sexta-feira, 7 de agosto de 2009

especulações sobre o amor simples

Maria Scheneider e Marlon Brando, Último tango em Paris
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Só o beijo que rasga não é esquecido. Ela se atem à cabeça, depois à base, pentelhos, engole, a boca mais aberta, movimentos lentos, masturbação oral, látex não, não conhecemos camisinha. Ela bate uma siririca, eu olho. Ela lambe meus mamilos, calmo ziguezague de línguas, ela é uma cientista da anatomia do meu corpo, começa a me cortar, aos poucos. Depois volta para o saco, lambidela no cu, fujo. Ela não é uma dominatrix, eu não sou um cara com uniforme de bombeiro. Optamos por carinho e cuidado. Posições ginecológicas? As pernas em ângulo de quase 180 graus, pornô, sim, mas com amor. Não são exatamente besteirinhas o que falo nos ouvidos dela. Opto em ser atencioso, nem ela parece adepta do sadomasoquismo, nem há roupas de enfermeira nos cabides, tampouco escolhemos sexy-langeries antes de chegarmos aqui, ela não veste espartilhos. Sabe me segurar pelo cabelo, a parte de trás da minha cabeça enquanto eu a chupo. Sabe prender com dez dedos o redor do meu punho, melhor que algemas a pressão que faz. Sabe agarrar os pêlos do meu peito e quase arrancá-los feito rasgasse uma camiseta. Ela sabe ir por minhas artérias, alcançar meu sistema nervoso, me hipnotizar, ir me sarrando, me permitindo provar canapés de sua polpa, o que chamo xana, chamo xota, chama, enxame. Ela me beija sobre a cueca, tira minha cueca, chupa, tenta aproximação anal, fujo. Ela monta em mim, rebola, não feito puta, mas bailarina. Depois, sim, é puta e não deixa de bailar, nem seu carinho diminui. Nem são posições do kamasutra aquelas, são uma técnica de desde sempre, e muito nossa. Nenhuma semelhança com frango assado. Que idiota sussurraria tesuda no ouvido de sua garota sem resultar no enrubescimento do próprio pau? Esperma, é o meu esperma, são as carnes pudendas dela, lavou, tá novo. Mas não nos lavamos, prosseguimos, às vezes sem tirar de dentro, esperma lavando esperma, camadas de gosma seca debaixo de gosma nova, e o odor. Chame fetiche quem queira. Talvez ela guarde vibradores na gaveta, mas não vou conferir, não me interessam aquelas coisas com formato de pepino, avestruz, capitão gancho. Ela cavalgando interessa, suas pernas fadigadas, as panturrilhas suadas, a nuca querendo se esticar e lá no alto o pescoço de leão a girar feroz, a alcançar sua jugular para sugar sua pureza e doença de ser mulher. O colchão nos engole, sou eu o causador de uma voracidade traiçoeira, estamos nos metendo pelo corpo um do outro, sozinhos mas não separados, sozinhos feito aleijões um do outro, sem ela estou inteiro mas aleijado dela, uma parte de mim, não uma perna, talvez mais do que isso, não existe, um lado meu, moral, metafísico, interior, fundo, é removido dela, por ela, sua revelia é todo aceitação. E o grelo está aqui na minha frente, a mulher ao redor de uma buceta, o grelo um bichinho sem escrúpulos, qualquer movimento e é imprescindível que criemos garras. A matéria do que ela é feita treme, quase uma inconsciência sísmica, agora ela manobra sobre mim, 69, estou embaixo, calcanhar de um no lóbulo da orelha do outro, saco, virilhas, o cu dela, ela vai no meu, não tenho aonde fugir. Somos bife sobre a chapa borbulhante, as fibras endurecem, células se contorcem, mangue branco, as pálpebras querem virar do avesso e levantar vôo para dentro de um céu que é o interior do globo ocular. Acreditamos ser pássaros libertos, morcegos frutíferos. Há lugares em que só chegamos apostando na incerteza, abismos podem ter rede de proteção ou não. Ela não é capaz de conter gemidos, o busto se empina como que por conta própria, em alavanca, a lombar em ângulo convexo, minha boca, os dentes dela, a língua dela, saliva, nossas línguas duas lesmas dando nó. Os dedos, palmas das mãos, as barrigas, umbigos, o ventre, os pentelhos sem depilação. Calado, concentrado me dedico à foda, à função de fazê-la gozar, de deslizar, e ela às vezes diz mais, às vezes pede sim. Os seios, bicos rosáceos, ora marrons, um par de tetas não é o melhor amigo das melodias, só se for capaz de se assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, não que eu não seja, eu sou, mas nós dois somos um tácito acordo entre silêncios, silêncios que se traem em sussurros, dengos, pedidos, ordens, súplicas. Meu pau bomba, teu pau, ela sussurra. Lentamente de novo o que fazemos é amorzinho gostoso, um exercício de maratonistas que não pretendem cruzar a linha de chegada. Punheta. Chupeta. Sem que haja precipitação, e ela é um precipício outra vez. Como chegar ao fundo sem que eu me espatife lá dentro? Meus pentelhos nos pentelhos dela, estou