sexta-feira, 11 de setembro de 2009

balbucios de blues

naquela época
enquanto eu fazia as malas, ela mascava balas de goma
eu só a procurava nos fins de semana, mas ela me
queria todos os dias em sua cama de pregos
eu não acreditava como uma garota linda como aquela
podia estar comigo
ela dizia que eu era esquisito
como podia não gostar de descer pra praia?
era porque eu tinha vergonha de tirar a camisa
ela, por outro lado, não ia muito ao Café Mafalda, por princípios
eu amava os cabelos cheirosos dela
o vinho fazia tão bem para seu coração
e o meu estava constantemente derramado numa taça esperando
mas ela não tinha um paladar com critérios dos mais elaborados
jamais diferenciaria uma preciosidade de algo que apenas
mantivesse seu cérebro anestesiado
por isso às vezes me trocava por algum ou alguma idiota
talvez gostasse do vômito, da resseca no dia seguinte
se tudo der errado, dizia cheia de dengos
me suicido com uma navalha que não grita
por aí pode-se intuir que minhas futilidades enchiam o saco dela
que também reclamava das minhas roupas de velho
as roupas, por sua vez, não se incomodavam com o
fato de meu corpo viver cansado
eu era mais um dos indigentes filhinhos da
mamãe que vivem por aí bancando os espertos
mas na verdade, a tristeza se escorava em mim
e a esperança não passava de um requinte
a escuridão, no entanto, não me amedrontava quando
libertava os fantasmas dela
era o seu medo que roia o pé da nossa cama
o estrado, colchão, cobertor, não o meu
eu dizia: é que a escuridão não desampara as
pessoas no meio da madrugada
e ela: você não tem medo de ser devorado
já reparou como a solidão tem caninos afiados?
eu ficava quieto
sabia como as coisas funcionam
a mulher que queira devorar um cara como eu
sempre agirá feito uma cadela
mas não serei eu a providenciar coleiras
quero dizer, que ela fosse procurar carne onde achasse melhor
ou então era mais prático meu coração ser um osso

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