terça-feira, 18 de agosto de 2009

barras antipânico e barrinhas de cereal


Ótima companhia para urubus

Laçaram-me no pasto mesmo, sem frescura. Derrubaram-me. Amarraram minhas quatro patas na altura dos tendões. A corda, com alguém segurando, ficou bem esticadinha, envolvendo uma árvore ou algo resistente, pra me impedir de levantar. Um deles se encarregou da minha cabeça. Segurou meus chifres firmemente e torceu o pescoço na direção oposta àquela em que estava deitado meu corpo. Assim, desse modo simples, facilmente fiquei imobilizado. A partir daí não foi preciso muito pra que finalizassem a tarefa. Bastou um canivetinho de bolso. O mais impiedoso dos três pegou com a mão e apoiou meu saco, esticando bem, sentindo as bolotas, empurrou-as pra cima do escroto. E com cortes sutis, porém nada cirúrgicos, abriu duas portinhas. Eles não se desesperaram nem nada no momento em que lutei, e lutei com todas minhas forças, para vencê-los, afinal boi é boi não é homem, e por isso não pensa, e, por consequência, não pode vencer o homem. E tampouco pode entender o porquê de uma ação dessas. De fato, nada podia justificar tal crueldade, ao menos não do meu ponto de vista, nem mesmo suas razões socioeconômicas e políticas. De mim escorreu um pouco de água e, por fim, as bolas, que foram o motivo de tal esforço. Diziam os caubóis, enquanto riam, que o fato de estar vazando muita água pelas portinhas era sinal de que eu não prestava para reprodução e, por isso mesmo, mais do que qualquer outro, tinha merecido o que fora feito contra minha integridade. Depois espirraram na ferida um pouco daquele produto roxo e ardido, aquele que se passa em ferimento de cavalo, suíno, carneiro, etc. O caubói do canivetinho o lavou antes de guardá-lo no bolso. E pronto, estava feito. Depois do serviço eles ficaram receosos de me soltar, primeiro desamarraram minhas patas, depois soltaram a cabeça. Até tentei esbravejar, mas estava tão intensamente tonto e dolorido, que pra levantar foi como levantasse o peso de uma banheira com cimento dentro. Já em pé andei muito lentamente, as patas traseiras abertas, pisando quase que em ovos (sem piadinhas, por favor) na ponta dos cascos. Parecia estar cagado, com o orgulho ferido. Os caubóis riam. Diziam que desde então eu estava mais pra vaca que pra boi. Aí, às gargalhadas, me chamaram de boiola. Eu fiquei no pasto, né, fazer o quê? Eles voltaram pra casa, acenderam o fogo da churrasqueira e se deliciaram com os dois testículos que há pouco me tinham roubado. Ser castrado foi só o começo. Em seguida emagreci, sofri um tipo de depressão pós-operatória, mas logo voltei a engordar. E quando já estava bem gordinho, eles voltaram a se interessar por mim. Daí foi um piscar de olhos pra me tirarem o couro, a carne, os ossos, o resto da honra, as cartilagens, o diabo. Hoje sou uma ótima companhia pra urubus.

4 comentários:

  1. caramba. sincrinicidade é isso aí. acabei de escrever um texto sobre vacas. rsrsrsrsrsrs

    B-Juju

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  2. lembro-me de ter visto vc lendo este conto no wonka meados de anos atrás. na ocasião tinha gostado muito!

    continuo gostando. valeu, leprê!

    abraço,
    linhares.

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  3. pois é, juju. eu vi tua vaca lá. belo, tristinho. bjs.

    pode crê, linhares. mas não é um boi só, é uma boiada, rs. abração.

    lepre.

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  4. foto maneira meu amigo...

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