesse dia. sobre o curta, se for dia 5 rola, mas dia 8 impossível. que me diz? abração.

    haha, Linhares. cê tem maior cara de quem lava cuecas desse jeito. abração.

    valeu Flavião. forte abraço.

    obrigado Giselle. bj.

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