terça-feira, 4 de agosto de 2009

entrevista com fal azevedo

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A escritora Fal Azevedo, autora de Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite (Editora Rocco), foi entrevistada pela Revista Bula (http://www.revistabula.com/materia/questionario-proust-fal-azevedo/1332).
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Fal é muito divertida, mas, claro, como convém aos bons escritores, não só isso. A sagacidade de seu humor exige de nossa inteligência. Li dois romances dela, O nome da cousa (Editora Komedi, 2006) e Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite, ambos trazem o característico traço irônico. Você até ri, mas o tapete do leitor é puxado a todo momento. Você precisa ser tão ágil quanto o texto, e mesmo assim dificilmente conseguirá organizar no cérebro tudo aquilo que os livros provocam. São obras críticas, lidam com tragédias cotidianas. A narradora não é piedosa nem consigo mesma. Poderia ter sido a Fal a inventora daquele dito popular: Só dói quando rio.
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Pois bem, depois que uma escritora desse nível cita você numa entrevista, a tua responsabilidade, no mínimo, triplica. O que posso dizer? Que, eu que não me acho o máximo, que às vezes me pego pensando "por que continuo com essa porcaria toda?", eu tenho me esforçado pra cacete (e quem me conhece intimamente, ou foi minha professora de alguma aventura, sabe quanto sou preguiçoso), e mesmo assim (talvez por culpa da preguiça) sofro a angústia de não achar que a dedicação é suficiente. Vejo tantos talentos, escritores que admiro, vejo verdadeiros gênios (de verdade, sem cinismo) pertinho de mim, gostando de mim, dividindo comigo sua amizade. Isso me comove tanto. Tudo que desejo nesse momento é que a literatura brasileira se torne cada vez mais relevante, que meus contemporâneos tenham seus sonhos, objetivos, como queiram, atingidos. E me incluo nisso, nesse momento com a novelazinha em que tenho trabalhado. Sabe, a Fal está sendo por demais generosa com esse escritor de mão inchada.
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Também agradeço tanto ao meu inestimável amigo Elísio Brandão, que salvou minha vida quando no Rio de Janeiro passei por barras pesadíssimas. E também por ter me apresentado a arte da Fal, quando anos depois eu já me encontrava bem, mais vivo do que nunca.
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Confira a entrevista da Fal. E desculpe a cabotinagem, mas terei de destacar o trecho em que ela me cita ao lado do escritor Pedro Vitiello, pois me alegrou sobremaneira.
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Questionário Proust: Fal Azevedo
01/08/2009 Por
Carlos Willian Leite em entrevistas
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"Ninguém me ama, ninguém me come, ninguém me chama de panetone"
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Fal Vitiello Azevedo, 38 anos, paulistana. Escritora, tradutora, professora e blogueira, autora dos livros “Crônicas de Quase Amor”, “O Nome da Cousa” e “Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite”. Edita desde 2002 o blog
Drops da Fal, da primeira geração de blogs brasileiros. Também é colunista do IG, onde escreve sobre “atualidades e coisas da vida” como ela mesmo define. Nas palavras do professor Idelber Avelar: “A escrita da Fal não se parece com nada que você conheça. Algum crítico literário mais apressado poderia dizer que é uma “reprodução da oralidade”, mas é muito mais que isso. Às vezes, é como se a dicção registrasse os movimentos do corpo. Tente imitar aquilo e você passa vergonha. É inimitável. Eu brinquei uma vez com a ideia de que os blogs inventavam outra forma de narrar a experiência. Aquela banalidade bruta, do cotidiano — vizinhos, programas da madrugada, o policiamento do prazer — pode de repente exalar uma cintilação inaudita no momento em que se transforma em matéria narrável. É com isso que Fal nos brinda todos os dias. Tradutora de mão cheia, ela inventa uma língua. Nada menos”. Participaram da entrevista Carlos Willian Leite (Bula), Tainá Corrêa (Bula) e Nelson Moraes (Ao Mirante, Nelson!).
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Fal Vitiello Azevedo, com um nome bonito desses nem precisava de entrevista. Mas diga aí, onde começa sua genealogia?
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Fal é apelido de escola que pegou e ficou. Hoje em dia eu só sou Fabia para o gerente do banco. Vitiello é meu sobrenome de solteira. Azevedo veio do Alexandre ( marido de Fal, falecido em 2007), e eu uso com o maior orgulho.
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Quem é a escritora, a menina atrás da escritora Fal Vitiello Azevedo?
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Ah, faz tantos, tantos anos que não tem menina nenhuma aqui. What you see is what you get, baby, infelizmente. Só tem eu mesmo.
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Você é da ala das inspiradas ou das construtoras?
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Das piradas.
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Nelson Moraes — O que é mais divertido: parodiar novelas ou enovelar paródias?
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Hohoho. Parodiar novelas. Adoro.
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Nelson Moraes — A blogosfera pensa muita coisa legal. Onde está a contradição? ("Em a blogosfera pensa", uma contradição em termos, ou "legal", já que com a lei Azeredo muito coisa periga ficar ilegal?)
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Hahaha, sou fã incondicional da blogosfera e acho que a história nos fará justiça.
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Quem é o gênio da raça na terra brasilis?
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Nelson Rodrigues.
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Se pudesse voltar à vida como outra pessoa, quem seria?
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Qualquer um menos eu.
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Quais são os personagens históricos que você mais despreza?
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Adoro todos. Os históricos e os histéricos.
