quinta-feira, 18 de junho de 2009

balbucios de blues

Na foto está o poeta-cantor Leonard Cohen
.
caso você possa imaginar os
crepúsculos Paris/Texas ao longo das
estradas que voltam para o sul.
caso você já tenha posto os olhos numa
garota com os cabelos encaracolados ao vento.
passado as mãos nessas coxas, depois
ligado o rádio, olhado pelo retrovisor e
pensado “ok, Kurt Cobain, tudo vai
ficar tranquilo daqui para frente.”
isso, claro, se você já foi capaz de
estudar minimamente o esqueleto do
fogo, as entranhas do pranto, a ressaca das
tintas de Modigliani.
sei lá, mas talvez você seja capaz de
ir fundo, encarando um búfalo de frente.
talvez você se apiede de
recém nascidos, perguntando-se
“o que afinal eles vieram fazer aqui?”
é provável que você tenha desejado amparar
Silvia Plath no chão da cozinha.
é isso, se você perde tempo em fliperamas, em
restaurantes fest food, em cinemas privê.
é claro, você já deve ter arranjado uma
tremenda confusão por se sentir deslocado nos
salões do Graciosa Country Club, seja como for
como sócio ou como garçom num baile de debutantes.
sei lá, talvez você deseje ser invencível como
Jean Claude Van Dame, movimentando-se feito uma
libélula na Sessão da Tarde, derrubando
bananeiras com as canelas carcomidas.
é bem provável que você esteja ligado
ao que me refiro.
então é possível que você esteja ansioso para
conhecer essa estória toda.
ou quem sabe você está
pouco se fudendo, gargalhando
feito um crítico de cadernos literários
achando tudo uma tremenda imbecilidade.
o lance é que não existe método nem
requinte por essas bandas.
a vulgaridade desse texto é feita de
parágrafos apunhalados.
pânico-amor, beautiful loser amor.
estrelinhas apagando e acendendo em
carrossel dentro do crânio.
acho que você sacou o quanto isso aqui é inflamável.
reparou no quanto os pulsos estão
boquiabertos, os supercílios
dilatados que nem um hematoma.
você já deve ter manjado as
pálpebras batendo asas feito
passarinhos que colidem e vão dando
cambalhotas ladeira abaixo.
é possível que eu tenha prometido não
machucar ninguém, e não me estragar.
mas alguém está me cutucando, alguém veio e me
meteu um pescoção.
e assim chegamos a tal ponto.
quem suportar concorre a uma rifa.
eu já banquei o idiota que
passa horas ensaiando o que
falar e quando chega a hora manda uma
merda do tipo “por acaso a sandália não está um
pouco grande no teu pé?”, ou então
“na minha opinião as músicas do
Chico Buarque com eu lírico feminino só
funcionam para mulheres que
não atingem o orgasmo.”
místico? talvez.
e ainda assim demasiado urbano.
é preciso esclarecer algo
desde já: visionários gostam de
becos, ruelas e apartamentos encardidos.
eu não.
.
*dedico essa postagem ao meu amigo, poeta e tradutor do Cohen, Fernando Koproski.

3 comentários:

  1. Eu já estava aqui, arrepiada, dizendo: sim, sim. E voce ainda dedica a postagem ao fernando. Perfeito!
    Grüsse!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  3. eia maria. é que o fernando é um sujeito e tanto. bj. lepre.

    ResponderExcluir