domingo, 9 de agosto de 2009

o pão brutal de ontem

Enfermeiro enfermo
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A cada injeção nos poros penso: Tudo que quero é que acabe o plantão. Vou para casa, eu e meus monstros soterrados, esquecidos no movimento da manhã, depois de 72 horas no ar. Diga-me para onde rasteja um câncer raivoso que vou atrás. Diga-me onde são necessárias sondas e estarei lá. Etc etc etc. O extrato do banco chega, não abro, ele tem olhos de leopardo, e não estou anestesiado. Batizo dez olhares na outra face da moeda e as solas dos pés novamente somam as escadarias. Zzzíííííuuuuu (isso é uma onomatopeia) e aqui estou eu do primeiro para o sétimo andar do Hospital das Clínicas. Faço a raiz quadrada do número de leitos da UTI, paisagem sem contemplação. Nenhum avistar é conhecido, nem na fuga nem na dança. Alguns gemem, outros berram. Outros são o silêncio, e assim (só assim) pode que estejam sãos. Desconhecendo o fim de tarde abro brechas com morfina. Eu e a paisagem, alvoroçados, somos duas macas a nos chocar o conflito das ferraduras. As injeções parecem insetos peçonhentos. Sim, sou uma espécie de escorpião.

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