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Um blogueiro chato? Mas não vale desconversar nem citar si mesma?
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Meu irmão. Ele me mandou dizer isso.
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Um blogueiro genial, não vale citar o Nelson (Ao Mirante, Nelson!)?
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Meu irmão. Ele me mandou dizer isso também. Modesto, né? E tem o Idelber, the master, (
O Biscoito Fino e a Massa ) e a Ana Paula (Urbanamente).
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Machado de Assis, Glauber Rocha ou Marcelo Tas?
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Machado todos os dias. Os outros dois, nunca.
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Qual diretor de cinema brasileiro que vale 50 por cento de Luchino Visconti?
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Nenhum. Ninguém vale nem um dedim do pé do velho.
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Quais os escritores fizeram/fazem a sua cabeça e quais músicas compuseram/compõem a sua trilha?
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Enquanto eu estava crescendo, os Veríssimo, Stanislaw, Julio Verne, Vinícius, Quintana. Já grandona, E. Bombeck, Eça de Queiroz, Cesário Verde. E agora, “véia”, eu descobri o Eduardo Almeida Reis, amor para o resto da vida, genial, engraçadíssimo, sacadas antológicas, texto impecável. Amo. Ah, e sempre e para sempre, Melville.
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Nelson Moraes — Que ilha você levaria para um livro deserto? (A do Robinson Crusoé não vale).
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Ah, um paraíso fiscal. Porque, gente, qualquer livro fica bacana quando a gente tá de maiozinho vermelho, bebendo piña colada nas ilhas Maurício. Até os meus.
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10 anos a mil ou 1000 anos a dez?
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Um ano só, crianças, e bem devagarinho.
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Deus é cientificamente plausível?
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Não. Mas se fosse plausível não prestava pra ser Deus.
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Qual o melhor caderno cultural brasileiro?
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Hum, eu gosto do da Bravo.
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Qual a grande revelação da literatura brasileira?
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Pedro Vitiello e Felipe Leprevost. O fato desses dois caras não estarem sob contrato dalguma editora é inacreditável.
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E a grande farsa?
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Ah, não, não me mete nessa conversa que já tem gente demais me odiando.
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Com quantos — Chico Buarque — se escreve um romance?
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Nenhum. E olha que eu sou devota de São Chico. Pra mim não há ninguém maior, ou melhor, em época alguma, lugar nenhum, nunca ninguém fez nada parecido com as músicas dele. Mas os livros são de lascar.
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Afinal, Bentinho gostava de Capitu ou de Escobar?
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Da Capitu, gente, da Capitu.
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Sarney é Dom Quixote ou Sancho Pança?
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Não conspurquemos a obra do sensacional Cervantes. Ele não tem nada a ver com essa lama.
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O que fazer quando o inferno astral não passa?
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Parar de acreditar em bobagem e ir estudar.
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As promessas são para serem cumpridas? Ou apenas prometidas?
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Promessas são, sempre, para serem quebradas, e quanto antes a gente aprender isso, melhor.
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A vida é curta para ser pequena ou o Chacal estava errado?
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É curta, é pequena, é perigosa, é peguenta, é cara, é complicada e não é para amadores.
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Quanto custa um link no Drops da Fal?
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Um milhão de dólares. Vai querer quantos?
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Nelson Moraes — Falando em drops, pra quem você diz "drop dead!"?
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Para ninguém. Para os imbecis — que não são poucos, meu mais solene silêncio.
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Nelson Moraes — (Uma variação da pergunta anterior: pra quem você daria um drops de strawberry e pra quem você daria um drops de jiló?)
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Então, de jiló, pra ninguém. Nem isso. E mesmo o de strawberry, pra pouquíssima gente. Tou ficando seletiva que só. Uma hora a gente aprende.
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Complete o versinho: Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de...?
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Ninguém me ama, ninguém me come, ninguém me chama de panetone.
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Como gostaria de morrer?
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Rápido. E logo.
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Se existir o céu, o que gostaria que Deus te falasse na chegada?
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“Só te chamei porque o Alexandre pediu. Entra, cala a boca e se comporta”
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Que epígrafe te acompanha?
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Oh, Ahab! “O que houver de ser grandioso, em ti, deverá forçosamente ser arrancado ao céu e procurado nas profundezas das águas e esboçado no ar incorpóreo (H. Melville, Moby Dick)”. Não é do cacete?

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