quinta-feira, 3 de setembro de 2009

notas para um livro bonito

na casa da minha mãe quando cai a
noite a televisão é insignificante diante dos
contos de Andersen que leio para meus sobrinhos
na casa da minha mãe as visitas só
não fazem cócegas na barriga dos
cães porque não há cães
vê-se abacate, mimosa, mamão e
outras luas apodrecendo na fruteira
damasco e castanhas nos potes pintados à
mão por essa senhorinha sem pressas
na casa da minha mãe lava a
louça ela mesma e os pratos
assobiam junto com suas unhas que
fazem isso por gratidão de anfitriãs
não por responsabilidade de funcionária
na casa da minha mãe ela dá
banho nos netos com mãos de água que
envelhecem 30 anos e depois não
voltam totalmente ao normal
uma das crianças tosse e o termômetro é
todo ele a casa da minha mãe
na sala do carinho se espera a Páscoa porque
ninguém desistiu quando foi tempo
molha-se as plantas cantarolando “cheguei na
beira do porto / onde as ondas se espáia
a tua saudade corta / feito aço de naváia” na casa
minha mãe veste camisola, roupão de
flanela e calça pantufas, uma ambulância passa
ao longe, abafada pela chuva
tomamos chá, um antídoto contra gripe
conferimos portas e janelas
e se a noite contém musgos, os
olhos cansados da minha mãe também

3 comentários:

  1. q coisinha mais sublime... ei?!?!? passa o endereço ai da casa da tua mãe que eu aqui to precisando de uma...

    juca

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  2. obrigado, iza.
    jujujuca... esse endereço é dentro do coração de cada um.
    bjs. lepre.

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