sábado, 8 de agosto de 2009

o pão brutal de ontem

Doses de tardes derrubadas nos fundos dos edifícios
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Diana decide matar o Senador. Diana sabe que não passa de uma mulher de salto alto, reumática, de cinta-liga e com estrias, viciada em notas de 50 e em pagar boquete para poderosos debaixo da mesa, no escritório, às 10 da manhã. A pior coisa que ela fez em toda sua vida foi ter se mudado para Brasília. Diana sabe que não passa de uma embarcação pirata singrando o macio das línguas de outras garotas de programa em boates com espelhos no teto e sofás vermelhos quando já acabou o expediente. Diana não almeja dores, mas sustenta o câncer da praticidade. Diana bebe doses de tardes derrubadas nos fundos dos edifícios, desavisada, entre latões de lixo, restos de comida e as entranhas dos gatos sarnentos mais combalidos, é péssimo o lugar em que mora. Diana decidiu que vai mesmo fazer isso que está indo fazer, matar o Senador. Ela desistiu de tudo, de tanto que dinheiro compra dinheiro, de tanto que o que reluz retém o escuro, de tanto que se fosse uma atriz de cinema bastaria Don Corleone estalar os dois dedos indicando quem deve fazer o serviço e quem vira comida de verme. Por isso Diana adoeceu a valer, ela compreendeu que o que sobra relampeja. Agora o que seduz Diana é uma Beretta 92 que ela viu na internet empunhada com firmeza, é isso o que seduz, e não seus sonhos de felicidade. É hoje, Diana, e agora. Ela vai arrasar. Já está no apartamento do Senador. Em pensamento reproduz um diálogo tirado de um filme que assistiu tem muito tempo: Você é ingênuo, senadores e presidentes não matam. Faltam dois minutos para as 10 horas quando ela entra no quarto do Senador, que ainda dorme, e é sexta-feira: Quem é ingênuo, Kay? Esse é um diálogo que Diana gosta, o diálogo dá coragem para ela fazer o que tem de fazer e está fazendo. O Senador não quer acreditar, mas quem disse que há tempo para o espanto? Você, Diana?, não... Acredite Senador, Diana fez um pacto, agora chegou sua vez. Não é Diana quem dá o beijo na boca do Senador sussurrando “você é meu”, não, não é Diana, mas o cano da arma. Não é um tiro de Beretta o que se ouve, essas armas que se vê na internet são muito caras. Então acaba que não é um tiro de Beretta o que se ouve, mas é um tiro. Diana está tranquila.

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