sábado, 26 de setembro de 2009

o pão brutal de ontem

Oferenda
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Acorda após quatro horas de sono mal-dormido. Abre as cortinas. O sol pinica as retinas. Esfrega os olhos com a parte de trás dos dedos. No prédio em frente, só de calcinha, a menina fuma. É um possível cigarro de maconha. Agora estão novamente juntos, só ele e ela, em sua cumplicidade de 12º andar. A cada quinze dias, ele é presenteado com essa benção. Parece que finalmente alguém está inclinado a atender suas preces. Pode apostar que ela está se sentindo leve e solta, os pais foram passar o fim de semana em Caiobá (os pais têm o maior tipo de quem passa finais de semana em Caiobá). De repente, pânico, a guria some. Súbito, alívio, foram alguns minutos apenas, já está de volta. Deduz que ela tenha ido até a cozinha, tomar algum suco. Em instantes sumirá outra vez, possivelmente para buscar no banheiro os potes. É o momento dos cremes, que maravilha, o sábado está salvo, sábado odor baunilha. Ela se alisa, que delicadeza. Agora uma siririca, como é linda, e calma. Para quem, meu Deus, para quem essa siririquinha? Para quem se não para ele? Então ela fuma mais um cigarro, dessa vez Free. Seu charme não condiz com a idade. A camiseta que ela veste, sem sutiã, essa sim cai feito uma luva, combina, ah a jovialidade. Alegria, alegria para quem topar com ela por aí. Veste uma calça de moletom, mas com calcinha, droga. Imagine essa loirinha sem calcinha, um pouco suada, o creme ainda vivo sendo respirado pelos poros. Deus o perdoe, mas olhar para seres que nem esse é um método inteligente e eficaz de especulação existencial, a vida eterna é dele, e ele poderia arder infinitamente na fogueira desse ventre amarelinho. Essa guria é o que faz com que ele esqueça por algum tempo a sordidez do mundo, não tem película em Hollywood que bata essa luz, não mesmo. Olhar assim para essa delícia da criação humana em parceria, com certeza mais que apropriada, com o divino, não, não pode ser pecado. Agora é sua vez de ir para o banheiro. Ele escova os dentes, mas a Pri (não sabe se é esse o nome dela), é o apelido que lhe dá, Pri (de princesa), ela não sai de sua cabeça. Então ele encara sua patética figura no espelho e, lento, grave, diz: “Pri, hoje o meu dia será uma só oferenda a você.”

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