segunda-feira, 31 de agosto de 2009

manual de putz sem pesares

Impregnados de ogivas

Eles têm a saúde do ferro. Comem business e presunto no café da manhã. Não adianta que você tenha ódio. Para eles sempre será inócuo, eles cagam para você. Não adianta que você tenha raiva, a raiva é a maior estupidez que alguém pode. Ninguém vai se indignar, não se iluda. Acostume-se, eles sempre vão ser assim, anciões, acéfalos, mandando em você, dizendo o que você pode e não. Você foi criado por (lindas?) lendas. Sim, eles dizem ser trabalhadores legais. Se comparam aos bichos mansos. São aqueles que acham que compuseram as melhores histórias ao longo da História. Os que afirmam ter construído essa megacidade de ecos megaton. Eles sorriem para você como pássaros cordiais, pombinhas da paz, cercados por blindex e carterinhas do clube. São os inventores dos truques, os donos das trupes, são os trapezistas da economia local. Eles e seus anéis. Quem sabe tenham em mãos a recomendação expressa e pessoal de outro ilustríssimo Senhor Algumacoisa. São os mesmos que estão pasmados, têm olhos esbugalhados, lábios bem contornados de desconfiança. Ontem jantaram às 21 horas em ponto, ao lado do novo investidor. E inventaram apelidos legais para novos amigos. E têm um carguinho comissionado em alguma espelunca. E ajudam os que vão legislar a favor de seus cavalos lisos e sóbrios. Mas são sombrios, enormes homens que já quebraram enormes pedras e hoje têm mãos como as de Hércules. Para o coração têm átrios e ventrículos de durex e elástico quando pulsam segundas-feiras. É verdade que não entendem como puderam a vida toda atravessar rostos sem encanto e guardar tantos ossos na gaveta quando é já passada a meia-noite. Conhecem os que picam, sabem quem são os donos das ratoeiras, quem deve virar pó, quem eles vão descamar. Têm as pomadas certas para aliviar o rabo. E seguem aquecendo motores. E se escondem em pudores para esmola. Eles chovem, trovejam e não entendem que não seja nunca meio-dia. São o tchau rápido, o oi réptil, o paladar da perda engolida à vácuo. São os bichos-trauma comendo ordenações, com olores de cédulas. Querem o sabão na boca suja dos outros. Suas paixões se engendram na atrocidade dos dias. Quem lhes dá calçadas sem buracos? Querem seus parentes longe daqueles que provocam holocaustos. Engolem o tempo como se engolissem espadas com molho de tomate. Ninguém os precaveu de seus topetes. E eles contratam estagiárias. Dinamitam, fundem miolos, deixam sequelas e escondem o corpo débil. Estão impregnados de ogivas e sensacionalismo. E paranóia. Protegem com saquinhos de plástico sua ecologia. Seus perfeitos logotipos apodrecem e continuam idênticos. Sabem que nada é tão ameno quanto os ingênuos. Mas não se sabe exatamente que cara eles têm. Não se sabe que tora aturam dura na memória. Você pode até achar que os reconhece nas ruas, nos jornais, na net. Mas sua gangue ascende de gentes invisíveis, invioláveis, involuntárias até. Eles barbarizam sem correr riscos. Jamais aterrissam. Não falam demais, mas enxergam como telescópios. E ouvem mesmo o sussurro de um peixe de águas fundas. Eles conhecem jogos de ilusão. Estão nos centros, mas à margem das margens plácidas. Sabem que a ambição mora dentro do nervo. E a paranóia a cavar ciclones, ensurdecendo, tumultuando o que não acaba quando já acabou, os endividará.

2 comentários: