quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NA VERDADE NÃO ERA, 5ª, 6ª, sábado, às 20 horas, domingo, às 19, no teatro josé maria santos

Ana Ferreira em cena... aplaudindo ou rezando?
.
Pequeno diário sobre o temporada de Na verdade não era.
.
A peça estreiou com potência total. Nunca vi as três narradoras, Cili, Ana e Kelly, tão bem afinadas, jogando o tempo inteiro. É inacreditável o que atrizes de talento podem fazer com aquele amontoado de letras outrora condenadas ao papel... cada frase tinha um corpo, cada vírgula era expressiva. Tudo ecoou na platéia e de lá voltou, numa renovação contínua. E foi só o primeiro dia. Quando U entrou em cena, com ela veio a prova viva que toda eventualidade é premeditada. Nalgum lugar sempre estará a beleza conspirando à favor da arte, por mais que tenhamos que ir buscá-la em lugares desagradáveis. A Nina é mesmo uma grande diretora, a confiança que o elenco deposita nas apostas dela, e a resposta estético-afetiva evidente, pulsando aos olhos de qualquer um. O público na saída me pareceu bem imprecionado, o contato foi feito, os dois países, palco e platéia, aproximaram-se e num abraço fraterno disseram um ao outro: Acho que sou teu primo, como é o nome do teu avô?, meu deus, então somos mesmo parentes próximos! No mais, fiquei feliz que minha tão estimada Katharina (pra mim seu nome sempre vai ser com K) Negraes, a primeira atriz a levar texto meu à cena anos atrás numa performance, fiquei feliz por ela estar ali, vendo o que começou um dia a ser concebido a seu pedido... a minha causa por sua causa.
.
Veja o que saiu na Gazeta do Povo, ontem (dia 5). Resenha escrita pela critica Luciana Romagnolli.
.
A peça Na Verdade Não Era, do Teatro de Ruído, volta ao cartaz depois de uma boa recepção no Festival de Curitiba.
.
Uma das peças locais que alcançaram maior projeção no último Festival de Curitiba retorna ao cartaz esta semana. Na Verdade Não Era, apresentada na Mostra Novos Repertórios pelo grupo Teatro de Ruído, inicia hoje à noite uma nova temporada no Teatro José Maria Santos, onde permanece por um mês, pelo Circuito Cultural Sesi – Teatro Guaíra.O espetáculo é fruto do encontro entre a diretora Nina Rosa Sá, da extinta Cia. Provisória, com o dramaturgo Luiz Felipe Leprevost. Eles se conheceram quando participaram juntos de uma leitura de escritos de Hilda Hilst. Logo, acompanhando o blog do novo amigo, a diretora se interessou pelo que ele escrevia, e comandou a leitura cênica de um fragmento de 20 minutos, então intitulado Na Verdade Não Era um Sinal de Vá Tomar no Cu.
.
A parceria foi dando certo, encontrou lugar na Mostra Cena Breve do ano passado e evoluiu para um espetáculo completo, ao mesmo tempo em que Leprevost e Nina fundaram juntos uma nova companhia, a Teatro de Ruído.
.
Para aquelas poucas páginas iniciais se avolumarem até o texto final, urdido com tintas surrealistas, o dramaturgo se serviu dos traços de personalidade que as atrizes Ana Ferreira, Cilliane Ven­drusculo e Kelly Eshima haviam conferido às personagens na ocasião das leituras. “A Kelly tem uma veia mais cômica que fica clara no texto, a maior parte das falas engraçadas é dela. A Ana tem uma postura questionadora mais incisiva. E eu acabo sendo mais diplomática”, comenta Cilliane.
.
Ela centraliza a narrativa das aventuras da garota U, da qual se ocupam as três atrizes, vestidas como pinos de uma partida de tabuleiro. Movem-se o mínimo possível, para deixar que as palavras ditas ganhem toda a atenção. Como peças do jogo, alternam a vez de falar, ora competindo entre si, ora se ajudando mutuamente a inventar a saga urbana por Curitiba.
.
Leprevost trabalha com um texto completamente narrativo. A ação se dá na fala. Nosso trabalho foi como imprimir diversas camadas a essa história, porque é engraçada, mas tem também uma dimensão do trágico, do caos urbano e dos seres que estão à margem”, diz Nina, citando figuras como as universitárias que custeiam seus estudos trabalhando como garçonetes, a velha mendiga e as senhorinhas praticantes de budismo sempre vestidas de roxo.
.
Outro tema incubado na peça é o estar só na multidão da grande cidade. “A solidão, benzinho, é essa manada que tá aí”, diz a certa altura o texto.
.
Dois atos se passam em que toda a “ação” é condensada na sugestão intensa de imagens. A partir de um terceiro momento, os planos do real e do imaginário se confundem. Saem as três contadoras de histórias e entra em cena a própria U, em monólogo de Uyara Torrente, que não à toa emprestou a primeira letra de seu nome ao papel que interpreta. E U diz que as outras é que eram personagens da sua imaginação.
.
Entusiasmado com a boa acolhida que teve até agora, o Teatro de Ruído planeja prolongar a vida do espetáculo, inscrevendo-o em editais e festivais pelo país. O primeiro a ser confirmado foi o Festival de Teatro de União da Vitória, em outubro. Luciana Romagnolli.
.
Serviço: Na Verdade Não Era. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3304-7954. Quarta a sábado às 20 horas e domingo às 19 horas. R$ 10 e R$ 5. Até 30 de agosto.

4 comentários:

  1. Me considero leigo em artes cênicas. Me restrinjo a separar as obras em duas classes, as que eu gosto, e as que eu não gosto. A "Na Verdade Não Era", me obriga a criar uma sub-classe dentro das que eu gosto, as que me impressionam. Texto muito bem elaborado, e performance das atrizes espetacular. PARABÉNS, o Teatro do Ruído com certeza vai colecionar muitos elogios. Abraço especial a Ana Ferreira. Attila Jr. (attilakjr@click21.com.br)

    ResponderExcluir
  2. obrigado, Attila Jr. para nós é muito importante receber um comentário caloroso como o seu. a ana ficou muito feliz. obrigado mesmo. e apareça sempre. lepre.

    ResponderExcluir
  3. Caro Luiz Felipe

    Eu colocaria o Na verdade não era em duas das categorias do Attila Jr. As que gosto e as que me impressionam.

    Não conversamos muito sobre o Espetáculo em nosso casual encontro no Lucca Café no domingo a noite. Mas cheguei em casa e fiquei tentado a rabiscar um texto, pois o espetáculo tem elementos estruturais peculiares e muito interessantes.

    Parabéns.

    Marcos Cordiolli.
    http://cordiolli.wordpress.com

    ResponderExcluir
  4. obrigado marquinho. fiquei muito feliz com tua presença na peça. nosso encontro foi agradável, né. muitos papos correm, acabou não dando pra falar da peça com mais cuidado. mas se você ficou pensando em casa, isso, pra mim, é já uma espécie de glória. obrigado mesmo, maninho. forte abraço. lepre.

    ResponderExcluir