A garota que foi tua um dia, que te beijou antes de vocês entrarem no carro vermelho e se embrenharem, ela que você não tem certeza se soube que você só continuou a ser um maldito poeta quando encontrou um modo eficiente de acender fogueiras em seus olhos, ela que te mostrou que a intimidade é a única maneira de se produzir esperança e por isso a distância de hoje é o outro nome da morte, ela que já fez teu rosto se desintegrar em lágrimas, ela com quem você tantas vezes gastou seu parco dinheiro comprando caixinhas de bom-bons como eles fossem o band-aid capaz de conter a hemorragia de cada melodia desafinada, não, isso não é um ajuste de contas, mas você de algum modo foi assassinado, e apesar de tal tragédia a garota que foi tua um dia é uma dessas pessoas que compensam a vida, por isso se você não a evoca, ela também morre, então a chame, conclame, ela tem que saber que você não é um trapaceiro ou um mau-caráter, será que ela sabe que você está completamente desacorsoado, que abandonou mais do que a música, será que ela não desconfiou quanto podia aniquilar um pisciano como você, é, vai chegar o dia em que você só terá notícias dela pelo facebook, pelo youtube, a câmera dando close naqueles dentões ambiciosos, a garota que foi tua um dia, com quem você cantava igual Joan Baez e Dylan, a boca dela entrando na tua voz, será que ela sabe quanto você lamenta o amor de vocês não ter durado sequer o tempo de um sabonete, será que ela sabe que você é outra coisa, não um nerd ou um galãzinho dando uma de artista, será que ela sabe que você simplesmente é um desses caras que faz o que tem que ser feito, essa garota que foi tua e você levou numa porção de lugares especiais e também ao impraticável de onde vem, mostrando as pessoas pra quem tem virado as costas há anos, a garota que foi tua, em quem você um dia enxergou o extraordinário sentido humano mas agora tudo o que vê é uma astúcia tesuda, montada, então, cadê a singelaza da tua pequena, ela não tá nem aí se tuas vísceras de poeta carnívoro não precisam de férias, você vive agora piscando na tentativa de reter o choro, você vive tendo que passar pomada analgésica no peito constipado, e há essa qualidade aterradora no ar, essa adjetivação constante relacionada a dor invisível que quando chega o fim da madrugada ainda não acabou de te esmagar, e vem dela, de quem você beijou as omoplatas numa noite triste, enquanto ela colhia as próprias lágrimas com as mãos momentos antes de vocês se darem adeus pra sempre, a garota que foi tua um dia, por ela agora você perde a madrugada lendo um a um os 233 e-mails que trocaram, tentando entender em qual deles escreveu a frase que botou tudo a perder, agora que é tarde demais, agora que os olhos dela mudaram de cor sem que você compreendesse por quais deletérios foi deixado pra trás.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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ei, como vc sabe tudo isso sobre mim?
ResponderExcluirhahahaha
abraços, maninho.
linhares
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirbasta ir ao kappelle pub para se estar apto a esse tipo de adivinhação, linhares. é ir lá e batata! forte abraço, mano. lepre.
ResponderExcluirtambém serão__
ResponderExcluirnoites e dias entre duas cidades tamanha ilusão/
de nada serve/
mesmo que o telefone toque neste instante/
nós já temos um passado ouvi um dia/
o ataque do presente contra o restante do tempo foi um filme que perdi/
e mesmo assim ainda te quero
isso não se pontua entre duas cidades o telefone toca e nesse instante
tamanha ilusão cresce/
e uma espécie de presente arranca o restante do tempo
esse filme que quero ver/
e sinto que mais e mais te quero/
um ponto fugindo do fim/
tereza prado
ok..eu confesso...
ResponderExcluireu consumo caixas de bombons e similares como se fossem band-aids...
Passei pra avisar que postei lá a foto que te falei naquela noite no Parangolé!
bjos
belo poema tereza... "um ponto fugindo do fim". bj.
ResponderExcluirlegal sara... é uma foto fodona. massa. obrigado por me lembrar. bj.
lepre.