sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o pão brutal de ontem

Eu a convidei para dançar

E você, queria saber por que ela estava tão triste?
É.
Você perguntou?
Perguntei.
Perguntou?
Perguntei, claro... claro que perguntei... por quê, você duvida?
Não.
Você acha que eu não perguntei?
Não... não... claro que não... eu sei, você não mentiria a respeito de algo tão sério.
Não mentiria mesmo.
Eu sei... eu...
Eu não mentiria.
Por que você está tão triste?
O quê?
Por que você está tão triste?
...
Foi assim que você formulou a pergunta?
...
Hein...?, Por que você está tão...
Não sei... não sei se ‘formulei’ assim.
Não sabe?
Mas eu perguntei... juro que perguntei... não sei, não lembro exatamente com quais palavras... mas eu perguntei... eu estava preocupada... queria saber por que ela estava daquele jeito.
Mas você já sabia.
Sabia o quê?, eu não sabia... eu só desconfiava.
Desconfiava o porquê dela se sentir péssima daquele jeito.
Não... não... eu desconfiava que ela não estava bem, mas não desconfiava do porquê... ela, afinal de contas, nem estava se sentindo péssima.
Então quer dizer que ela não estava péssima?
Não.
Então por que você achou necessário fazer a pergunta, digo, por que você achou que deveria perguntar a respeito da tristeza dela?
Porque me pareceu que ela estava triste.
Mas você sequer desconfiava do porquê dela estar triste.
É.
E ela estava, digo, realmente...?
O quê?
Triste.
Parecia... sim... parecia que ela estava triste... mas não que ela estava péssima.
Entendi.
...
Aí você a convidou para bailar?
Para dançar.
Como?
Eu a convidei para dançar, não para...
Certo.
...
Você a convidou para dançar... e depois?
Depois a gente dançou.
Quantas músicas?
Quantas músicas?
Quantas músicas?
Não sei... pelo amor de Deus, a senhora está de que lado, perguntando uma coisa dessas?
É para o seu bem.
Meu bem...?, como é que eu vou saber quantas músicas nós dançamos...?, não sei... várias... não dá para saber... uma atrás da outra... qual é, uma garota não pode mais tirar sua amiga para dançar?
Graças a essa mania de vocês quererem dançar o tempo inteiro, sua amiga acabou...
Eu sei... eu sei, não precisa ficar me lembrando...
Você disse “amiga”...
É, eu disse.
É assim mesmo que devo chamá-las, de amigas?
É, nós éramos amigas, só isso, por quê?
Vocês eram amigas há muito tempo?
Não...
...
Tínhamos nos conhecido há menos de uma semana.
Quando?
Terça-feira.
Onde?
No James.
...
...
Curioso...
O que é curioso?
Foi lá que vocês começaram com esse, digamos, baile todo?
...
Curioso...
O quê?
É atípico jovens frequentarem lugares tão dispares quanto uma boate como o James e o lugar onde vocês foram achadas.
A gente quis fazer uma aventura.
Sei.
É verdade.
Eu sei.
...
...
Escuta, olha, eu já disse tudo o que aconteceu três vezes, poxa vida, eu não tenho culpa de nada, por que a senhora não me deixa ir embora, meus pais estão muito preocupados.
Desculpe, mas é a rotina, querida, precisamos apurar o máximo de detalhes possíveis.
Eu sei, mas já contei tudo o que aconteceu.
Acredito.
É verdade.
Eu sei.
Então...
Então me conte mais, vamos até o fim.
Eu não sei qual é a droga do fim... já falei, o pai dela tem uma chácara pra lá de São José dos Pinhais... aí... foi isso... ela disse “Que tal se a gente fosse passar o fim de semana lá...?”
Ela a convidou para o final de semana na chácara dos pais?
Convidou.
E os pais dela estariam lá?
Não.
Por que não?
Como é que vou saber?, eu não sei... não fiquei perguntando essas coisas... eu só fui com ela... só isso...
E aí... vocês chegaram a ir até a chácara?
Não.
Sei.
A gente saiu meio tarde de Curitiba... ela não queria pegar o trânsito de sexta-feira, o rush é uma droga na Avenida das Torres.
Vocês saíram de Curitiba a que horas?
Acho que era mais ou menos dez da noite.
Vocês saíram por volta de 22 horas?
