quarta-feira, 23 de setembro de 2009

manual de putz sem pesares

Nem morto - desenho do bróder Carlos Carah

Deglutidores de Dores

Nosso nome deveria ser o suficiente para esclarecer: Deglutidores de Dores. Uma gangue? Revolucionários? Não é bem o que somos. Deixe-me dizer mais ou menos como agimos e talvez as coisas fiquem um pouco menos turvas. Vamos lá. Para começar, chutamos o cu da violência enquanto ela nos chupava o pescoço. Então arrancamos com seringa seus miolos enlameados depois de com dez milhares de tiros termos botado abaixo sua vidraça de barro um dia erguida pelo pecado original. Matamos a violência. Bebemos o sangue, bebemos o gozo da violência feito quem aceita doses de seus prazeres sadomasoquistas. Milagrosos? Não, também não fizemos milagres. Fizemos um tour desvendando a rota dos genes da violência. Lixamos as telhas das cascas de seus furúnculos. Britamos as pedras de seu cancro. Tivemos a fome de sua fome. Não ignoramos seus guetos. Nem fomos os porta-estandartes de suas falsificadas utopias. Pisamos na violência nosso próprio veneno, que inchou. Depois enfiamos o nariz em seus fios desencapados. Eletrocutamo-nos junto com ela. E abrimos as feridas do mesmo modo que abríssemos o zíper de uma bolsa em que ela carregasse perfume para não cheirar a bicho, pensando que se distanciava de nós. Tínhamos espelhos, côncavos, convexos, para refletir nossas solidões nas solidões da violência. Ela era milionária? Exibia dores impagáveis? Mostrenga morfética? Então negociamos com ela a preço de uma nota de dinheiro baixo e mercadorias falsificadas em sua própria promessa. Negócios, apenas negócios. Vai violência, ordenamos, edifica tua igreja de assassinos em série com a missa lida na carne pulsante de teus crentes. E assim arrecadamos muito, incontáveis moedas, mas não o bastante. Então miramos a violência, lanças que só sossegam ao conhecer o outro lado de quem está em sua frente. E sussurramos: Também somos canibais, bruxos residem em nossa medula e no eclipse cheio de mácula de nossos olhos gotejantes. Violência, ah, violência... Quebramos o vaso da fina porcelana do amor em sua cabeça, assim demos liberdade total às flores do mal. Depois nos empenhamos na deglutição. E agora que, depois desses anos, conhecemos a paz, procuramos não nos esquecer de quanto é amarga a papa do pão que o Diabo amassou.

2 comentários:

  1. Grande Lepre!
    Pra onde o vento te levou?
    Saudades!
    Quando puder visite: portfoliodepensamentos.blogspot.com
    Bjo

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  2. e aí, iza. saudade também.
    parabéns pelo blog. fui lá.
    gostei de ver você escrevendo um monte.
    bj. lepre.

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