duro, ela encharcada, somos gosma e cheiros fortes. Penetrar uma mulher é recuar até o lugar no tempo em que o tempo esqueceu de si. É recuar aonde nos alcança o susto, o baque que nos pega desprevenidos. Sempre o despreparo, surpresa e júbilo mais maldição, catarse e dor. Continue é a palavra pendurada nos lábios dela. Não, não é uma palavra, é uma ordem. Encaixe e simultaneidade, a mais reveladora das intimidades é a menos familiar. As polaridades mais incomuns entre nós dois provocam as mais esquisitas identificações. Estamos conectados qual fios que ligam nas tomadas as máquinas, grudados feito cão e cadela na sarjeta. E temos harmonia, ela abraça minha perna, a que pensei ter amputado. Ela aperta as unhas roídas nos meus ombros, alguém que acaba de ser salva. Ela age, é assim que me executa. Lógica não há, quando muito a tudo a lógica esfacela. Manchas nos lençóis, os lençóis não interessam. E a lógica é um acontecimento com o qual não nos preocupamos agora, somos da raça das feras, dominamos como ninguém o ofício de sermos animais. É um trabalho, ambos nos dedicamos. Eu baixo os lábios feito fossem insetos suicidas abandonados no suco de pólen entre coxas. Ela de algum modo se infiltra por baixo da minha pele, subcutânea bóia na maré convulsa de meu sangue. Fazemos cócegas às epidermes um do outro, e pau, pau e buceta, gozamos de novo e não tiro de dentro, estou agasalhado por seus sons guturais de fêmea ferida, seu fundo é agradável e convincente feito uma prece. Até que ela perde o controle da respiração, na falta de ar se perdem seus xingamentozinhos, ela treme, evapora em meu hálito, depois é osso, também as cartilagens dobram. Mordidas, nós nos latimos, rimos, mastigamos um o outro, não somos vampiros, ou vampiros tenham dentes afiados no corpo todo. Meus joelhos têm dentes, o abdômen dela abre a mandíbula e destroça minhas orelhas, nacos de gemidos, farelos não de lábios que sangram, porém os glóbulos do sufoco. Agora vai findando a noite e estamos nas preliminares de novo, os movimentos dos corpos se abandonam à humildade de sermos migalhas desde o princípio. Isso, migalhas de paixão, restos, isso, restos de sopa de saliva, não nos pertencemos quanto nos perdemos. Somos mais que dois, e um, estamos sem controle e ainda não enlouquecemos, porém nos afinamos com insanos e insones, debruçamo-nos fora da cama, joelhos ralados, de quatro, pêndulos flamejantes. Ela levanta o quadril à procura da minha fuça, a palma da língua, os dedos dos lábios, e é a boca dela maior do que ela inteira é a boca de dela, nos engolimos, escorregamos no tobogã da garganta, a goela, minha porra, ela lambe. Subimos pelos umbigos, barrigas, peitos, pescoços, queixos, bocas, de novo as bocas, nos beijamos e é um beijo de quem sabe amar também de olhos abertos. De tanto nos olharmos fazemos transfusão de olhos, ela me vê com meus olhos, eu tenho os olhos dela e não sei se suporto o vislumbre de tanta dor em suas paisagens, a agonia dos recantos depredados de seus afetos. Fingimos, nem sabemos se é incesto, queremos o mesmo sangue em nosso sistema venal. Enganamo-nos tão bem até chegarmos à essência de uma verdade, e somos fragilizados por ela, penalizados. O prêmio esconde algo de demoníaco nos recantos, o que somos de subterrâneos. Ela é o diabo que me carregue. Eu devo ser algum cristo em suas chagas. O meu é um coração de búfalo. A ciranda dos quadris dela giram rápido demais, e eu não consigo me acostumar, tenho ânsias de vômito. Nossos beijos funcionam às vezes feito moedores de gritos. Ela é minha garota, e está de bruços.

5 comentários:

  1. Essa coisa de seguir blog é meio idiota, mas sei que o seu está em minha lista e não lembro se já estive aqui. Mas agora estou e estourei ao ler seu texto. Bom demais da conta. É o que anda na boca dos que sabem falar.

    Um prazer.

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  2. acho que esse texto é tipo aqueles que pode ler de cima para baixo ou de baixo para cima... assim como algo que não acaba, gira, gira, gira. Como uma bela noite de amor nunca esquecida.

    B-Juju

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  3. letícia, obrigado, viu... fui lá no seu blog também e adorei as coisas que você escreve... que fôlego e requinte você tem. beijo aí. e venha sempre.

    juju... nesse texto valem todas as posições, haha.

    bjs. lepre.

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  4. Estava a procura de uma imagem e vim parar aqui...Não pode sair ate terminar de ler...e simplesmente AMEI o que li...

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  5. bendita imagem, rs. obrigado, Sol Barreto. bj. lepre.

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