É... acho que foi isso.
Por quê?
Por causa do trans...
Além do trânsito, por qual outro motivo?
Ela foi me buscar em casa...
Você mora sozinha?
Moro.
Em que bairro?
Moro no centro.
Certo... ela foi buscá-la no centro.
Daí eu perguntei se ela queria subir no apartamento, queria mostrar para ela minhas telas.
Você pinta?
...
Eu sei que a pergunta é bastante óbvia, mas é necessário que você responda.
...
Você pinta?
Pinto.
Profissionalmente?
Mais ou menos.
Ok.
...
E então ela subiu?
Ela subiu e a gente ficou conversando.
Beberam algo alcoólico?
...
Pode falar.
...
...
Beberam o quê?
Vodca.
E...
...
Usaram algo mais?
...
Diga... é muito importante que você conte tudo.
Sim.
O quê...?, o que vocês usaram?
A gente fumou um baseado.
E depois, dirigiram-se para Pinhais?
São José dos Pinhais.
Desculpe... isso mesmo... São José dos Pinhais, não Pinhais... são lugares diferentes, não é mesmo?
É.
Então, depois do apartamento vocês se dirigiram para lá...
Foi.
E por que não foram para chácara dos pais dela?
Estávamos muito animadas... ela falou “Vou te levar num lugar sensacional, tem que ser agora, senão vai ficar tarde”, “Que lugar é esse?”, eu quis saber, “Surpresa, meu amor”... ela me chamou de meu amor, isso me tranquilizou... a gente estava dividindo uma garrafinha de Smirnoff Ice que tínhamos comprado no posto...
Qual posto?
Não sei... não lembro.
Foi algum posto da Avenida das Torres?
Foi.
No começo da Avenida ou mais próximo de São José dos Pinhais?
Não lembro bem... acho que mais no começo... a gente tinha acabado de entrar, se não me engano, na Avenida.
Certo... prossiga... vocês resolveram ir direto ao baile.
Foi...
...
...
E aí...
Aí eu disse para ela que estava com um pouco de medo... mas ela falou pra eu relaxar, que ela já tinha ido lá uma vez com os primos dela, que era um lugar bem tranqüilo, e que eu ia adorar... então, a gente foi.
A que horas vocês chegaram no lugar?
Onze... onze e quinze... acho...
Chegaram ao local entre 23 e 23:15... e então?
Então... era sensacional... eu nunca tinha visto nada igual... eles dançavam tanto... aquela gente tão simples... eu perguntei “Que música é essa?”, “Vanerão”, ela disse... eles se divertiam tanto dançando aquele vanerão, arrastando os pés... aos poucos começaram a tirar a gente para dançar... dançamos com todas as pessoas que nos convidaram.
Vocês estavam lá fazia quanto tempo até o episódio.
Ah... a gente se divertiu umas boas duas horas... talvez... até que...
...
...
Continue.
...
Continue, por favor.
Veio aquele cara... ele convidou ela para dançar... ela foi meio contrariada, porque o cara estava bêbado demais... ela dançou um pouco só com ele, aí voltou para mesa... eu tinha ido buscar uma cerveja no balcão... o cara foi atrás dela e arrastou ela com violência para o meio do salão... de repente eu vi uma confusão... ela tentava se desvencilhar, mas não conseguia, o homem era forte... ele começou a estapear ela... umas pessoas tentavam separar, mas ninguém conseguia... ele segurou com tanta força que chegou a arrancar o cabelo dela... eu corri para o meio do salão e dei uma garrafada na cabeça dele... mas aí ele puxou uma faca e começou a golpear a Fernanda... ele parecia um demônio... eu tendei bater nele com uma cadeira, mas não fez nem cócegas... foi um horror... alguém deu um tiro para o alto... e o salão foi ficando completamente vazio... o homem fugiu... ficamos só nós duas ali no chão ensanguentado, nem sei por quanto tempo... um silêncio horroroso... até que vocês chegaram.

2 comentários:

  1. Do caralho!!!!..ave!!!

    PS: Desculpe o palavrão de novo..rsrs.

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  2. são só os meus continhos, jaque, haha, as estórias desse filho da mão, cê sabe, né? bj. lepre.

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