domingo, 11 de abril de 2010

o último cigarro do maço antes de atravessar a rua dos pinguins tristonhos

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Vila Mimosa, Rio de Janeiro, por Fabiano Accorsi
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Os mais putos

precisei dar um grito microfonado
precisei pular sem pára-quedas
precisei beijar o sapo, decretar feriado
descabaçar futuras Medéias
jogar contra a parede potes de geléia
desmiolar as ideias
e ficar muda pra ter papo
precisei matar com tiro
frequentar retiro
se tem que tirar calcinha, eu tiro
sutiã, anéis, brincos, meias
eu fui loba nas luas cheias
frequentei quartéis, mocós, motéis, mosteiros
trepei ao mesmo tempo com os Sete Anões
e os Três Mosqueteiros
e com todos os guerreiros medievais
e com todas as torcidas dos futebóis
em troca de duas notas de dez reais
e alguns goles de café preto
sim, eu fui o que você quiser
e poucas vezes tive medo
eu poucas vezes tive medo
quando provoquei porrada
cheirei bucetas e cocaínas
como fosse a fada alada
mergulhada no esgoto, recebendo arroto
gozada em todos os buracos
me cortei com gilete, com caco de vidro
me queimei com charuto e gostei, não duvido
porque eu amei, eu amei, eu amei os mais putos
e por isso agradeço, como quem agride, agradeço
e ardo, ardo como quem aguarda, eu ardo

3 comentários:

  1. Amo!
    Sou revirada nas entranhas cada vez que leio ou ouço isso...
    Aliás, bem que você podia aparecer para cantar isso para a gente, né?

    Eu agradeço!
    ;P

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  2. eba Léo. que ótimas palavras. quer dizer que esse poema é nervoso, rs. vou falar ele lá no Wonka, terça, dia 20, vai lá. convida o Ricardo. obrigado. beijo. Lepre.

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  3. Acabei de escutar essa poesia no evento no Sérgio Porto, declamado pela Thaís Gulin, e chegando em casa uma das primeiras coisas foi jogar no google. Linda! Vou explorar o blog!

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